quinta-feira, janeiro 29, 2004

VEM!


Vem!
Vem esconder-te
no escuro
dos meus olhos

Vem deitar-te
nas dunas
dos meus seios

Vem lamber
o sal
do meu ventre

Vem afogar-te
no aperto
dos meus braços

...Cerro os olhos
por um instante
E vejo aonde estás

Errante
a caminhar
para mim!

TE QUERO MAR


NÃO TE PEÇO A QUIETUDE
RIBEIRINHA
TRANQÜILA
MANSA
ESVERDEADA
DA DOCE ÁGUA PARADA



PEÇO-TE ONDAS
PEÇO-TE SAL
PEÇO-TE EXALTADAS
ÂNSIAS
QUE SALTEM
DE ENCONTRO ÀS MINHAS



NÃO QUERO SER MARGEM
BRANQUINHA
tranqüila
PASSIVA


QUERO-TE MAR MINHA MARGEM
DE ARRIBA.
PERDIDAMENTE PERDIDA
ENSEADA.
ESCARPA
POLVILHADA
DE FÚLVEAS
GRITANTES
GAIVOTAS.


MAS VEM DE MANSO,
MARÉ BAIXA,
DEIXA QUE A ROCHA
TÃO SECA
A TI SE ABRA,
FAMINTA
DA TUA
PROCURA.


DEIXA-ME ENCONTRAR
A TUA SEDE
NA MINHA,
DEIXA ACONTECER,
FLUIR MEU SER



ATÉ TEU QUERER ENCONTRAR.

Tenho Medo de Sonhar

Meu sonho
esvaiu-se
no vento
voou
como um pensamento,
não sei
onde foi
parar.
Meu breve sonho
sorrindo
aos poucos
se foi
sumindo
não sei onde
o vou achar.
Meu sonho tão breve
ardeu
a tristeza
o varreu.


... tenho medo
de sonhar.


Eu bem canto o meu poema
de revolta e de alerta
mas os surdos não me ouvem
mas os mortos não reagem
e os obstáculos não deixam
que as ondas do eco passem!
eu bem grito o meu apelo
de justiça para todos
mas monstros devoram meus sons
e não há ninguém que venha!
e fico rouca, cansada
de cantar para tantos surdos
de lutar com tantos monstros
mas, contudo, tenho esperança
de que um dia o eco surta
e que os mortos ressuscitem!
por isso sigo, cantando
meu poema feito grito!
OS MEUS VERSOS

QUERIA DAR A MEUS VERSOS
O TOM MELANCÓLICO
DA CHUVA A CAIR NO SOLO.
QUERIA DAR-LHES TONS RUBROS
DE LABAREDAS EM NOITE NEGRA,
MAS NINGUÉM ENTENDERIA!
OS MEUS VERSOS
NÃO PASSAM DE CHORO CONTIDO,
DE LÁGRIMAS QUE NÃO VAZEI
SENÃO PARA DENTRO DE MIM,
OU EM LETRAS NO PAPEL.



Apelo ao Amor



Ai quantos desejos
De flores e de espuma
Apelam de mim matriz:
Vem desaguar em mim
Meu amor, tua foz!
Com teu braço de mar
Baila comigo, louco
No inefável balanço
Do amor se consumando,
Que ardo em desejo
O meu seio te chama
Batendo tão alto
Como voz que apela
Longe ao marinheiro:
Vem inteiro e hirto
À ria de teu cais
Meu amor! Aporta-me níveas
Flores de espuma e sal
Vem amar-me na areia,
Desfazendo a angústia
Onde derivo sozinha
Meu amor, sai da bruma
E tal sol que se desnuda
Em apaixonada alegria
Vem me tornar lua cheia
Silente no céu nua estrela
Escuta! Meu amor: Vem!
Choro de Alerta... !




Rebrilham intensas chamas
Incêndios devoram florestas
ardem
casas e aldeias
desarvoram as pessoas
ateadas

as fogueiras são
lançadas
sobre as copas
semeaduras e matas

nas sedentas serras
reacendem
as chamas atabafadas

gentes animais e plantas
perecem incineradas

baldadas
lágrimas
suores
cansaços
tantas dores
escusadas
crepitam choros
aflitos
o fumo afoga os gritos
não chegam suor e prantos
para debelar
fogos postos

ardem as nossas florestas
consomem-se as nossas esperanças
com tanto amor semeadas

lutamos ao extremo
exaustos
enquanto de longe outros
se riem dos nossos esforços

e
refastelados
se esbaldam nas piscinas



E a chuva canta!




Escuto a chuva
Neste exacto momento
Cai do céu
E eu em contento
Escrevo um poema
De Outono
Tão doce suave e terno

Canta a chuva
plof plof
À nossa terra acode
E o solo agradecido
Abre-se alegre bebendo
O líquido precioso
Que fará florir de novo
O esbraseado terreno!


Neste momento de alegria,
em que escuto enfim a chuva!
Escrevendo

Maria petronilho

"Senhor, já que a dor é nossa
e a fraqueza que ela tem
dá-nos ao menos a força
de a não mostrar a ninguém"

Fernando Pessoa


escrevendo vivo
escrevendo sonho
escrevendo vivo meu sonho
escrevendo me sei vivendo
e escondo que vivo escrevendo
mas vê-se que vivo num sonho
mas vê-se que para além do mundo
vivo a minha verdade que é sonho
e o sonho de viver
escrevendo.

BESO DE AMOR
Maria Petronilho/ VRSÃO DE ALBERTO PEYRANO


Podría envolver tu rostro
con la concavidad de mis manos...
Y aproximarte mis labios,
a tus ojos relumbrosos.

Besarlos, semicerrados,
Ir recorriendo tu cara...
Y demorarme en tu boca,
celosa, felina, hambrienta.

Sentir que pincha tu barba
con deliciosas agujas,
erectas, suaves, en mi piel,
y clamar uno por el otro,
pidiendo aproximación...

Quedarnos ciegamente envueltos
arrebatados, traviesos...

Hasta que el supremo grito
Viniese, al fin,a darnos

la libertad!
A Poesia é um fio
onde está suspenso
o meu sorriso
desde sempre
e para sempre

mesmo quando
eu era areia
e o mar se afogava
no meu colo
mesmo quando
eu era rola
de olhos de espanto
mesmo quando
eu era láparo
a correr de toca em toca
e só via mato
cerrado à volta
mesmo quando
eu era o eco
dos encerrados
mortos vivos
nas prisões das borboletas
mesmo quando
foi abril
e eu desabrochei
com os cravos
mesmo no tempo
dos lírios nos meus olhos

soa dentro de mim a balada
soa dentro de mim búzio
esse som de mistério
esse som de magia
que permanece
que fica
a pairar na música viva
que compulsivamente
escrevo.
No espelho, quando me olho,
encontro do outro lado
o teu brilho, meu amigo.
O teu braço estendido
Toca de leve o meu ombro
Responde ao meu teu sorriso
silhueta dupla encontro
no inusitado meio
que é o campo de num espelho:
o nosso ponto de encontro!
Singular Silhueta




Na angústia
espero desesperada
tua voz que me falava
de tanta coisa e de nada
tua voz em que voava
te sentia me sentia
enlevada e embalada
companheira
solitária
ainda assim
amparava
meu esforço de ser
cada dia
sonhava
teu rosto através da palavra
ia no teu sorriso
que nos meus lábios se via

Agora
sinto-me pena
sem que a mais pequena brisa
páre um segundo que seja
para erguer minha alma
para salvar minha vida!
O MEU PAÍS





O meu país é o mar,
Tão cheio de lonjura!
De sol, de águas, de ondas
Saltando de além-ternura!

De aves brancas, brancas, brancas,
De ouro polido a luzir
E risadas a explodir
Na voz pura das crianças!

Meu coração, ele o fez:
Fado,
Má sina, talvez!
Mas no olhar,
Um riso de asa,
Ou não fora
Português!
Ó SAUDADE MINHA!



Sede, amor, carinho
Levo no meu peito
Um barco de fogo
Uma nuvem rosa
Na tarde que tomba
Uma onda verde
No mar sem guarida
Andorinha mansa
Na tua janela
Uma leve brisa
Pequenina estrela
Flor abrindo ao sol
Da tua ternura
Vôo manso de ave
Coração de vela
Seguindo à deriva
Branca ao largo e solta
Ó saudade minha!

ESPELHO



E tudo é este olhar molhado e mudo

atrás do brilho do espelho
onde se quebra o olhar do mundo
há um universo
de almas ardentes
Incenso
flores e música, mar fundo


há o verdadeiro sorriso
há a mão que se estende
Amigo
há o nada qu'rer, por se ter tudo


e tudo é este olhar molhado e mudo
este sangue a pulssar intenso
este amar as utopias
Genuíno
este olhar de ver e entender tudo


esta raíz funda a florir outono
esta dádiva do interior tão claro e fluido
este ressoar indefenido
Solo de violino
que te encontra e se te dá
Se dispersando,

volátil, a Poesia nos envolvendo.

É O SONHO QUE ME LEVA!



JÁ ME VOLATILIZEI
NO ÉTER ETÉREO.

PAIRO COMO ORVALHO
PELAS ROSA CRAVOS E ERVAS

ME DISPERSO.
QUE NÃO ME FALEM
DE BARREIRAS

NEM DA INCONVENIÊNCIA
DE ME ACHAR DISPERSA
EM SUSPENSAS GOTÍCULAS
DE BREVIDADE.

NÃO CONHEÇO PAREDES
NEM TELHADOS.
PAIRO INDISTINTA

ONDE A NUVEM ME SEMEIA
LARANJEIRA, CEREJEIRA
NÃO CONHEÇO AS CORES

MAS OS AROMAS ESPALHADOS
QUE A VIDA ESPELHA.
NO AR VAMOS
DO AR SOMOS

ESTAMOS TÃO LONGE
DA REALIDADE CRUA
E AINDA TÃO PERTO
DA TERRA NEGRA!

HOJE E SEMPRE
É O SONHO QUE ME LEVA!



SEGREDA-ME O MAR SEDUTOR



Vem, que não posso esperar....
Maré alguma contém
O impulso de te tomar
Em mim, minha amada, vem!

E rebola-se na areia
Desfazendo-se convida
A que seja sua esposa

Lhe dê no colo guarida
E a anelada espuma
Junto a meus pés se derrama....



E prosseguir sem tempo medir - Viver!

Não sou de partir
Em medidas
As fatias do tempo.

O tempo é um todo
Há que vivê-lo
Inteiro
Intenso
Apaixonadamente,

Que cada segundo
É único!

Sorte boa
Sorte má
Por nossa mão
Se fará.

De nós impede
O choro e o riso
E o estado intermédio
Feito de coisas miúdas
Que nos preenchem
E renovam
Se estivermos
De antenas alertas
Às brisas que

Cantam eternas
E Ternas
De tem-te

A escutá-las....

Perpassam leves e brandas
Como espumas cristalinas
Como raios fendem brumas


Mudam de estado, de sítio,
Transmutam-se
Transportando-nos
À perpétua eternidade.




Que este ano novo seja doce!
Deliciemo-nos comungando cada migalha,
com todos os nossos sentidos,
degustando-o, carinhosa, ciosamente!

E NÃO VENHAS PEDIR-ME
QUE NÃO TE FALE DE AMOR




Não te quero triste
Nem me quero triste
A voz do amor solta se ergue
O meu sonho te procura e segue
Certo no tempo incerto
Incessantemente ao teu encontro.


Volta vazio de teu olhar
Saudoso do teu sorriso
Do teu cheiro no meu cabelo solto
Derramado no teu peito
Ah, como é leve e inevitável seguir este fio!
Como todos os caminhos da ternura
Vão do meu para o teu coração!


Meus ouvidos enlevados
Repetem a tua voz sem conta
Mas todos os meus poros
Anseiam pelos teus dedos
E a minha boca perdeu o dom de sorrir
Pela tua inquieta....


- e não venhas pedir-me que não te fale de amor!

Cantiga de Embalar o Menino Jesus




Ó meu Jesus pequenino,
Minha estrela, enleio, encanto,
Voz da Paz e da doçura
Embalo-te no meio peito
De mãe, Maria, calando
No peito, tanta amargura!
É Natal, mas fria a rua
Onde o desamparo reina
Embala-nos Tu, na esperança
De que haja amor nesta festa!
Dorme, dorme, meu menino,
Meu Jesus tão pequenino
Que está chegando a hora
De nos valeres, porquanto
A terra explode em guerra!
Dorme, Jesus, entretanto
Em meu colo te acalento
Que sou mãe e sou Maria!
Nana, meu Menino em espera!

ANÚNCIO DE UM PEDÓFILO


Compra-se uma criança
Que seja bonita e pura.
O sexo, não interessa,
Se bem que a mesma sirva
Para ser usada na cama.

Compensarei bem os pais!

Sou abastado, doutor,
Sou padre e professor.
Será muito adestrada
Na arte de sofrer calada.
E a vós, que morreis de cansaço
Vos livro de um embaraço.
Que a mim me reconforte
A volúpia de vampiro:

Quero a vida de teu filho!
O Poeta Palhaço


Poeta, conto-te um caso
Que conheço bem de perto:
Era uma vez um palhaço
Pobre e roto, caricato
De narizinho redondo
De um carmesim esfolado.
Entrava em cena quando
Nos bastidores do circo
Se maquilhava um outro
Que usava fato bordado
Riso pintado no rosto
Chapéu como o de Tartufo
Cantava em voz de contralto...

O palhaço de que falo
Voava em cada salto
Como se o levasse um sonho
Não se ria no entanto
E ficava sempre mudo.
Quando se achava no escuro,
Ficava vazio o circo,
Encolhia-se num canto
Abria a voz de seu pranto
E sozinho, libertado,
Tirava um papel do bolso
E, com o dedo lambuzado,
No suor do próprio rosto,
Ia escrevendo, escrevendo
Em poemas, seu calvário
De pobre palhaço risonho,
Enfim assumindo o vulto
Dessoutro sério, tristonho.

Encolhido no seu canto
Descobria enfim o choro
Do ai profundo, seu Fado
Ser poeta alistado
De peito dilacerado...

Esquecendo então ser mudo
Soava o alto carpido
Estremecido, enfim solto.
Mau grado tendo o pano
Da tenda para abafá-lo
Soava tão dolorido
Que alarmava todo o povo
Perturbando-lhe o sono

Mal o amanhecia o dia
Punha-se a varrer a areia
E ao papel que escrevera,
Usando a tinta da cara,
Em confetes o rasgava
Ia enfim lavar a cara
E de novo, pintalgava
um semblante de alegria.

Tomava assento a plateia
Entrava o palhaço em cena
... No brilho da noite, ria!


A Felicidade das Pequenas Coisas


Que felicidade
Acordar e ver a cor do céu!
Tomar um banho com sabão
Beber um café fumegando
Abrir o trinco da porta
E sair em passeio
Levando um caderno e um livro.
Sentar na esplanada da praça
A ver as crianças brincando.
Dar migalhas aos pombos na palma da mão
E ficar em sustida alegria sorrindo
Quando um pardal se afoita em sentar-se à mesa.
Que felicidade
Olhar o céu e desenhar com os olhos
Paisagens de nuvens coloridas!
Ver os barcos que levam saudades vagarosas
No azul do rio que se lança no abraço do oceano
Que bom o aroma
Dos ramos das floristas mergulhados nos baldes de zinco
Florindo as esquinas de arco-íris!
Convidando quem passa em solidário aroma,
Que bom o pão fresco na padaria
Onde se derrete a manteiga!
Que delicia inigualável a do leite das manhãs!
Entrar em casa, pisar o tapete,
E ao rodar da chave, a saudação
Dos pipilos dos pássaros contentes!
Escutar uma canção enquanto se inventa o almoço
Escutar as notícias e saber de toda a gente
Por vezes com lágrimas, por vezes com sorrisos....
E abrir uma janela de magia
Aonde o mundo se reúne em diálogo
Num ponto de encontro chamado Amizade!


Olho o circo, do círculo

Tento o equilíbrio do equilibrista
Fascinam-me as luzes que perpassam
As mentes luminosas que me cercam, me envolvem e rodeiam
Fascina-me a Arte.
Tento desajeitadamente acompanhar o gracioso ballet
Em que bailam as palavras que passam
Espanto-me com tanto talento escondido
E tanta incompetência gritando lá fora.
Dói-me a injustiça dos mass media
Dói-me haver tantas crianças sem escola
Dói-me o descompasso em que seguimos
Tentando não desabar num mar
De lágrimas

Com todas as forças, agarro-me às cordas minha guitarra
E tento contrariar a tristeza.

Se bem que reluzas e eu estremeça


Húmida vela ansiosa à tua beira
Na beira te observo
Fazendo negaças com outras
Tremendo e fingindo que nem te vejo
Ris de luz para que eu veja quanto brincas
Embora aspires que te mostre o meu desejo
Afim de me levares nu imensurável mergulho
De tua volúpia que dança
Com a minha às escondidas
Dizes tanto que me queres
E lês no meu silêncio como num livro aberto
Mas eu sufoco o suspiro dentro do peito
E agarro o coração em fuga
Que deseja o ninho de teu peito aberto
Preciso que entendas que não basta
Lançar-me contigo
Num voo delicioso
E ficar depois esquecida no fundo
Coberta de algas de esquecimento.
Bem podes brincar e rir com as ninfas,
Fazendo-me negaças, provocando-me ciúme!
Ficarei a enterrar-me caladamente na areia
Aonde te espraias e exaltas
Enterrarei comigo o constante sofrimento
Até que percebas que tomar-me é beber-te
Dissolver-me contigo num só
Como dois braços num mesmo rio
Indelevelmente; como se águas na foz.
Conhece-me e entende-me.
Fita-me e abraça-me inteiramente
De corpo e alma, indissoluvelmente.
Que enfim nosso beijo se prolongue sem tempo.
Que cada poro da nossa pele esqueça a quem pertence.
Abrigar-te-ei em mim, profundamente
Sem reservas. Aberta, livre e ansiosa
Trocando carícia por carícia, inteiramente tua
Nossas águas serão enfim só uma
No âmago de minha ria, meu delta na tua deriva.
Então faz-te tempestade em altas ondas
E arrebata-me como um barco que naufraga
Sem remissão, sem saudade do azul do céu de outrora.
Do sol que lhe escapa para sempre
Pois mergulha feliz no abismo que apetece.
Não abafes meus gritos, que não sou de silêncios.
Sou como as gaivotas que gritam enquanto sobrevoam as águas
E não temem fazer ninhos que flutuam.
Explode dentro de mim bem fundo
Deixa que o rubor de meus mamilos erectos
Se desvaneça de encontro ao teu peito
No ritmo de nossos corações descompassados.
Escuta-me então ao dizer quanto te amo
Como louca que se repete, porque fala minha alma
Do fundo de sua nudez quase inconsciente.
Fiquemos unidos num longo abraço
Numa comunhão que pacifique os nossos sentidos exaltados
Até que um sono profundo nos tome e nos refaça
Para acordarmos felizes na ventura da entrega
Na retoma da batalha inefável, mútua conquista
Em que ambos somos conquistadores conquistados
Bem podes, entretanto, dizer que me queres, com olhares de soslaio
Enquanto brincas em negaças com as outras!
Ficarei tremendo ansiosa à tua beira
Até que entendas que entregar-me significa
Dissolver-me contigo numa fusão de infinito!
SEM MAIS


SEM MAIS UM SÚBITO CLARÃO ME DEIXOU CEGA!



SEM MAIS, DESPERTARAM TODAS
AS AVES DOS CÉUS
TODAS AS CORES E ONDAS E TODAS AS ÁGUAS
E BORBOLETAS
E SOARAM AS MAIS BELAS MÚSICAS,



E MEU CORAÇÃO EMBARCOU EMBARCOU LOUCAMENTE FELIZ!



SEM MAIS O ECLIPSE FEZ-SE.



EU CEGA,

PROCURO NO OCASO QUE DEIXEI

O SILÊNCIO. AQUELE SILÊNCIO ONDE ME OUVIA

EM QUE MUDA SEGUIA

NA CAUDA




AZUL DE UMA PEQUENA ESTRELA.




Clara insônia



Cerrar as pálpebras,
senti-las cair pesadas
como no outono
as pétalas às rosas...

Mas não!
Toma conta de mim
tal inquietação
tal delírio de prosas
tal aurora de poesias
soltas brisas,

que me quedo insone
voadora peregrina
na asa
da minha própria sombra

frágil
tão frágil e tão pequena
desassossegada
clamo ao que me cerca
e me assombra
de dor humana

Ser ínfima poeira
acordada
ver tanta injustiça e cegueira
e não poder fazer nada!

quarta-feira, janeiro 28, 2004

ANDAVA O GAFANHOTO
NA SUA VIDINHA
EIS SENÃO QUANDO
AI!
CAI-LHE O CÉU EM CIMA.
O CÉU?!
QUAL!
A LÍNGUA
DE UMA LAGARTIXA
QUE HÁ MUITO O ESPREITAVA
COITADINHA
A APANHAR SOL
DESDE MANHÃZINHA.
JÁ ESTAVA A SENTIR
UM CERTO
VAGO VAZIO
LÁ NA BARRIGUINHA...
VEIO-LHE MESMO A CALHAR
O ALMOÇO
AI, SE VINHA!



... E O GAFANHOTO....
OUVIRA CONTAR, NO OVO,
QUE É ASSIM A VIDA:
O MAIOR
AO MAIS PEQUENO
ACABA COM A ALEGRIA



DEIXA-SE PAPAR CONFORMADO
COM O SEU PAPEL DE PAPADO
NA LONGA CADEIA DA VIDA


AINDA LUTA E ESTREBUCHA,
COM A SUA PATA EM SERRILHA
MAS QUÊ!
JÁ MARCHA
FRESCO E ESTALADIÇO
DELICIOSO ALMOÇO
DA SORTUD LAGARTIXA



Porquê imitar alguém,
Se feliz me dou
Tão só de ser Eu?!

Porquê imitar alguém,
Se feliz me dou
Tão só de ser Eu?!




Difícil deslindar caminhos
difícil seguir a linha do arco Íris
no meio das nuvens negras

Difícil desatar os nós
do destino que ameaça
em laças desesperadas
afogar nossas esperanças

difícil entrar em guerras
pela pacificação das almas
de mãos nuas, desarmadas




Tocasse-te e...







Uma doce melodia

Desse toque surgiria



Nossas almas uniriam

Uma canção soaria

Enlaçada ficaria

Pairando

No espaço imenso

Nesse íntimo tão nosso





Seria um alegre canto

Seria um ridente brilho



Nossos corações tinindo

Um ao outro se entregando

Tocasse-te e nasceria

Uma nova melodia

De nossos corpos e almas

Em amor se completando....








Sou a viva chama

No vento que voa

Evocando a Vida!



De novo sou flama

Viva como vela

De acesa chama.



Na vida que apela

Mantendo-me viva



3 anos pós-vida!











Sou a viva chama

No vento que voa

Evocando a Vida!



De novo sou flama

Viva como vela

De acesa chama.



Na vida que apela

Mantendo-me viva



3 anos pós-vida!









A discriminação social
Por parte do que nasceu com sorte
É um absurdo cultural.

A discriminação elitista mostra
A História
Dos deuses com pés de barro e golas de arminho

Como os cabeçudos das feiras,
Empoleirados sobre andas....

Ó gente de berço (igual ao meu)
Atina quanto é ridículo!

LAVORES

Habituei-me a tricotar
No tempo
Camisolas de aconchego
Onde acalanto
A ternura
Mesmo quando
O frio da indiferença
Parece bater à porta.
Tenho bordado
Tanto lenço
De dizer adeus amigo!
Que nunca mais vejo
Mas guardo
Na saudade do meu peito.
Tecendo amizades
Remendo
Pequenas feridas abertas
Antes que fiquem em nesgas
Os hábitos em que estendemos
No estendal
Das nossas vidas.
....Têm picos as roseiras,
As rosas, são coloridas
São macias e vistosas,
Requerem lavores, cautelas
As flores
Para manter-se belas!



ENCONTREI-TE, SAUDADE!


Adejam as tuas asas

Sobre as pétalas caídas

De minha rosa corola

Que aos poucos estiola.



Caíram quando tu eras

Uma águia que se avista

Qual ameaça que paira



Mas tão longe...mas tão vaga...



Agora, sinto na alma

O golpe da tua garra

E sobre mim, abatida,

Adejam as tuas asas



Translúcidas e impassíveis,

Vão-me inumando em cinzas!





dentem-se em marasmo o barco
da esperança que amanhecia
que vai cedendo
e balança
na opaca desventura

horizonte de negrura
cresce ameaça e avança

fala-se à boca pequena

aperta-nos a garganta
a garra impune
que rouba
o pão nosso
que nos falta

Vale-nos
crer ainda
mudar este mar da vida
em verde lavra
ceara
em novas ondas
de espr'ança
novos tempos
de mudança
novas marés
de ventura
Porque se alivia a alma
quando se chora,


Se no momento que passa
o pranto é a dor que fica?


O pranto é um mar sem fundo,
deserto sem fim à fim à vista.


É um anjo de asas negras
que paira por toda a vida.


Ri-se do vento e do tempo
nenhuma mordaça o cala!


No fundo da nossa alma
ergue-se em espinhos e grita.


Fogo posto que consome
em rubras dores a esperança!



Não há horizonte que baste
para o belo que procuro
essa luz atrás do escuro
a que me leva adiante
nenhum vento me detenha
que a força que me leva
esta asa branca que voa
adentro da minha alma
e que almeja só pureza,
viverá enquanto eu viva.
Sei que sou nada, sou terra,
pequena erva daninha,
meu olhar ao sol se eleva,
alta ânsia é a minha
urgente constante procura
pela paz que se adivinha
além de aonde se chega
se quer ir além ainda
Chamem-lhe Alma, Deus, Loucura!
Chamem-me doida varrida
Nada do É me interessa,
quero algo de além vida.
Não há tempo que me chegue
para o querer que procuro.
Para um luzir tão puro
no meu íntimo universo...
Quero subir, crescer, voar
além da própria beleza,
além de alguma certeza
... palavra por inventar.


Poesia Viva


a poesia
é um fio
onde está suspenso
o meu sorriso
desde sempre
e para sempre!

mesmo quando
eu era areia
e o mar se afogava
no meu colo.

Mesmo quando
eu era rola
de olhos de espanto.

Mesmo quando eu era láparo
a correr de toca em toca
e só via mato cerrado
à volta!

Mesmo quando
eu era eco
dos encerrados vivos mortos
nas prisões das borboletas.

Mesmo quando
foi Abril
e eu desabrochei com os cravos!

Mesmo no tempo
dos liláses nos meus olhos.



Soa dentro de mim,
balada.
Soa dentro de mim,
búzio,som de mistério,
esse som de magia
que permanece
que fica
a pairar na música viva
compulsiva
que sonho
que escrevo.


Com um sorrizinho nos olhos
fico.
Se tu me sorris,
com um sorrizinho
respondo
merci!
Com um sorriso me rio
Se de mim te ris,
que por última fico
logo, a rir continuo!
Bem basta o amuo
do que amanhece
já demais sisudo
e vai para o trabalho
automático
no contrabalanço
do autocarro
superlotado.
Eu cá, sorrio!

Corro por gosto!



Cachopa da beira rio
dei meu coração ao mar
sou filha da foz do Tejo
passo a vida a navegar
meu coração um veleiro
com velas de ir e voltar
peregrenino companheiro
está partido e a chorar
de si só guardo metade
onde a outra irei buscar?
num paraíso distante
Vera Cruz, hei-de chegar!
cachopa da beira rio
com saudades de abalar
e encontrar essa metade
que tanto choro a cantar
meu fado é esta tristeza
quando te irei encontrar?
só perto do meu olhar!

Cachopa da beira rio
dei meu coração ao mar
sou filha da foz do Tejo
passo a vida a navegar
meu coração um veleiro
com velas de ir e voltar
peregrenino companheiro
está partido e a chorar
de si só guardo metade
onde a outra irei buscar?
num paraíso distante
Vera Cruz, hei-de chegar!
cachopa da beira rio
com saudades de abalar
e encontrar essa metade
que tanto choro a cantar
meu fado é esta tristeza
quando te irei encontrar?
só perto do meu olhar!

AH QUEM ME DERA QUERER
O QUE TODO O MUNDO QUER!

AH QUEM ME DERA ACEITAR
O QUE TODO O MUNDO ACEITA!

MAS HÁ BORBOLETAS BRANCAS
E VERMELHAS
AVOANDO

HÁ AS VIVAS FLORES
QUE VOAM

EU QUERO APENAS
SER LIVRE
E SOBREVOAR
E CIRCULAR PELO AR....


MESMO QUE MUITO PEQUENA
QUERO SER UMA BORBOLETA!




AH QUEM ME DERA QUERER
O QUE TODO O MUNDO QUER!

AH QUEM ME DERA ACEITAR
O QUE TODO O MUNDO ACEITA!

MAS HÁ BORBOLETAS BRANCAS
E VERMELHAS
VOANDO

HÁ AS VIVAS FLORES
QUE VOAM

EU QUERO APENAS
SER LIVRE
E SOBREVOAR
E CIRCULAR PELO AR....


MESMO QUE MUITO PEQUENA
QUERO SER UMA BORBOLETA!




Hoje o céu era cinzento
Hoje o ar estava mudo.
Nem chuva nem vento
Nem aves cantando
Nem pétalas despertando


... Mas navegar é preciso


E fiz da minh' Alma onda
Com o teu olhar por vela,

Tal o céu azul abrindo,
Reencontrei o sorriso!





Bem sei que nada
é um momento
entre o ser e o não ser
mas porque a estrela
se volatiliza
suspensa
num estrito
incógnito?







A Lira e Cravo

Se deram as mãos

Fico nas nuvens

A vê-los passar

Vão a sorrir

Passeando na tarde

E eu tão sozinha

A olhar

De longe vejo

Um beijo escondido

De flor musical.

Tilinta

O riso

De felicidade

Que é verde o riso

De todo o que ama

Vermelho o sol

E as estrelas brincam

Vogando no azul





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A Lira e Cravo

Se deram as mãos

Fico nas nuvens

A vê-los passar

Vão a sorrir

Passeando na tarde

E eu tão sozinha

A olhar

De longe vejo

Um beijo escondido

De flor musical.

Tilinta

O riso

De felicidade

Que é verde o riso

De todo o que ama

Vermelho o sol

E as estrelas brincam

Vogando no azul





o oito é um número
mistério
número gémeo
dois circulos
unidos
ao
centro

Deitado, é o infinito

No meio dos outros
tem um desenho
perfeito
regular
simétrico

Figuração de mulher.

Apresenta-se de pé
altivo
maiúsculo

O que tem o oito?
quatro pares de dois,
é mágico
Vê-se logo,
basta olhá-lo

Redondo sobre redondo

olhando do alto,
é um oito
aberto,

a barra do Tejo!



O Eterno
É este momento

Este mesmo
Que aqui vivo

O momento
Em que escrevo

Se faz eterno a si mesmo

Mas agora que o disse
E que o soube

Desvendou-se
Diluiu-se

E um novo Eterno
Fez-se!

terça-feira, janeiro 27, 2004








sobrevivi vendo
resistindo com mansidão
a questão não está na violência
mas na permanente
observação
e na subtileza
costumo imaginar-me
como uma gazela na savana
espertas orelhas alertas
faro e olhos despertos
se a perseguem
da meia dúzia
de valentes saltos
para que o perseguidor
desista
a seguir deita-se
na grama
camuflada
sem folego nem,
para mais um salto...




É Março.
Por esta altura
Todo o chão é de erva tenra
Ora verde ora amarela
Tantas as flores surgindo
Do sono invernal que finda
Vestem-se árvores de noiva

Cruzam-se linhas de sombra
Sob os raminhos floridos
De encontro ao céu azul
Ai abrir-me nele qual asa!
Penetrá-lo e perder-me
Dentro da paz infinita

Como se o ar me tragasse
Me sugasse, me embebesse
Desaparecendo fosse
A sorrir, sempre mais alto
Donde pudesse ver tudo
Fundindo-se, meu irmão!

Sem outra diferença que não
Conter vosso coração
Batendo-me dentro do peito
E olhar melhor se estando
Já meio fora do mundo

É Março
Tudo renasce mas
Neste meio tempo treme
Em suspense, a paz do mundo



se sofro
por cada sonho
perdido
é porque por ele
dei tudo
voo sem fim
nem fundo
minh'asa de imensidão
alcança o infinito!
É um longo olhar
um grito
será talvez perdição
mas sonhar é meu destino
vida mesquinha,
castigo,
saio dela
digo
não!



Como cadeia sem fim me conheço
Dentro de mim me interrogo

O escuro Eu de mim
Pergunta ao meu claro Eu

De onde vim e o que sou?

O que me fez e criou?

Aonde estou e que sou?

Só sou.

Os largos caminhos estreitos
Procuro de olhos acesos

Em busca de mim
Por amor de mim

Inquieta
Pela clara certeza



Quem é esta sereia
que se afoga na água
e em terra não caminha
quem é esta mulher
que me habita
e contra mim conspira
que é esta que se dá aos outros
mas a si se nega
quem será aquela
que em mim protesta
contra a injustiça
mas se mantém escrava?
quem me fez com esta
asa de gaivota
de ninho na areia?

Onde vou que tanto caminho
no lado escuro
da terra
olhando o lado claro
da lua?

Mar berço meu
Que eras verde
No tempo
Em que eu velava,
Amparava e sorria...
Hoje és vagante cinza

E eu meiga
Guardando amarras
Na memória
Dos compassos
Em que os braços
Nus, heróicos,
Rumavam sendas aos lemes
E puxavam os velames
Se nos teus ocasos roxos
Te desvendavas em ouros.

Grita esfaimada a gaivota
Sobre a muda calmaria
Que só areia vislumbra....
Minha vela fulge ainda

Mas sozinha, desabrida.
Sopra o vento de nortada
As estrelas jazem na bruma
Nenhum farol luz na barra

Mas hei-de virar o Cabo
E hei-de marcar este dia
De Bojador desvendado!

Passei de além amargura
Nada de pior me resta,
Só posso esperar
... Ventura!

NASCI ONTEM
QUE ESPERAVAS?
QUE ROMPESSE
COM GARRAS
O VENTRE
DE MINHA MÃE?
QUE UIVASSE
INJÚRIAS
MAL OS OLHOS
ABRISSE?
VEJO A LUZ CLARA
VIVA
NÃO TRAGO DEFESAS
NÃO SEI DA MENTIRA
SORRIO E CHORO,
EIS TUDO.
AH SE ME EMBALAM
SE ME EMBALAM
SE ME CANTAM
SE DURMO

NASCI ONTEM
SEM MALDADE
ENTENDO OS BRAÇOS
APELO
E
VOU
DE COLO EM COLO
SEM CONHECER
NADA
NENHUM

NA INOCÊNCIA


MOLESTAM-ME
BATEM-ME
FALTAM-ME
QUE QUEIXAS
TERÃO DE MIM
QUE AINDA AGORA
NASCI
E DAQUI A POUCO
PARTO

DE NOVO?!


No longe, entrevejo a Ilha:
Tem no porto ancorada
Uma bela nau, que brilha
De vela desarvorada!
Mas, Cabo da Boa Esperança
Adamastor anda à solta
E é tão funda esta água!
Aceno do Cabo da Roca,
Aquele onde a terra acaba....
Hasteio um lenço bordado,
Que trago sempre comigo
Para acobertar meu choro
Debruço-me no abismo
Mas é tão longo e tão escuro
O horizonte perdido!
O sol que roda no céu
Traz-me na luz teu apelo
E a lua leva a resposta
Mas o Cruzeiro do Sul
Não se move no céu nunca!

Quero abraçar
Teu canto
De embalar
E que me tornes,
Completa lua
Enchas, fecundes
Até parecer
Não mais
Me pertencer,
Mas sim maior
Sendo teu ser
A tua diva mulher
Senhora e escrava
De teu amor
Florindo fundo
Em mim, fulgor!



Abismo
Onde me debruço
E te nego
Ai lançar-me
No ardor
Em que ardo!
Paz perdida
De mim
Que em ti se
Encontraria
Passo incerto
Que me leva
Mas recua
Deliciosa angústia
Liana estendida
Que diviso
Mas me cega
Ah lançar-me nua
Ausente de tudo
Levando comigo
Apenas e só
A coragem de
Ter-te e pertencer-te
Desvairadamente!


Arco-íris, sonharia?



Seguia eu, sonhadora

Na falda seca da duna.

Sequiosa anelava

O mar que fantasiava

De ondas, marés, espuma....

Caminhava alheada

Na rotina costumeira

Tocando a areia nua.

Ele surgiu-me do nada,

Como súbita neblina.

Abraçou a minha alma

E foi sede renascida.

Cada dia mais cerrada

A nuvem humedecia

Meus sonhos, que atraía

Remota fonte de bruma....

Sem mais, senti-me cingida

E minha aridez aspergida

Deu consigo trespassada

Pela nuvem que a roçava

... Arco-íris, sonharia?!
ENCANTO MEU
NÃO ME CANTES
PORQUE
SE EU TAMBÉM
TE CANTO
PODE QUEBRAR-SE
O ENCANTO
ONDE ME ESCUTAS
TE OIÇO

UM OUTRO CANTOU
EM TEMPO
TANTO POEMA
DE ENCANTO
EM MEU OLHAR
MEU SENTIDO
ME TROUXE TANTO
EN-CANTO
ME FEZ PERDER
O JUÍZO

E HOJE
TÃO SÓ COMIGO
PERGUNTO
ONDE ESTÁS
QUE NÃO TE VEJO,

ONDE ME ENCONTRO
QUE VOU TÃO SOLTA
SE PRESA
TÃO PRESA
NA SAUDADE
DESSE ABRAÇO
QUE QUERO MAS

ANDO ÀS CLARAS
NO ESCURO
E NÃO ME POSSO
PERDER

QUE NÃO TENHO
A MIM MESMA
NEM SEQUER
ESSE A QUEM
TE CONFESSO
AINDA E TANTO

QUERER!




momentos
de céu
breves

eternas
horas
em que perdidos
dos outros
tu e eu
tão-só
somos nossos

nos encontramos
em felizes voos



tugimos rebanhos
de brancos sonhos

minhas mãos
sobre o colo
esperam as tuas
achando-se
sozinhas
abandonadas

morrendo de saudade
nas tuas ausências


A voz do amor solta se ergue
o meu sonho te procura e segue
certo no tempo incerto
incessantemente ao teu encontro


volta vazio de teu olhar
saudoso do teu sorriso
do teu cheiro no meu cabelo solto
derramado no teu peito
ah, como é leve e inevitável seguir este fio!
como todos os caminhos da ternura
vão do meu para o teu coração!


meus ouvidos enlevados escutam a tua voz
mas todos os meus poros anseiam pelos teus dedos
e a minha boca perdeu o dom de sorrir
pela tua ansiosa...


Ouso sonegar do sol
A mim, a folha dourada
Que o teu traçado inflama
E me deixa insana a escrita

Lira minha, toca branda
Que é quase chegada a hora
De te calares, vespertina

Mas meu sangue desatina
Rubra rosa que estremece
Chão longe de secar ainda
Sonha o orvalho e treme

Mas ai, tão só a geada
Me espera além da janela
Onde o olhar se embaraça
E a face se ruboriza.....


Para te amar qual flor

Que cresce na fenda da rocha

Feliz na sua penumbra

Resguardada da inclemência

Acesa ao sol do meio-dia



Ternamente entreaberta,

Num rochedo de lonjura

Informada da procura

Ao perpassar tua asa

No ar extenso que me cerca



Ao longe ver tua vela

Que se ilumina de alvura

E eu flor na rocha presa

Conformada em ser cativa

Oculta na doce sombra!



Vendo-te, porém tão longe!

Na aba esquerda da ilha

Na saudade inusitada

De jamais ser encontrada

Mas sabendo-me perdida!


Olha-me: não me escondo!
Por amor de ti palpito
Por amor de ti sustenho
A vida que vou sofrendo.
Guarda-me, amor, no teu peito
Aninha-me no teu colo
Protege o meu desamparo.
Preciso de ti, ai quanto!
Em troca, a ti me entrego
Sem reservas, num encanto.
Sou feita de doce pranto
Sou suave como um beijo,
Sou pomba branca pousada
No peitoril da janela
Esperando... esperando...


Quero-te inteiro
De corpo e alma

Quero-te magia e poema

Quero-te lua e labareda

Quero-te afecto e luxúria

Quero-te eterno
Florindo amor

Em meu seio



Sou moçárabe mourisca
Olhos de escuro carvão
Afogo no claro brilho
De meus véus, teu coração

Em almofadas de seda
Me sento, pernas traçadas
Insidiosas que escondem
Os segredos que lá estão

Mil-e-uma fantasias
Que ao dançar denuncio
Ao emir de minha alma
Que escolhi para o serão

Minhas mãos vão ondeando
Quais fontes de meu jardim
No mudo apelo à sede
Da fonte dentro de mim!


Vazios os côncavos de tuas mãos

Esperando carícias, meus seios

Vazios, teus lábios fechados

E os meus esperando teus beijos

Vazio o silêncio ...o silêncio!

Vazio de ti, a meu lado

O lençol bordado

Que cobre o meu leito



lá fora a chuva
de inverno
tomba doce
devagar


lentos, meigos
os meus dedos
desvendam os teus segredos
dão-se os meus
a revelar


noites calmas
doces dias


primavera nos teus olhos
verão quente nos meus braços


passe o tempo
devagar



Passe o tempo devagar




lá fora a chuva
de inverno
tomba doce
devagar


lentos, meigos
os meus dedos
desvendam os teus segredos
dão-se os meus
a revelar


noites calmas
doces dias


primavera nos teus olhos
verão quente nos meus braços


passe o tempo
devagar
SEDE DE TI

De beber nos meus o brilho de teus olhos

De beber nos meus o sabor de teus beijos

De me aninhar na doçura de teus braços

Das conversas intermináveis

Que nos transportavam em meandros de sonhos

Sede de ti!

De me aconchegar no teu colo

Da certeza de ser tão tua e tu tão meu

De morrer de amor e ressuscitar no céu

Aonde eu e tu indivisos passeávamos

Por nuvens tão firmes e amplas

Quanto nos sentíamos leves plumas

Em ares de infinidade lançadas!









Beijo-te os olhos
Onde pássaros
Fizeram ninhos
Os lábios calados
Os dedos quietos

Outrora havia
Aves secretas
Trazendo mágoas nos bicos
Embebedadas de ânsias

O meu sorriso olhavas
E nos meus olhos janelas
Todos os males esquecias
Nas brasas que neles vias
Alegre, te incendiavas

Ardem ainda, as brasas,
Mas já não vens apagá-las!
Minha boca está tremendo
Em acento circunflexo
Mas em vão espero teu beijo!

Na subterrânea ternura
Meu coração jaze em cinza
Estéril vergel donde brota
Tanta flor feita lembrança

Que se evola... borboleta!







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Beijo-te os olhos
Onde pássaros
Fizeram ninhos
Os lábios calados
Os dedos quietos

Outrora havia
Aves secretas
Trazendo mágoas nos bicos
Embebedadas de ânsias

O meu sorriso olhavas
E nos meus olhos janelas
Todos os males esquecias
Nas brasas que neles vias
Alegre, te incendiavas

Ardem ainda, as brasas,
Mas já não vens apagá-las!
Minha boca está tremendo
Em acento circunflexo
Mas em vão espero teu beijo!

Na subterrânea ternura
Meu coração jaze em cinza
Estéril vergel donde brota
Tanta flor feita lembrança

Que se evola... borboleta!







EM MIM

jamais outro amor houvesse
que em meu coração pulsasse
em brandas ondas levasse
pela leda madrugada
toda a meu amor me desse
só a mim mesma deixasse
o dom que te mantivesse
em mim feliz toda a vida!









é pesadelo
sonhar
mas não
me perder
gota


em tal mar
esplêndido
belo!


nada
se queira perfeito!
perfeição
é o não-ser!


mas sonhar-me
a navegar
em teu revolto
luminoso mar...


e me quedar...





ai perder-me!


deter
teu fluxo
aceder


e vaguear


te reter
conter!
ficar


com teu cio
no meu colo!













é pesadelo
sonhar
mas não
me perder
gota


em tal mar
esplêndido
belo!


nada
se queira perfeito!
perfeição
é o não-ser!


mas sonhar-me
a navegar
em teu revolto
luminoso mar...


e me quedar...





ai perder-me!


deter
teu fluxo
aceder


e vaguear


te reter
conter!
ficar


com teu cio
no meu colo!




De olhos cerrados
te abraço
sinto-te
dentro do meu peito
onde o coração
fala mais alto
É teu o meu corpo
tremendo
ausente do teu
há tanto tempo
sempre
constante
habitas
inflamas
em loucura
todos os meus
sentimentos
pensamentos
que me habitam
na tua sombra viajam
em volutas
em lembranças
de tantos carinhos
trocados
nossos dois corpos colados
no ar meus gritos
teus ais
suspiros ternos
tão nossos
recordados
sofridos
de ausência
em chama
meu inteiro ser
te chama
volta!
meus lábios pedem aos teus
minha urgência
diz à tua
volta!
Quando fechar os meus olhos
quando cerrar os meus braços
quero a alegre certeza
de ti em mim
inteiro
e não somente
o sonho
meu louco sonho
de amar-te no vazio,
apaixonada
memória.





morro de saudade
nada há que me console
poema algum que a lave
palavra alguma que role

tanta dor de ti silente
dentro da minha clausura
vibrante seta que fura
minha alma transparente

que neste silêncio grita
ais de mim e de lonjura
que partem de mim segura

se com a tua se encontra
se aos teus abraços se lança
como fonte de água pura.



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morro de saudade
nada há que me console
poema algum que a lave
palavra alguma que role

tanta dor de ti silente
dentro da minha clausura
vibrante seta que fura
minha alma transparente

que neste silêncio grita
ais de mim e de lonjura
que partem de mim segura

se com a tua se encontra
se aos teus abraços se lança
como fonte de água pura.



DOCE REFLEXO

em doces sonhos perdida
revivo a tua presença

antiga moura encantada
num feitiço de indif'rença
que ao teu olhar se quebra
que um toque teu incendeia
em teu carinho se embala
pulsante paixão emana
meu coração arde em chama
teu reflexo, maré viva!



CANÇÃO DE NAVEGAR


Porque me terá deixado
ao partir, o meu amado,
em tristeza sem sentido?!
Tendo as saudades matado
porque é que terá ficado
solto no ar este pranto?
Meu amor vê as marés,
tem sete dores meu cais,
vem navegar-me outra vez!




O BEIJO


SONHO
SE DILUINDO
NO AR
PERFUME DE ALFAZEMA
POEMA
QUE NEM SEI CANTAR

NUVEM QUE QUE ESVAI
MOMENTO NO TEMPO

CARÍCIA
QUE PERPASSA
E SEGUE TÃO LEVE
DEIXANDO PESADA
SÓ MINHA A
SAUDADE




Dos sete mares navegante

nos quatro cantos do mundo

Em meus olhos vais colhendo

a doçura com que adoço

o teu mar sem fim nem fundo

De mim tão certo o sossego

tão constante e conhecido

inda que na noite errante

sempre serei teu abrigo

em meu colo o esquecimento

dos vendavais desse mundo!

Vagueio
Entre terra e céu
Buscando um pouso
Tal um barco
Derivando
Procura um porto

Quero um farol
Que me ilumine
O desespero

Busco uma rota
Denego a âncora


Além ventura
Pende no mastro
A minha alma
Vela arriada
Como uma asa
Que se despena

Como uma flor
Que se desfolha
Na vaga aurora

Sem divisar
Sequer a sombra
Da sua queda.





De passagem




venho falar-te da gralha
banhando-se
no fumo do teu cigarro
espanejando-se e saindo do teu cinzeiro abandonado
livre rebrilhando de negro azul qual fénix
para sair procurando seus pequenos cacos e nicos e ticos nadas
brilhos rebrilhos de azuis

usando ao inverso de ti e de mim
o mau para o bem

venho falar-te
da simples grandeza que existe na simplicidade

venho pedir-te. observa
há várias gerações que garça real pratica
na rã cirurgia genética

venho contar-te
de que tanto o gato doméstico se droga
na erva dos gatos que cresce espontânea no teu jardim
como o jaguar na trepadeira Iaga e livres prosperam
escondidos nas florestas da América do sul

enquanto os homens deixarem

em aparente contraste
venho falar-te
das renas
que escavam as neves espessas
em busca do cogumelo pintado de vermelho e branco
venho falar-te do povo sami
que vive na pré história em cadeia com a rena
e usa a sua urina para ter a ilusão que voa

tu fazes a festa do pai natal
qual de vos brinca de acreditar no quê?!

venho falar-te do lémur
embriagando-se na natureza

venho dizer-te que o pássaro do mel se alimenta mas nunca destroi a colmeia

venho pedir-te que acordes

sê és muito mais que uma besta humana
nota como todo o infinito se toca

pára e pensa!
Mãe,
De onde te veio esse sorriso
Na precaridade e no sofrimento?
Com que olhares me criavas?
Que de mim esperarias?


De onde a força que levavas
Na vida-breve, tormento?


Como pudeste prosseguir sabendo
Que nada além de maior dor te esperava,
Que nunca me criarias, como dizias,
e eu sabia que sabias?


Tanto lias... mas porque bordavas
E como Penélope tecias infinitas rendas
Por um Ulisses que não merecia as prendas


Dessas mãos imaculadas
Tão finas, de unhas cuidadas,
Mãos de menina que eras,
Que menina findarias?


Olhando o teu olhar estremeço
De orgulho e se me vejo no espelho
No meu olhar vejo o nosso


Mãe coragem, atravesso
As altas chamas do mundo
E como tu vou cantando
O Fado que, nos calhando,


Na nossa voz reconheço,
E de coragem recobro
Do pouco de ti que lembro


Vamos, na vida e na morte, sorrindo!


Para minha mãe, Alice de Jesus Gouveia Petronilho, 1932-1958



Para te dizer do enlevo

Que trago no coração

Faria de minha voz brisa

E rumor de maré calma

Cantaria no idioma

Das folhinhas que despontam

Ao calor da primavera

Riria como um riacho

Saltando de seixo em seixo

E a voz de mil passarinhos

Soaria a teus ouvidos

Junto do meu coração

Cantaria na voz livre

Das baleias e golfinhos

Divertindo se

Entre bolhas e sorrisos

Seria eu voz eterna

A cantar uma canção!


Sopro e semeio pombas




na terra cega de ira

voem pombas brancas contra

Os estrondos e as chamas



eu semeio pombas brancas

ao escuro céu numa prece:





que levem a toda a terra

pão, ternura e alegria



calem os tiros e os prantos

apaguem as fogueiras de ira



sopro e semeio pombas



no céu escuro dessa guerra

p’ ra que o dia novo traga,

numa alvorada de esperança,



todas as cores da paz



De Abraçar os Sonhos




Menina sonhadora

morrerás acreditando

que asas de anjos perpassam

altas horas, de mansinho

soprando os teus pesadelos

nas noites só solidão;

menina que te desintegras

em carinhos de ilusão;

menina de olhos vidrados

postos na imensidão;

menina porque é que caminhas

sempre no gume do abismo

entre o nada e a ingratidão?

Levas os braços abertos

mas fica tão alto o céu

quanto acerado é o chão!

Do Fim do Amor




que nenhum amor se acabe
como uma ventania
que o coração nos arranca
que a nossa mente arrasta
para o vago longe nada


que o fim de um amor seja
tão suave como a brisa
colhendo uma por uma
as folhas cor de laranja
entre-o-amor construída


Que nenhum amor se acabe
como uma chuvada que inunda
destruindo a nossa alma
deixando-a pesada de lama
sem forma nem formosura


Que o fim do amor seja
chuva que cai pinga a pinga
no fim de numa tarde morna
em que a gota no chão forma
uma nuvem que se evola


Que Amor findaria nunca?
amar é o acto de Ser
e Ser É continuar!

azul nascente




ergue-se o cisne
espreguiça as torpes asas
e pensa nas gostosas percas


desce a relva luzidia


aos solavancos chega
mas subito pára
e se queda
de puro assombro


será numa esmeralda que desço?
serão as cores de opala
os tons irisados que vejo?


pelo sim pelo não mudo,
interroga c'o pescoço
sou cisne bravo perdido
esta água não conheço


brilha de um estranho brilho


ergue as asas estremecendo
ensaiando outro voo
rumo ao poente vermelho




Na amêndoa
a doçura
das terras do sul
da neve da primavera
onde não neva


na amêndoa
a flor branca e branda
primeira
herança da arábia
prodigiosa


aroma
de amêndoa amarga
cianeto de incerteza
na saudade da lonjura

Infinitos




os astros
que pairam
no estro
se fundem
conosco
fremem
brilham
luzes tantas
intensas
e brancas
alegrias
jóias
únicas
pairam
nossas almas
se dispersam
na breve
distância
erram
perpassam
nossos elos
no infinito
que somos
SABER AMAR
É UM DOM


QUE SE DÁ
SE SE DÁ


SE SE NÃO DÁ
É UM DOM
QUE SE PERDE


SE SE PERDE
NÃO SE TEM


SE SE NÃO DÁ
NÃO SE TEM


SE NEM SE TEM
NEM SE DÁ
NÃO SE TEM


ROSÉ




ROSÉ, QUE A VIDA SÃO DOIS DIAS
JÁ PASSÁMOS TANTAS
TANTAS INJUSTIÇAS
E INCERTEZAS
CAMINHEMOS
NO LADO DA LUZ
PARA OS QUEREM LUZ
NO LADO DO SIM
PARA OS QUEREM SIM
NO LADO DO BEM
PARA OS QUEREM MAL


MAS CAMINHEMOS
Ó VIDA TÃO ALEGRE
QUE BRINCAS
NAS SIMPLES POÇAS DE CHUVA


CAMINHEMOS NO NOSSO CAMINHO
À NOSSA MANEIRA


EMBRIAGUEMO-NOS COM
DOCE ROSÉ!


o tempo que




antes
o tempo
anuncia
é benção
é primavera
risonha amizde que fica
dentro do peito acolhida
como a folhinha enrolada
no escuro gomo escondida


plantemos amor carinho
com suave atenção
aos males
alheios
e aos
nossos


sigamos de mão na mão



como que voz nós poderemos
a poesia cantar
se entre nós não soubermermos
esse verbo conjugar?!


Queria




Queria
passar do deserto
numa caravana

Queria
ir à deriva sem rota
no mar

Queria
encontar-me perdida
para me encontrar

Queria
calar a palavra
que insiste em falar

Queria
conter os soluços
no meu peito de penar

...

E pensar
Que um gesto basta
para nos consolar!

sinto-me
tão-só
centelha

como se me diluísse
não mais ser
me contivesse
tão-só
como outrora fosse
luz divina
que pairassse
que outro ser me emprestasse
e já de si tão alheia

apenas
luz se perdesse
nada do que fui
soubesse,
do que serei
me pesasse!

Hei-de Cantar!




Quero que a canção
permaneça
em meu coração
em meu verso
em meu tormento
minha desolação.
Quero que a canção
não estanque
seja para sempre
artéria a brilhar
escarlate
até que meu ser se esgote

Hei-de cantar!
ai, vou cantar!
Digam que não posso
nem devo,
deixai-os dizer!
desobedecendo fui e irei!
Hei-de continuar
cantando!!!!


mendigo carinho
c'os olhos e os lábios
mas tu não queres ver
e passas por mim
sem sequer olhar
minha alma faminta
de mão estendida
á beira da estrada
da vida

De olhos abertos




Bem podeis amordaçar-me!
Que me importa,
se estou viva
e tenho um coração que canta?
Bem podeis ir buscar cordas
e amarrar-me ainda mais,
que importa
se sou livre
e o meu espírito tem asas?
Bem podeis meter-me em masmorras,
nada importa!
Continuarei a gritar
que é meu o universo.
Bem podeis cortar-me a garganta,
nem isso importa!
À terra grande e livre
legarei meu corpo:
Morrerei de olhos abertos!


No silêncio negro




No silêncio negro da noite
Eles lutam
Passam calados, em fila,
Sofrendo.
No silêncio negro da noite
Eles escrevem
E as paredes brancas
Ficam reflectindo a ânsia
Dos corações subjugados.
No silêncio negro da Situação
Marchamos.


Na degradação total,
Passamos calados
Lutando na noite










As Pontes




Vejo o sol que amanhece no céu sereno.



A terra canta em silêncio nas margens do rio

se pontes servirem de passagem entre margens



que não transpostas a ferro e fogo

em violento desafio, pela arrogância de dizer eu venço,

eu tenho, eu mando - eu mando! - eu posso;

de nada servirão. Que caiam inteiras.



Para que as pontes entre os que não procuram o encontro?



Mero engano de que rio; mero engano por que choro

com as vítimas inocentes deste jogo

jogadas como peças no desumano desvario.



No horizonte envenenado de cinzento o sol renasce entretanto

escondido, esquecido seu ouro vivo de sempre-eterno encanto

Filha de deus menor




Quando me chamam poeta

Sorrio e penso:

... mas filha de um deus menor.

Calo o espanto

De me ver descoberta sem esforço



Por outro lado,

Se existe um Deus Menino

E tudo o que vive cresce,

É justo que Deus

Também assuma a idade

Que eu assumo quando cresço,

Para me assemelhar à imagem

Da qual o Homem foi feito

Ou que o Homem cria

No lado bom de si mesmo.



Fico no desconforto

esperando

Encontrar um braço do rio

Do conhecimento,

Um cais de onde me lance

no encontro

e me seja permitido beber um pouco



Ah ao menos um pouco,

Matar esta sede que sinto!

Das Idades




A velhice é um rompimento

Do compromisso

Entre a alma e o corpo,

Divórcio adiado.



Às vezes adormeço quieta

Na juventude tão certa...

De noite algo de transcendente acontece:

Acordo nas garras de mil anos

Que me carregam os ossos.



Enquanto os olhos lentamente despertam,

Peço encarecida aos nervos

Que me reconheçam

Me ressuscitem

Me sustenham e reunam



Geralmente me sinto menina pequena,

Como pareço.

Passo assim as largas horas brincando.

Esquecida de quanto sou breve,



Procuro

Ir aprendendo à revelia dos mestres,

Das primaveras, das chuvas.



Reconheço que é raro

Medir-me e saber-me na idade que, dizem,

Tenho

Embora seja estranho;

porque de atingi-la e vivê-la,

Em coerência com a minha poesia,

É das poucas proezas de que me orgulho.

talvez seja a primavera

que docemente te toca

te transforme

o grito em sorriso



Talvez a raiva

na tela do céu azul

se adoce

na terna brancura

de um lírio



O sol

em cada flor desabrocha

e à força da Natureza

nada há que a contenha

pois existir é essência

e nós estamos dentro dela

talvez seja a primavera

que docemente te toca

te transforma

o grito em sorriso



Talvez a raiva

na tela do céu azul

se adoce

na terna brancura

de um lírio



O sol

em cada flor desabrocha

e à força da Natureza

nada há que a contenha

pois existir é essência

e nós estamos dentro dela

Dentro de mim
Desabrocha
Uma-flor-de-amor
Oferecendo
Suas pétalas
Orvalhadas
No ignoto
Infinito
Pleno
De ausências
É tal a beleza
Que me alimenta
Como á orquídea
Que sobrevive
Lançando
No nada
Suas raízes
Suspensas!


Mulher de Corpo e Alma




para que solte a fêmea
que me habita e que procura
contigo em ti
primavera,

Não me queiras nua
toma-me absoluta
tua
inteira solta
inquieta
pensadora
criança
que ri e que chora
que ama


Não olhes mais meus olhos
Não, não olhes!
Tristes de ti por ti
Te farão triste
De tal amor, tão louco amor
Que semeaste

Em coração de fértil dar
Mas não colheste.

Lágrima solta vadia
Deixa correr
Que tanto seus caminhos sabe

A de sofrer

Deixa que sonhe e pense
Quem deveria
Nem nunca sequer ousado

Sequer nascer.


singular silhueta




Que soprem diáfanos e brancos
os ventos de mudança
que varram a tristeza sem nome
que por mim passa
que se percam no longe
nos confins
onde a esperança
houvera dar por si renascida

que se erga imensa e clara
a figura
única
de minha alma com a tua
singular
silhueta
de dádiva
cúmplice como outrora!

vai e vem...
é branca a espuma
é verde o mar.

Vai e vem...
e quando rola
a areia se evola
na água salgada
do meu mar.

Maré cheia, vem
Maré baixa, vai
o mar...

na orla,
espero descalça
o teu voltar.

Tentando reencontrar-me
percorro
um a um
todos
os caminhos antes percorridos
tantos escolhos
tantos espinhos

suponho
deveriam meus pés
acostumados
a nenhuns desvelos
incólumes percorrê-los

Mas não!
é vão pensar-se
que existam antídotos
fabricados
de sofrimentos passados

erro num ermo
eterno
mas vou
(talvez no engano)
desesperado
de vir a ver a luz
o branco nenúfar
a clara
fulgurante
mágica
verdade
de que se faz
minha ideia
ávida
de bonança.


Falta-me o tempo,
Foge-me a vida.
Queria varrê-la agora
Com a vassoura de prata
De pontas entrelaçadas,
De bicos entretecida.
Mas falta-me o tempo,
A vida...
Queria fechar os laços
Que sangram na minha alma,
Queria secar a ferida,
Queria limpar a face
De lágrimas percorrida,

Mas falta-me o tempo, foge...
Fugindo, me leva a vida.

Queria dizer a todos

Que fiz do ódio Amor

E da pancada carícia,

De fel doce mel criei

Que floresci
Os espinhos

De minha vereda

Que rejeitei
Maus caminhos

Que segui
Os meus sentidos

Que fui Eu
Somente e ainda.

Mas sinto fugir-me a vida...

Sinto o frio
Sinto a terra
Fecho os olhos
O ar me falta
Breve o sol desaparece
Uma doce nuvem paira
Sinto em terna paz minha alma
Sinto-me desvanecer

Já quase não sinto nada!


Jazz




canto
sou violino
violoncelo
sou trompete
toco a solo
minha voz voa no vento
sombra no escuro
luz ao sol
reflexo de nácar
no brilho
em que nasce
a manhã.
Vénus.
Leite.
Cidra.
Maçã perdida
perfumando
o imenso
pomar.


lágrima




escondo
o
encanto,
desvio
calada
o
pranto,
desdigo
a
cor
do riso.

fonte
tremente,
vela
no rosto
à
deriva.
rio
fluindo,
desvendo
a
raiz
de mim,
roxo lírio.

levo
o
desfeito
mar
magoado
e
exponho
o
querer
sonhado

se
em minha fonte
surgira
a
esperança
o
brilho
claro
que fora

a
ventura
o
arco íris
a
opala
o
claro resplendor
da
aurora.

Na noite de breu
só há uma estrela
mas não está no céu
a guiar minha vela...

no negrume sem fim
vou sozinha
sozinha
que essa estrela única
é minha

levo-a eu, dentro de mim...

Manhã morreste, Mãe
Manhã ficaste...
Mas renasces dada dia
Dentro de mim,
Primavera

Ligamo-nos
Como as estações.
De mim, que não findei
Teu amor floriu
E achou do mundo
Mais que as cinzas e brumas
Em que te embalou

Tu caíste a prumo
Na glória de teus dias.
Eu, frutiquei
Um elo suspenso
No incógnito

Amor que nos uniu.


pleno
e tão
sincero
se faz
o sorriso!
Ainda
que esteja
escondida
a lua
e o céu
na colcha
de névoa
que leve
anuncia
a noite
do primeiro dia
do mês
de setembro,
cante leve
o vento
nas douradas
folhas
nas frutas
maduras...
bendigo
o outono
até nós chegando.
Que bom é
vivê-lo
total
fundo
intenso!
Íntima
certeza,
estação
do bom-senso,
mantendo
a centellha
do amor
e do sonho.
Fulgente
aurora
de onde
pura
solta
emerge
cantando
a poesia!
Paira
no céu alto
ténue
nevoeiro
...mas um fogo
imenso
renasce
no peito,
que mais
brilha
a esperança
que o ouro

e mantenho
límpido
o sorriso!

pleno
e tão
sincero
se faz
o sorriso!
Ainda
que esteja
escondida
a lua
e o céu
na colcha
de névoa
que leve
anuncia
a noite
do primeiro dia
do mês
de setembro,
cante leve
o vento
nas douradas
folhas
nas frutas
maduras...
bendigo
o outono
até nós chegando.
Que bom é
vivê-lo
total
fundo
intenso!
Íntima
certeza,
estação
do bom-senso,
mantendo
a centellha
do amor
e do sonho.
Fulgente
sorriso
aurora
de onde
pura
solta
emerge
cantando
a poesia!
Paira
no céu alto
ténue
nevoeiro
...mas um fogo
imenso
renasce
no peito,
que mais
brilha
a esperança
que o ouro
e mantenho
límpido
o sorriso!

Cerrar as pálpebras,
senti-las cair pesadas
como no outono
as pétalas às rosas...

Mas não!
Toma conta de mim
tal inquietação
tal delírio de prosas
tal aurora de poesias
soltas brisas,

que me quedo insone
voadora peregrina
na asa
da minha própria sombra

frágil
tão frágil e tão pequena
desassossegada
clamo ao que me cerca
e me assombra
de dor humana

Ser ínfima poeira
acordada
ver tanta injustiça e cegueira
e não poder fazer nada!

Habito numa árvore enorme
Em que cada animal dorme
Fechado em seu egoísmo

Moro numa selva nua
Anónima, desabitada
Onde tudo se atropela.

No meio do meu dilêncio
Ergo minha voz e canto
Ou, se há demais sofrimento,
Ninguém se ri do meu pranto.

Entre terra e céu construo
Meu jardim, e nele habito.
Chamo-lhe Éden e ninho
Canto alegre, meu recanto.

Pássaros chamam e eu digo
O que digo e vejo e escuto,
Meu carinho retribuído.

Crescem flores em todo o lado.
Tenho os rios num aquário
E o silêncio em que fico.

E há duas felinas mansas
Que vêm pedir-me mimo,
Como fazem as crianças.

Quando a dor é meu tormento
Vêm pousar-me no colo,
Consolar-me com carinho.

Lá fora, dizem, é o mundo!
Mas aqui dentro, acredito,
Meu oásis do deserto,

... chamo-lhe meu paraíso.


Chamarás desditoso ao grilo
por ser negro?
Quem canta às estrelas?
Quem na noite soa
E nos embala?
Quem trila que trila
Sem parar?

Ah, a saudade de estar
Numa janela qualquer
Numa aldeia junto ao mar
Quieta
No silêncio suspensa
Sobre o penhasco
Escutando
O grilo e o mar
Companheiros do meu choro
Vozes brandas murmurando
É cantar!
É cantar!
É cantar!

Ah, se eu pudesse
tranformar-me em borboleta
que secreta te seguisse,
escondida viajassse
na aba da tua sombra!


A frescura do teu dia,
centelha na noite escura!
No teu sorriso brilhasse!


Soubesse a mel a lembrança
que meu sabor te deixasse
e breve ausência bastasse
pr'a sonhar reencontrá-la!


FALAR DO AMOR
É FALAR AO SOL DA LUZ
PEDIR ÀS ESTRELAS QUE
SE AFOGUEM NA PAZ

FALAR DO AMOR
É FALAR NA SEDE DA FONTE
À TERRA ESBRASEADA P'LO CALOR

FALAR DO AMOR
É VER QUE OS MEUS OLHOS
BRILHAM MAIS INTENSOS
SE NELES REFLECTEM
A FOME IN(QUIETA) DOS TEUS.



NÃO TE PEÇO A QUIETUDE
RIBEIRINHA
TRANQÜILA
MANSA
ESVERDEADA
DA DOCE ÁGUA PARADA



PEÇO-TE ONDAS
PEÇO-TE SAL
PEÇO-TE EXALTADAS
ÂNSIAS
QUE SALTEM
DE ENCONTRO ÀS MINHAS



NÃO QUERO SER MARGEM
BRANQUINHA
tranqüila
PASSIVA


QUERO-TE MAR MINHA MARGEM
DE ARRIBA.
PERDIDAMENTE PERDIDA
ENSEADA.
ESCARPA
POLVILHADA
DE FÚLVEAS
GRITANTES
GAIVOTAS.


MAS VEM DE MANSO,
MARÉ BAIXA,
DEIXA QUE A ROCHA
TÃO SECA
A TI SE ABRA,
FAMINTA
DA TUA
PROCURA.


DEIXA-ME ENCONTRAR
A TUA SEDE
NA MINHA,
DEIXA ACONTECER,
FLUIR MEU SER



ATÉ TEU QUERER ENCONTRAR.



RUBRA FLOR
DE MIM EM MIM
ESCONDIDA
PÉTALAS DE CRAVO NEGRO
CÁLICE DE RUBRA ROSA

FLOR DE ONDE A VIDA EMANA
QUE EM SI MESMA PULSA VIDA
QUANDO A PAIXÃO SOA
TOCA SEU VELUDO
DE MISTÉRIO DE BÚZIO

CORPO DE BILHA INVERTIDA
POR ONDE A SEIVA SE INFILTRA
RENASCENDO VIVA VIVA
GRITA EXALTA-SE RESPIRA

FLOR DE MIM QUE SOLUÇA SOLITÁRIA
VAZIA DE NÉCTAR DE AMBRÓSIA
VIERA INUNDÁ-LA AURORA
PERFUMÁ-LA A MARESIA

FLOR SAGRADA FLOR
MÃO ESTENDIDA
FONTE PUJANTE
LÍMPIDA RIA
DELTA DE MIM QUE SOU FEITA
À IMAGEM DA MÃE TERRA
LUA LIRA

CRAVO NEGRO
RUBRA ROSA
MEU CÁLICE
EM FLOR
ORQUÍDEA.


Todo o poema é feito de alma
na tela
na torre que se ergue ao céu
na figura descoberta
tirado o excesso de pedra
de madeira que o escondia
todo o poema é voz
que vivia escondida
e se lança irreprimível
solta canta canta e voa
da mão da voz
poeta sofredor
sê o instrumento
da poesia flama!

Entender
ouvir o não dito
perceber e aceitar
o oculto
humilhar-se e engrandecer
se dar e se confiar
abrir todo o coração
aos que só mostram janelas
chaves de segredo
que ora abrem ora não
corações de labirintos
a dizer-nos que o não são.

ver mais altos os contos
que as contas.
esconder o altruísmo
carecer e dizer não
fechar os olhos
deixar-se ver
e parecer cego.

Ser rosa
que no vento se desfolha
semente
perdida na terra
dura de pedra

a florir ternura
sem outra ventura que esta
ser tida por louca
a poeta!


O meu país é o mar,
Tão cheio de lonjura!
De sol, de águas, de ondas
Saltando de além-ternura!

De aves brancas, brancas, brancas,
De ouro polido a luzir
E risadas a explodir
Na voz pura das crianças!

Meu coração, ele o fez:
Fado,
Má sina, talvez!
Mas no olhar,
Um riso de asa,
Ou não fora
Português!
ESPERANÇA!
ESPERAR SEMPRE
DESDE SEMPRE
E AINDA

ESTA FORÇA VERDE VIVA
A LUZIR AO FUNDO DA ALMA,
QUE SOFRE TANTO
E VAI SOZINHA,
VENDO-SE NO ESPELHO

DE SI-MESMA.
(COMO SE FORA AINDA
A
MENINA
QUE CRIA E INSISTIA
INSISTIA EM SORRIR)

ESPERANÇA!
LUZ VERDE VIVA
NA ALMA DORIDA
QUE ACREDITA
QUE NEM TODO O MAL
QUE HABITA
NA INCERTEZA

NOS FAZ SER MAUS,
DESACREDITAR
NA LÍMPIDA PUREZA
QUE SE PROCURA.

Meu sonho
esvaiu-se
no vento
voou
como um pensamento,
não sei
onde foi
parar.
Meu breve sonho
sorrindo
aos poucos
se foi
sumindo
não sei onde
o vou achar.
Meu sonho tão breve
ardeu
a tristeza
o varreu.


... tenho medo
de sonhar.


Eu bem canto o meu poema
de revolta e de alerta
mas os surdos não me ouvem
mas os mortos não reagem
e os obstáculos não deixam
que as ondas do eco passem!
eu bem grito o meu apelo
de justiça para todos
mas monstros devoram meus sons
e não há ninguém que venha!
e fico rouca, cansada
de cantar para tantos surdos
de lutar com tantos monstros
mas, contudo, tenho esperança
de que um dia o eco surta
e que os mortos ressuscitem!
por isso sigo, cantando
meu poema feito grito!


QUERIA DAR A MEUS VERSOS
O TOM MELANCÓLICO
DA CHUVA A CAIR NO SOLO.
QUERIA DAR-LHES TONS RUBROS
DE LABAREDAS EM NOITE NEGRA,
MAS NINGUÉM ENTENDERIA!
OS MEUS VERSOS
NÃO PASSAM DE CHORO CONTIDO,
DE LÁGRIMAS QUE NÃO VAZEI
SENÃO PARA DENTRO DE MIM,
OU EM LETRAS NO PAPEL.

guardai glórias
e fortunas
escondidas atrás de vidros
de cortinas
de janelas

enseadas primaveras escondidas
negais-vos ser margaridas
negais-vos ser som
quimeras

en-cantadas
e
em
cantadas

incontidas
almas

brilhai sem medo
na aurora

que importa
ser o agora

se o nu Nada
além nos espera?

Soltai E sede
cantai cantai

o Ser

está á espera

e faz tanta tanta falta!
Minha sina
Ser Mulher
Etéreo suave ser
Como um insecto
Uma flor
Minha essência
Voar
E
Sorrir
Multiplicar
Em mim cultivar
Amor!
AINDA ME SINTO VOANDO
COMO UM PÁSSARO NO VENTO

AINDA SORRIO E CHORO
DE PURO ENCANTANTAMENTO

AINDA GUARDO CÁ DENTRO
MEU SONHO DE AMOR-PERFEITO

AINDA SINTO O FULGOR
LUZINDO DENTRO DO PEITO

E ME DIVIRTO, MENINA,
SOPRANDO BOLHAS DE ESPUMA


AINDA SINTO A MAGIA
QUE POR NADA ME EXTASIA

AINDA SOU COMO OUTRORA
HEI-DE SEMPRE SER, POETA!






AINDA ME SINTO VOANDO
COMO UM PÁSSARO NO VENTO

AINDA SORRIO E CHORO
DE PURO ENCANTANTAMENTO

AINDA GUARDO CÁ DENTRO
MEU SONHO DE AMOR-PERFEITO

AINDA SINTO O FULGOR
LUZINDO DENTRO DO PEITO

E ME DIVIRTO, MENINA,
SOPRANDO BOLHAS DE ESPUMA


AINDA SINTO A MAGIA
QUE ME POR NADA ME EXTASIA

AINDA SOU COMO OUTRORA
E HEI-DE SEMPRE SER, POETA!






sem asas ainda tento
subir pelo céu adentro
ir mais além do luar
além do solo cinzento
que tanto me faz chorar

sem asas ainda voo
ao encontro do futuro
por cima das rubras chamas
ultrapasso o grande muro

aonde o desespero
nos deixa de mãos caídas

sem asas ainda tento
levantar as nossas vidas




... Talvez!

As pétalas que juntei
E onde meus sonhos lancei
No horizonte entrevisto
Do brilho no teu olhar

Cheguem, jangada lançada,
Ao cais que quero alcançar

Divagam em mares de amar
Minhas letras de trovar

Devaneiam sem saber
Se nos mares vou achar
Um porto onde amarar

... Talvez!

Meu constante buscar
Se acoste ao teu procurar!

... Talvez!

As pétalas de flores que juntei
E onde meus sonhos lancei
No horizonte entrevisto
Do brilho no teu olhar

Cheguem, jangada lançada,
Ao cais que quero alcançar

Divagam em mares de amar
Minhas letras de trovar

Devaneiam sem saber
Se nos mares vou achar
Um porto onde amarar

... Talvez!

Meu constante buscar
Se acoste ao teu procurar!

ADEUS PORTUGUÊS


SERENO
ACENO NA TARDE
INQUIETA VELA
NO ROXO RIO
ASA DE BORBOLETA
UM INSTANTE
ASA DELTA
DOCE CORAÇÃO
ROSADO NO CÉU

SUSPENSO
BRILHO DE GOTA
UNIVERSAL
REFLEXO

PÉTALA EM QUEDA
NA BEIRA MAGOADA
DO OLHAR.

QUEM SOU?!


Sou aquela
Solta luz
Que apaga
Os passos
Passados na sombra
No vento vai
Solta sinfonia
Sou alma
Saindo da bruma
Na brisa fresca
Da manhã rosa
Desabrochada
Em ouro anil
Lua cheia
Na tarde cinza
Persistente
Estrela da matina
Em dueto largo
Com o sol madrugador
Vigiando o descerrar
Da ânsia contida
Em cada
Botão de flor!


Não sei de onde brota

A música que sinto.

Estou suspensa no infinido

E danço

Num solitário compasso

Em silêncio

No imenso palco do mundo



Movem-se meus passos

Na vacuidade do abismo

Deslaçada de tudo

Derivo

Entre imaginárias notas

Ou gotas

Amargas como absinto.

Eu, habituada ao fulgor

Do sol nas ondas

Ao doce reverbero nos grãos

De areia nas dunas,

Sou concha que rebola

Na rebentação de uma praia

Onde o coração do mar

Está ausente, distante.


Deixando-me balançar

Algures, sozinha.



Não sei de onde brota

A música que sinto.

Estou suspensa no infinido

E danço

Num solitário compasso

Em silêncio

No imenso palco do mundo



Movem-se meus passos

Na vacuidade do abismo

Deslaçada de tudo

Derivo

Entre imaginárias notas

Ou gotas

Amargas como absinto.

Eu, habituada ao fulgor

Do sol nas ondas

Ao doce reverbero nos grãos

De areia nas dunas

Sou concha que rebola

Na rebentação de uma praia

Onde o coração do mar

Está retraído, distante.



Bailando algures, sozinha.



Não sei de onde brota

A música que sinto.

Estou suspensa no infinido

E danço

Num solitário compasso

Em silêncio

No imenso palco do mundo



Movem-se meus passos

Na vacuidade do abismo

Deslaçada de tudo

Derivo

Entre imaginárias notas

Ou gotas

Amargas como absinto.

Eu, habituada ao fulgor

Do sol nas ondas

Ao doce reverbero nos grãos

De areia nas dunas

Sou concha que rebola

Na rebentação de uma praia

Onde o coração do mar

Está retraído, distante.



E bailo algures, sozinha.



Não sei de onde brota

A música longínqua que sinto.

Estou suspensa no infinito

E danço

Num solitário compasso

Em silêncio

No imenso palco do globo



Movem-se meus passos

Na vacuidade do abismo

Deslaçada de tudo

Derivo

Entre imaginárias notas

Ou gotas

Amargas como absinto.

Eu, habituada ao fulgor

Do sol nas ondas

Ao doce reverbero nos grãos

De areia nas dunas

Sou concha que rebola

Na rebentação de uma praia

Onde o coração do mar

Está retraído, distante.



E bailo algures, sozinha.



EU, QUE SOU FILHA DAS ONDAS,
GRITOS DE MARÉS,
GAIVOTAS
EM VOOS RASANTES,
ESPUMAS,


A POUCO E POUCO ME ENTERRO


NOS NUS AREAIS
EM BRUMAS.


NOS MEUS OLHOS VAI MORRENDO
A LUZ QUE DELES DIZIAS...


A POUCO E POUCO ME PERCO
BUSCANDO TUAS MÃOS
SE VOLTO
TRAZENDO AS MINHAS VAZIAS.



DIVAGA
MINH'ALMA
NA NOITE
TÃO LONGA
TÃO CHEIA
DE AUSÊNCIA
ANSIOSA
INSANA
SEM RAZÃO
SEM CAUSA
SEM NADA
A NÃO SER
LOUCURA
SONHADA
NÃO PERMITIDA
MOENDO
A ACORDADA

DOLORIDA
CHAMA ACESA


DIVAGA
MINH'ALMA
NA NOITE
TÃO LONGA
TÃO CHEIA
DE AUSÊNCIA
ANSIOSA
INSANA
SEM RAZÃO
SEM CAUSA
SEM NADA
A NÃO SER
LOUCURA
INCONSUMADA
SONHADA
NÃO PERMITIDA
MOENDO
A ACORDADA

DOLORIDA
CHAMA ACESA


Diante de ti
estremeço
no espelho de água
me mostro
nua perante teu rosto
vê-me teu olhar por dentro
tremendo
revivo o momento
em que te sei e te sinto
tremendo
avassala-me o desejo
não escondo
sou eu a água do espelho
diante de ti
revelado
tão louca que não aguento
Resistir-te
E por isso
assopro a água do espelho

omito-me
tremeluzindo






A noite canta
Na chuva
No céu bailam
Em fulgor
Fogosos lumes
Em flor
No negrume
A trovoada
Grita
O vento assobia
Nós dois
Fazemos amor
No aconchego
Da cama
Experimento
O teu sabor
E sinto-me arder
Em sol
E sinto-me leve
Voar
Na onda
Do teu prazer!

Assombro!

Em contraponto,
Terna é a noite
De amor!



A VIDA


Efémera borboleta

mal saída do casulo

ameaça despedida



quem aventurar detê-la
olhe-a de frente na hora



efémera borboleta

mal saída do casulo

ameaça bater asa



veja como é maligna
a cobiça e a soberba
só a Alma se eleva
só Amor redime e salva



a vida é efémera

borboleta, mal volteia

já toca à despedida


todo o bem traz em si mesma
não levamos dela nada


é rota

mágica estrela

erguida



sofremos cada escama
da breve asa ligeira

FECHO OS OLHOS


E VEJO MAR, E SINTO MAR...
SALGADO-DOCE
ASSUSTADORA ATRACÇÃO
QUE NOS AFOGA NUM SORRISO

SENDO PULSANTE VIDA

PROFUNDA TRANSPARÊNCIA
REFLEXO DO CÉU
FRÉMITO
ESCURO-SORRISO

PRINCÍPIO E FIM

CALMARIA E ABISMO
FONTE DO SONHO
NOITE-MANHÃ!





CADA VEZ MAIS




TE VEJO MAR, TE SINTO MAR!
SOU DE NOVO A MENINA ABSORTA
CAMINHANDO HORAS ESQUECIDA
DE SI-MESMA, QUE SONHAVA...

...jÁ QUASE SE FOI, A PRAIA!

MAS VIVE AINDA A MENINA
TEMEROSA E FASCINADA,
OLHAR ALÉM - TÃO PERDIDA
DE SI-MESMA, QUE SONHAVA...

SOL VIBRANTE NO MEU ROSTO
CABELOS SOLTOS NO VENTO
FASCÍNO
TERNURA
MEDO!


FECHO OS OLHOS


E VEJO MAR, E SINTO MAR...
SALGADO-DOCE
ASSUSTADORA ATRACÇÃO
QUE NOS AFOGA NUM SORRISO

SENDO PULSANTE VIDA

PROFUNDA TRANSPARÊNCIA
REFLEXO DO CÉU
FRÉMITO
ESCURO-SORRISO

PRINCÍPIO E FIM

CALMARIA E ABISMO
FONTE DO SONHO
NOITE-MANHÃ!





CADA VEZ MAIS




TE VEJO MAR, TE SINTO MAR!
SOU DE NOVO A MENINA ABSORTA
CAMINHANDO HORAS ESQUECIDA
DE SI-MESMA, QUE SONHAVA...

...JÁ QUASE SE FOI, A PRAIA!

MAS VIVE AINDA A MENINA
TEMEROSA E FASCINADA,
OLHAR ALÉM - TÃO PERDIDA
DE SI-MESMA, QUE SONHAVA...

SOL VIBRANTE NO MEU ROSTO
CABELOS SOLTOS NO VENTO
FASCÍNO
TERNURA
MEDO!