segunda-feira, maio 10, 2004

Quando sonho contigo

sou tão feliz que flutuo

e me evado

Sinto-me no apertado

abraço

que recordo

que revivo



sonhando contigo

o mundo fica mais belo

esqueço tudo

e me entrego

aguardando

o momento



de concretizar esse sonho!



Um beijo do Tejo


Enquanto no azul divago
O céu funde-se com o Tejo
onde os barcos se aconchegam

eu sinto-me como um pássaro
afeito à travessia
nestas rotas que te abraçam

A nossa alma ultrapassa
toda e qualquer distância
sem sequer dar conta dela

enquanto os olhos viajam
neste coração o fado
vai trinando de saudade

acostumado à tristeza
que se enlaça na alegria
com que se faz a amizade

Quem Sou?

Sou a viva chama
No vento que voa
Evocando a Vida!
 
De novo sou  flama
Viva como vela
De acesa chama.
 
Na vida que apela
Mantenho-me viva
 
Pirata, que trazes teias
De sedas e de brocados.
Derrubas minhas ameias
Sonho volúpia, delicias

Astuto que me adivinhas
Arrebatas, desatinas
O sangue de minhas veias
Agitas quando caminhas

Nas redes de azuis safiras
Rendadas de espumas brancas
Que ladeiam tuas praias
Vêm assaltar as minhas

Ai noite, tu que vigias
Muda a rota das estrelas
Cruzeiro do Sul tão longe
E a Estrela Polar sozinha

A frialdade arrepia
Pois que lânguida divaga
Mas é tão longe essa Ilha!
Mater Dolorosa




Minh’alma traja de lírios
Sou a Madre trespassada
Por flechas memoriais sinos


Que ecoam na tarde roxa
Ao rematar minha vida

De intrépida luta, tanta!

Eleva-se a ofensa erguida
Como bandeira rasgada

Sobre a terra conquistada
No fragor de uma batalha
Por uma grei esquecida.

No inescrutável espanto.

Maria de todas as dores
Desponta em meu peito o soluço
Que abafaste no teu pranto!

"Crepúsculos"



Na cúpula
De azul cobalto
A andorinha se afasta

No infinito bordado
De vermelho e dourado
O alvo cisne regressa
Brilha o esplêndido manto!

Divago no céu dos Andes
Picos de onde aos céus
Se levantam os condores
Transportando pelos ares
Mensagens de outros mundos
Seguindo o rumo dos astros
Aspiro o ar das florestas!
Argentina de ouro e prata
Tem cautela que os abutres
Estão preparando as garras
Para devorar-te as entranhas
Tais escorpiões e aranhas
Que tudo vão dissolvendo
Com seus palpes e veneno
Proclamam justos temores
Os filhos do sol pensadores
Anseio ver-te em progresso
Sem estragarem o teu manto!

Do ventre da vida



Ondas que se esbatem
Na areia dourada
Nas rochas cinzentas
De franjas cobertas

Escuto e oiço o grito
Dos Homens lutando
Por nada morrendo
O mar traz no dorso
O sangue esvaído
Enterra esqueletos
De homens, mulheres,
Velhos e crianças
A eito apanhados
Em guerras estultas
De lágrimas tantas
Ventre de esperança
Aonde se adoça
Continua a vida


Oh que vontade de correr pelas ruas frias
Neste Natal escuro de guerra e de morte
E procurar por debaixo das pedras
Aquela estrela branca que iluminou os Magos!
Oh que vontade de correr pelas terras nuas
E de chamar a cada Homem irmão
E de abraçar cada criança triste
E destroçar os brinquedos de guerra
E trocá-los por amor e paz e pão
E alumia-lhes os olhos e o peito e os lábios
De esperanças e de sorrisos!
Era uma casa deserta
Sem cortinas na janela
Voando ao sabor da brisa
Onde havia uma menina

Pequena, vivendo de ânsia
Olhos postos no infindo
Sonho feito de estrelados
Céus de amor e de bonança

Desenhava a sua alma
Com as cores da fantasia
E a sua alma abrangia
Todas as cores da esperança

Segue meu fado na bruma
Atento à longa distância
Onde o luzeiro se apaga




E tanto brilhou um dia
A luz alta da esperança
Que hoje não é mais nada
Que uma fugida lembrança


Que em lástima me aniquila

A Mãe no palco da guerra



Ser a mãe correndo cega
Aos zigues zagues na rua
Apertando ao peito ainda
A criança assassinada
Por uma bala perdida

Sobre o solo que trepida
Ver a casa devastada
Algures seu homem erra
Na insânia de uma guerra
Que a todos nos desespera

Jazem os mortos na estrada
Olhos cheios de surpresa
E o sangue empapa a areia
Nesta vastidão deserta
Que a cobiça incendeia
Onde o ódio se apregoa

Rebolando-se nos leitos
Soam mais alto que os tiros
De outras mulheres os gritos
Lançando ao mundo seus filhos
Já antevendo os destinos
De seus meninos amados


Os velhos abandonados
Puseram de lado o espanto
Sofreram e viram tanto
Que o seu momento esperam
No recanto onde se albergam
A morte não temem, esperam!
PARIS

Autor: Nilton Bustamante

trad.p/ francês, Maria Petronilho



Eu que nunca fui a Paris, tenho saudades.
Moi, que ne suis jamais allé à Paris, j’en ai de la nostalgie.

Eu que nunca beijei seus lábios, tenho saudades.
Moi, que n’ai jamais embrassé ses lévres, j’en ai de la nostalgie.
Eu que nunca soube das cores de seu mundo, tenho
Moi, que n’ai pas connu les couleurs de son mond, j’en ai de la nostalgie.
saudades.


Juro que te vi, andamos pelas mesmas alamedas,
Je jure que je t’ai vu, nous nous sommes promenés par les mêmes boulevards,
Sentamo-nos nos mesmos cafés, junto aos poetas.
Nous nous somes assis même aux cafés, parmi les poétes.
Dias ensolarados, o nada prazeroso para fazer...
Des jours ensoleillés, le plaisir de laisser faire laisser passer…


O corpo pedindo,
Le corps demandant
Os olhos vendo através dos pensamentos,
Les yeus voyant tranvers la pensée
A vontade de ser feliz, Paris, Paris...
La volonté d’être heureux, Paris, Paris…


Vem pra mim, eu que nunca fui a Paris,
Viens à moi, que je ne suis jamais allé á Paris,
Vem pra mim, eu que sempre te quis.
Viens à moi, parce que je t’ai aimé toujours.
Paris, Paris, meu estado de espírito.
Paris, Paris, mon état d’esprit.


Nas Tuas entrego a minha angústia e a minha paz
Nas Tuas mãos nascem as noites e as manhãs
Nas Tuas mãos se levantam os ventos e se acalmam tempestades

A Ti o princípio e o fim e o reverso.

Infinito ciclo

Tu és Tudo!

Faço-me ânsia!
Minhas centelhas
Tomam formas
Percorrem distâncias
envolvem-te alucinadas

Divago no céu,
Em demandas
Os olhos acesos
De urgências.
As mãos implorando
As tuas

Entranho-me em teus sonhos
E sussurro aos teu ouvidos
Cânticos infinitos, pois

Nasci entre os astros
E venho tomar-te nos braços
Para cingidos subirmos
À luz onde pertencemos

E meu amor que não vem!


A imersão balsâmica
De alfazema e de rosa
Há tanto te aguarda!
Criei afrodisíacos aromas
Para refazer-nos à ceia

Alongam-se meus olhos
Na estrada vazia
Inflamo-me sonhadora
Antecipando a centelha
De teu corpo que ao rasar-me
Chispa minha rubra brasa
E me leva incendiada
Numa ânsia indefinida
De onde assomo renascida

Aonde estás, que te detém?
Escuta bramir o silêncio
Segue-o e vem!

Despe-me das sedas diáfanas
Que aprisionam a ninfa ansiosa
Pelo golpe da tua asa
Afim de achar-se libertada

Tudo se aquieta na tarde calma
O sol declina levando a esperança
De retirar-me contigo
Em arrebatador desvario
E anoitecer nos teus braços
Em langorosa bonança....
CÁLIZ INGRATO
Cálice ingrato
Autor Alberto Peyrano; trad p/ português Maria Petronilho


Y se hace vieja la calle...
Já se faz velha a rua....
Tan vieja y agobiada,
Tão velha e angustiada
depositada en esos ojos nuevos
confiada nesses olhos novos
que nacieron en un país que duerme ,
que nasceram num país que dorme,
donde la mañana sólo sirve para nada...
onde a manhã para nada serve....


Existe un árbol donde un pájaro
Existe uma árvore onde um pássaro
renunció a su canto cierta noche,
renunciou a seu canto certa noite,
y le contó al poeta
e confidenciou ao poeta
la negra pesadilla que observó
a negra inquietação que percebeu
bajo sus ramas,
sob as suas ramas
tal vez para llorar con él
talvez para chorar com ele
o para buscar apoyo
ou para buscar apoio
en los gritos del verso
nos gritos do verso
que la angustia inspira,
que a angústia inspira
con la esperanza anticipada y casi vana
com a esperança antecipada e quase vã
de un poeta escuchado y atendido
de um poeta escutado e acatado
en medio del vacío.
no meio do vazio.


Se le va el aliento al futuro,
Vai-se com alento no futuro
ensayando a tientas la sobrevivencia,
ensaiando às tentativas a sobrevivência

nadando entre los vómitos inéditos
nadando entre os vómitos inéditos
que son lanzados en diarios y cartones,
que são lançados em diários e panfletos
y que se tragan en el plato de comida
e que se tragam no prato de comida
que tiene gusto a rabia
que tem gosto de raiva
y a resentimiento.
E de ressentimento


Es un cáliz ingrato el que ofreces,
É um cálice ingrato o que ofereces
mi ciudad, a tus hijos y al presente,
minha cidade, aos teus filhos e ao presente
que hace pensar en un solar
que faz pensar numa linhagem
ausente
ausente
o desaparecido,
ou desaparecida
vacío de esperanzas, protección o abrigo
vazia de esperanças, protecção e abrigo
y donde no se pueden
e onde não se podem
ensayar pasos hacia el frente.

Ensaiar passos avante


Tu presente profano, ciudad,
O teu presente profano, cidade,
cachetea muy duro y sin piedad
esbofeteia com muita dureza e sem piedade
a mi futuro,
o meu futuro,
a mi no-ser que clama
o meu não-ser que clama
porque apartes este cáliz
para que afastes este cálice
donde el poema
onde o poema
quedó disuelto en lágrimas
se desfez em lágrimas
junto al pájaro inerte
junto ao pássaro inerte
que se volvió al olvido.

Que retornou para o esquecimento.



Alberto Peyrano
Buenos Aires, Abril 2004


Ah, feliz da musa, da vénus, da sereia
Que te retira da tua Ilha sombria
Onde te debruças para felicidade nossa
Mas no teu próprio desterro
Desfiando colares e colares
De versos feitos de pérolas caídas
Dos teus olhos húmidos de ânsia!
Feliz da musa, da vénus, da sereia
Que encantadoramente cantas
Queira estar em afectiva atalaia
Pois é diamantina a tua voz
Que reluz engastada e nos ilumina
As almas encolhidas no proclamado
Mas dolorido ouro do silêncio!
A Um Futuro de Ordem e Progresso

Maria Petronilho

Brasil, venho de lá do mar
Com os braços carregados de flores e de esperança,
Que é primavera, e é Abril!
Chego com o coração florido de alegria
Desde o cais das Descobertas.

Trago na alma as dores cicatrizadas
De agruras e espoliações
Dos lusitanos de antanho,
Sedentos de pedras e preciosidades
Mas disponho o coração dulcificado
Por mor de diamantes fraternos,
Que valem mais do que pesam
Não se vendem nem compram,
Crescem com a seiva que emana
Da nossa compreensão

Quinhentos e quatro anos de luta
São cansativos mesmo para um jovem
Que contém no seu âmago a força
De todas as cores entrelaçadas
Em sorrisos profusos como as folhas dos mangais

Sobre rios de águas povoadas de golfinhos brancos
E de sucuris e de piranhas no aguardo,
Mudando de nome conforme os tempos vão mudando
E os senhores dos impérios que todos servimos
Pois nem todo o sangue e suor do esforço colectivo
Chegam para saciar-lhes a fome de manter-nos angustiados.

Continuam armando arapucas sem fim
Nessas terras infindáveis onde a morte
Marca passo nas ruas onde o samba escamba no eterno carnaval
Os esquadrões da morte andam armados de agulhas
E o império continua dividindo as riquezas
Deixando os teus filhos nos labirintos das favelas
Suspensas em ladeiras tão altas
Para onde mais fácil é subir do que descer

Quinhentos e quatro anos de labor contra a cobiça
Na fome feita de abastança roubada
É tarefa só possível aos grandes heróis
Aos homens sem terra no maior país do mundo

Que breve surja o dia, pátria dos meus irmãos
Em que os senhores do costume desçam dos capitéis de ouro
E seja possível à sonhadora da barra do Tejo
Seguir enfim o rumo aberto em luminosidades azuis
Para ir ter contigo... sinal que a riqueza do mundo
A deixou enfim fretar um banco na classe económica
Aonde transporte os ossos calcinados e os olhos deslumbrados
De uma vida inteira de abnegação
Por um pequeno país em decréscimo de tudo
Menos de arrogância e de hipocrisia de um poder fictício

Peço a Deus a honra de abraçar em glória
O Brasil que mais merece do que tem:
Sereno bem estar, em Ordem e Progresso.

segunda-feira, abril 05, 2004

Noite de Fado




Cantaram a Tágide e o Tejo

Turbulentos, agitados

No ímpeto de seus abraços



Na noite escutei murmúrios

E no mar todos os búzios

Ressoaram os seus cantos



Soavam suspiros tantos

Ternos risos abafados

E gemidos tresloucados



O Tejo adormeceu tremendo

Ela alquebrada em seus braços

Tranquilos, de amar cansados





De amar







Quando me quiseres amar

Finge-te louco de amor

E deixa-me extravasar

Em teu rio minha sede



Quando me deixares ter-te

Dá-me inteira liberdade

De ser terna, que é tarde

E tanto anseio beber-te



Ensaia um dueto comigo

Sê meu rei e meu castigo

Sê o meu senhor e escravo



Possui-me como se louco

E saneia o desconcerto

Do tempo desperdiçado



Teus Beijos









Pairam tão longe, teus beijos!

Mal os avisto, são estrelas!

Desejo havê-las cadentes

Afim de poder bebê-las.



Se poisam, são como chispas

São meigos lumes, centelhas

Percorrem-me como raios

E de tremor me incendeias.



Vesti-me de azul esperando

Fundir-me no céu e as estrelas

Sonegar-te, às escondidas



... Em vão! É Inverno, perdi-as.

Estavam todas cerradas

Em pardos véus de neblinas.











Flauta doce







Ah a cana

Do cabo

De engenho

Flauta doce

Que embebeda

Quanto toca

E dedilha

A minha

Suave lira!





Que inquietação é esta?!









Dentro de mim

Uma ausência

Clama alto

Chora e grita



Por que implora?



Envolve-me

Sempre e ainda

A paz que foi construída

Por minhas mãos

Persistência



Mas em mim grita

A ausência!

Uma ausência

Que não tinha

Que de surpresa

Me apanha

E de súbito

Aguilhoa



Que inquietação

É esta

Que transforma

A minha calma

Que mói fundo

A minha alma?!

"BARULHO
Ferreira Gullard

Todo poema é feito de ar
apenas:
a mão do poeta
não rasga a madeira
não fere
o metal
a pedra
não tinge de azul
os dedos
quando escreve manhã
ou brisa
ou blusa
de mulher.
O poema
é sem matéria palpável
tudo
o que há nele
é barulho
quando rumoreja
ao sopro da leitura."

***

DE AMAR O AMOR


todo o poema
é feito de alma

na tela
na torre que se ergue ao céu
na figura descoberta
tirado o excesso de pedra
de madeira
que a escondia

todo o poema é voz
que vivia
escondida
e se lança
irreprimível
solta canta canta e voa

da mão da voz


poeta sofredor

sê o instrumento
da poesia
flama!


Maria Petronilho
E NÃO VENHAS PEDIR-ME
QUE NÃO TE FALE DE AMOR


Não te quero triste
Nem me quero triste
A voz do amor solta se ergue
O meu sonho te procura e segue
Certo no tempo incerto
Incessantemente ao teu encontro.


Volta vazio de teu olhar
Saudoso do teu sorriso
Do teu cheiro no meu cabelo solto
Derramado no teu peito
Ah, como é leve e inevitável seguir este fio!
Como todos os caminhos da ternura
Vão do meu para o teu coração!


Meus ouvidos enlevados
Repetem a tua voz sem conta
Mas todos os meus poros
Anseiam pelos teus dedos
E a minha boca perdeu o dom de sorrir
Pela tua inquieta....






"Mar reflexo"



.....MAR...
AGITAÇÃO E ANINHO
QUE NO SANGUE TRAGO,

ESPELHO INFINITO



DE NOSSO MOMENTO,
O FRÁGIL EQUILÍBRIO!


Mulher de Corpo e Alma




para que solte a fêmea
que me habita e que procura
contigo em ti
primavera,


Não me queiras nua
toma-me absoluta
tua
inteira solta
inquieta
pensadora
criança
que ri e que chora
que ama


mulher de corpo e alma



O BEIJO/EL BESO




SONHO
SE DILUINDO
NO AR
PERFUME DE ALFAZEMA
POEMA
QUE NEM SEI CANTAR

NUVEM QUE QUE ESVAI
MOMENTO NO TEMPO

CARÍCIA
QUE PERPASSA
E SEGUE TÃO LEVE
DEIXANDO PESADA
SÓ MINHA A
SAUDADE


***

EL BESO


SUEÑO
SE DILUYÉNDOSE
EN EL AIRE
PERFUME DE AZUCENA
POEMA
QUE NADIE SABE CANTAR

MOMENTO EN EL TIEMPO

CARICIA
QUE SOBREPASA
Y DIGUE TAN LEVE
DEJANDO PESADA
SOLO MÍA LA
SOLEDAD






EL BESO - Autoria- Maria Petronilho - Portugal-m.petronilho@netcabo.pt -
Traducción para el español - Betty - Argentina - betinahg@yahoo.com.ar

andar como se tivesse





andar ao relento no tempo

como se tempo tivesse

para perder se do tempo



como se algo existisse

se algo ou alguém houvesse


que os amigos separasse
como se o tempo fosse



inexorável



àquele no vai no vento

sem derivar

se alhear ...

qual sombra do meio dia

presente se bem



pequena!



ai ....

a saudade refresca

ao voltar

o ser

a seu ninho retorna

cuidando bem dada a volta



se fica

de posse da vida


SE A SAUDADE
NÃO MATASSE
TALVEZ EU
NÃO TE
DISSESSE
AS SAUDADES
QUE PLANTASTE
AS SAUDADES
QUE DEIXASTE
AS SAUDADES
QUE FIZESTE!

Tempo de Amar


o tempo que
antes
o tempo
anuncia
é benção
é primavera
risonha amizde que fica
dentro do peito acolhida
como a folhinha enrolada
no escuro gomo escondida

plantemos amor carinho
com suave atenção
aos males
alheios
e aos
nossos

sigamos de mão na mão


como que voz nós poderemos
a poesia cantar
se entre nós não soubermermos
esse verbo conjugar?!

Vamos juntos contra o Nada



Raízes se nos entrelaçam

Sorvemos a mesma seiva

Como papoilas fraternas

A rir em trigais infinitos



Vamos juntos contra o Nada

Cansados de indiferença

Olhando na mesma senda

Sentindo com a mesma alma



Sentindo a dor primeira

Como havemos de sentir

A última dor de sermos

Trilhados por vãos motivos



Vamos juntos contra o Nada



Pois prometem-nos a queda

No imensurável abismo

Em busca da vã riqueza

que de nada pode e serve

Se nada produz nem cria




"Cachopa da Beira Rio"


Cachopa da beira rio
dei meu coração ao mar
sou filha da foz do Tejo
passo a vida a navegar
meu coração um veleiro
com velas de ir e voltar
peregrenino companheiro
está partido e a chorar
de si só guardo metade
onde a outra irei buscar?
num paraíso distante
Vera Cruz, hei-de chegar!
cachopa da beira rio
com saudades de abalar
e encontrar essa metade
que tanto choro a cantar
meu fado é esta tristeza
quando te irei encontrar?
... só perto do meu olhar!

CADA VEZ MAIS


TE VEJO MAR, TE SINTO MAR!
SOU DE NOVO A MENINA ABSORTA
CAMINHANDO HORAS ESQUECIDA> DE SI-MESMA, QUE SONHAVA...

...jÁ QUASE SE FOI, A PRAIA!

MAS VIVE AINDA A MENINA
TEMEROSA E FASCINADA,
OLHAR ALÉM - TÃO PERDIDA
DE SI-MESMA, QUE SONHAVA...

SOL VIBRANTE NO MEU ROSTO
CABELOS SOLTOS NO VENTO
FASCÍNO
TERNURA
MEDO!
FECHO OS OLHOS



E VEJO MAR, E SINTO MAR...
SALGADO-DOCE
ASSUSTADORA ATRACÇÃO
QUE NOS AFOGA NUM SORRISO

SENDO PULSANTE VIDA

PROFUNDA TRANSPARÊNCIA
REFLEXO DO CÉU
FRÉMITO
ESCURO-SORRISO

PRINCÍPIO E FIM

CALMARIA E ABISMO
FONTE DO SONHO
NOITE-MANHÃ!
Onde Estás?





Onde estás, que há tempo
que venho te procurando
nas estradas enluaradas;
nos raios de sol filtrados
por entre galhos em flor?
onde estás tu, que eu tanto
venho em vão te procurando;
no pólen que ainda resta;
na flor dourada da giesta
que atapeta a montanha?
onde estás,




que não te encontro,
e há tanto tempo percorro
todas as praias e grutas
em nenhuma te achando;
onde estarás Tu? Eu venho
nesses mares navegando
em nenhum deles te vendo,
procurando-te divago...
contando estrelas me perco
buscando o teu amor!


O oleiro que eu sonho




Vou ainda na esperança
de que um dia
o oleiro que eu sonho
penetre a espiral
onde voo
temendo
perder equilíbrio.

Imagino
que suas mãos
de amor me tomem
e com fervor me recolham
Inteira e leve,
qual ave solta
em feliz em gorjeio

com zelo e carinho
me acolha no ninho
do seu coração!

Digo



Maria Petronilho



Aquém do meu ser total,
Que não sei dizê-lo todo,
Apenas
Sei e sinto
Que não sei dizer tudo,
Nem quanto.
É que há algo imerso
Dentro de quem sou
Que conheço e desconheço
Porque me transcende o entendimento.

Só sei dizer o imenso
Mais do que eu
Que me avassala,
Que não de todo se solta,
Que não vejo mas me inquieta,
Que é muito maior do que eu.

Como se eu fosse rede
E uma ave enorme
Dentro de mim se debatesse
E me rasgasse
Sem contudo conseguir soltar-se,

Para que um dia alguém me
Encontre!





***



DIGO






A quien le doy mi ser total,
Que no sé decirlo todo,
Apenas
Sé y siento
Que no sé decirlo todo,
Ni cuánto.
Es que hay algo inmerso
Dentro de quien soy
Que conozco y desconozco
Porque trasciende mi razón.

Sólo se decir lo inmenso,
más que lo mío,
que me avasalla,
que no del todo se libera,
que no veo mas me inquieta,
que es mucho más grande que yo.

Como si fuese yo una red
y un ave enorme
Dentro de mí se debatiese
Y me rasgase
sin poder del todo soltarse,

para que un día alguien me
encuentre!



(Versión libre en español: Alberto Peyrano)


- Ninguém!



Andar chamando

A chispa de fogo
Oculta no peito

Estremecendo
Gemer baixinho
O vento parado
O voo adiado
Sem um roteiro

Estar na sombra
De si mesmo

Sozinho no claro
Lago quieto

Tolhido
No próprio escuro
E não sonhar
Sequer dormindo



Razão de queixa



Ai se
uma vez
que fosse
vestisse
a
saia justa
mostrando
a
perna envolta
em fina meia
de seda
a
blusa cruzasse
acima da anca
convidando-te
à
a curva da
cintura


Ai se
ousasse
pestanejar
sedutora
pintasse de rubro
a boca e
à
sua sede cedera


Ai se
não fosse
tão discreta
me atrevesse
a
mostrar-te
a
fogueira
que em silêncio
bruxuleia
encoberta


razão de queixa
teria?!

Canto secreto





Segredo no teu ouvido

A saudade do teu beijo

Do teu olhar e sorriso



Recolho-me no silêncio

Porém não tenho sossego

Revejo-te no meu sonho



Onde me sinto de novo

Envolta no teu carinho

Sendo teu casulo e ninho



Exaltada me sentindo

No brilho onde te guardo

Chama ondeando ao vento



Doce Memória




Ah, se eu pudesse

tranformar-me em borboleta

que secreta te seguisse,

escondida viajassse

na aba da tua sombra!

A frescura do teu dia,

centelha na noite escura!

No teu sorriso brilhasse!

Soubesse a mel a lembrança

que meu sabor te deixasse

e breve ausência bastasse

pr'a sonhar reencontrá-la!

















CRAVOS RUBROS, ONDE A
ESPERAÇA?



NÃO FALEM DA DOÇURA DAS MORDAÇAS
CERTA MANHÃ DE ABRIL
ARRANCADAS


FALEM DAS ESPERANÇAS ESMAGADAS
DE NOSSAS QUIMERAS QUEIMADAS
DAS VÃS FALHADAS PROMESSAS

DESSAS SENHORIAS
DANDO-NOS POR PÃO PALAVRAS
ILUSÕES, FAVAS CONTADAS


FALEM DESTAS VIVAS CHAGAS
NO LUGAR DAS NOSSAS ESPERANÇAS
DAS LUTAS DESESPERADAS


FALEM DO PODER E DA GULA
DA VAIDADE E DA SOBERBA
DELATAEM QUEM NOS ENGANA


DE QUEM ESBANJA À NOSSA MESA
O PÃO NOSSO QUE NOS FALTA
E RI DA NOSSA DESGRAÇA


FALEM NA POPREZA ESCONDIDA
FALEM NO POVO QUE EMPENHA
A VIDA EM TROCA DE NADA


FALEM DA MISÉRIA NA SOMBRA
DO ADEVIR NA PENHORA
DO IMPÉRIO DE IMPOSTURA


AH, PÉTALAS DE CRAVOS RUBROS
TÃO PERFUMADOS DE ESPERANÇA
QUE É DA VOSSA RUBRA CHAMA?


Tão longe mas assim perto!



como música soando

difusamente por entre

nuvens que entardecendo

viajam no infindo

céu imenso

longínquo...

quase posso tocá-lo

com os dedos entendidos

no vazio

onde pressinto

tua essência pairando

um desejo latejando

minha pele aflorando

na suavidade

de um beijo

tu...

estás tão longe

assim perto!



As mãos tremendo







De repente,

As mãos encontram-se

Tremendo sozinhas

No meio da noite

Quase podendo tocar-te

Tremendo

Por desejar-te

Mas tu estás tão ausente

Se bem estejas tão presente!

E o espaço se faz imenso

Volteia no ar minha chama

No teu encalço

... Mas não te alcanço!

Escuta o coração lancinante

Dizer-te secretamente

Espero-te!

Vem, meigo e doce

Fazer-me vibrar

Fremente

Corda de violino nos teus braços;

Sê o arco que me faz gemer

De prazer

E gritar delirante


As palmas das minhas mãos

Dão por si tão de repente

Vazias de ti,

Tremendo

Revivendo cada instante....





Parasse a haste do tempo









Suspenso fosse o instante

Em que unidos repousamos

Na desperta indolência

Volátil, perfeita essência

De dois num só

em ternura





Eterno fosse o momento

Fulgente

do terno arroubo

Por nuvens e labirintos

Galáxias onde fulgimos

Em ninhos nos

ateamos





Permanecesse o momento

Em que pairando sentimos

Como se únicos

no mundo

Porque nos desapegámos

De toda a ânsia

e achámos

O Éden que

antevimos.



Trova de amor







Se as cores de teu estandarte

Destas ameias avisto

Às minhas aias ordeno

Preparem o meu palácio.

Aos menestréis recomendo

Repouso. Quero silêncio

Para escutar-te ao repasto

Em que te sirvo o vinho

Deleitoso e maduro

Destas terras de meu reino.

Ao toque do clarim revelo

Seres o Príncipe dilecto

Que nas minhas trovas canto



Jóia prima da coroa

Fortuna de meu erário!





Se o nosso amor persistir




Retomaremos os passos

Dos caminhos que trilhámos.



Demandaremos aos ventos

Que redescubram os céus

Os mesmos onde voámos

Noutros tempos



Se os perdemos sem perder-nos,



Com a saudade urdiremos

Um ninho para acertarmos

De nosso amor, os retalhos.



Tal Qual



Arranco
as
pétalas
dos
lírios
roxos
que

toldavam
meus
olhos

Faço
que
outras
brancas
cresçam

e

minh' alma

deixem


sem
pena
ver

dar-me
ser

tal qual

eu
sou!

ENQUANTO FOR TEMPO!







Reguem o meu chão

Enquanto for tempo

Quero reaver



As pétalas de açucena

Abatidas de tristeza

Em triste desolação



Quero reabrir os pomos

Que persistem

Na primavera que cessa



Se regarem o meu chão

Novos alvores e perfumes

Renovados

Surgirão!

EU SOU A QUE FLORIU





EU SOU A QUE FLORIU
NO MAR DE URTIGAS
EU SOU A QUE NADA TENHO,
A NÃO SER ALMA
EU SOU A QUE TUDO CALO,
MENOS A VOZ DA CONSCIÊNCIA

... QUERIAM QUE EU TIVESSE
NO CORAÇÃO UM DESERTO
E AREIA NA CABEÇA!
Direito e avesso


Quem é esta sereia
que se afoga na água
e em terra não caminha
quem é esta mulher
que me habita
e contra mim conspira
que é esta que se dá aos outros
mas a si se nega
quem será aquela
que em mim protesta
contra a injustiça
mas se mantém escrava?
quem me fez com esta
asa de gaivota
de ninho na areia?

Onde vou que tanto caminho
no lado escuro
da terra
olhando o lado claro
da lua
circulo
sou o começo

princípio
do labirinto

óvulo
olho



meu ventre cone

semente búzio

eternamente
a concha



a forma dos astros o intrincado mistério




(sou o começo
do labirinto
o olho
do labirinto
o cone
do búzio
a concha
do búzio

o intrincado mistério)


por desvendar....



Todo o Tacho Tem Seu Testo



Foi Adão sacrificado

duma costela

do lado

Deus tirou-me

Qu' eu não vi

Mas dizem que

foi assim



E ando desde essa altura

Na vida à tua procura



Dizem muitos que eu conheço

Todo o tacho tem testo

Talvez seja,

Não sei bem

Mas onde estarás meu rei?



Vivo à tua procura

Pra te dar minha ternura

Vivo tonta da cabeça

À espera qu' isso aconteça

Entretanto vou

Vou tão só e vou penando

Neste mundo sem lisura

Ando à tua procura




"Quase


Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num grande mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dor! - quase vivido...

Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim - quase a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!

De tudo houve um começo ... e tudo errou...
- Ai a dor de ser - quase, dor sem fim...
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou...

Momentos de alma que,desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...

Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...

Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...

Um pouco mais de sol - e fora brasa,
Um pouco mais de azul - e fora além.
Para atingir faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém..."

Mario de Sá Carneiro
...

Mais um ai e eu era vida


MAIS AMOR E EU ERA ALGUÉM
TANTO SOFRO NESTA TRILHA
SEM DESTINO, QUE CAMINHA,
P'RÓ NADA QUE EU VEJO ALÉM.


POR FOME NA ABUNDÂNCIA
POR SOZINHA ENTRE A GENTE
POR VULGAR MAS DIFERENTE
MAIS AMOR E EU ERA ALGUÉM.


SOU A POETA QUE MORRE
DE SAUDADES DE VIVER
UM BREVE OLHAR P'RA ME VER


NO CAMINHO TORTO SIGO
OUTRA SOU, UNA COMIGO.
MAIS OLHAR E EU ERA QUEM...



Maria Petronilho
Umbigo



BuscA

Demanda



Mar enigmático




Provindo

De uma cana

Numa fenda



De Abraçar os Sonhos





Menina sonhadora

morrerás acreditando

que asas de anjos perpassam

altas horas, de mansinho

soprando os teus pesadelos

nas noites só solidão;

menina que te desintegras

em carinhos de ilusão;

menina de olhos vidrados

postos na imensidão;

menina porque é que caminhas

sempre no gume do abismo

entre o nada e a ingratidão?

Levas os braços abertos

mas fica tão alto o céu

quanto acerado é o chão!















Mas assim que o sol voltar!



Mas assim que o sol voltar
eu sinto que irei voar
liberta p'ra te encontrar
saltitando nas gotinhas
rebrilhando nas janelas
transparentes as vidraças
como sempre nossas almas
que tanto cantam aladas


negam distâncias
quais harpas


nesta certeza seguimos
somos maiores que parecemos

brincamos, choramos, rimos
haja sol ou cante a chuva
em toada de magia!


Pensando me desamarro
da mísera terra que encerra
este ser banal que sou.

A mente liberto em voo.

Árvore de multíplices ramos
Liberto os braços divinos

Mulher, em amor me dou!
LONGE... AQUI, A VOZ!



INCÓGNITO
CORAÇÃO LOUCO!
EVADE-TE DE TI
UM POUCO

DISTÂNCIA
SÓ EXISTE
NO CORAÇÃO
TRISTE
DAQUELE QUE
DE AMOR
NÃO SABE!



LONGE ...AQUI,
A VOZ ÉS TU!



Plena









a manhã se descobre em alvura

deténs-te

na madrugada que ora és

e que nasceu

da noite que passaste

com desvelo

olhas surpresa o teu próprio

reflexo



Amanheceste!



Por isso deambulas qual estrela

estremunhada ainda

serás Vénus ou a lua que paira?

sorris

ao certo sol de um novo dia

e surges

estrela viva a brilhar no céu,



Plena!





Ilha dos Amores




Desiludida de amar,

Fechei-me numa clausura.

Emparedei-me. Fugia.

Fui construindo uma ilha

Fingia que era liberta

Porque da praia mirava

O reverberar na água

Quando o sol nela deitava.

Sentia o ar que passava.

Escutava o mar que bramia

Ou então que murmurava

Em enleio me levava

Nas sendas da utopia

Esquecendo quanto tinha

Corpo humano onde habita

Centelha que necessita

Mais que ambrósia e poesia

Feminil corpo que anseia

Por carinho e fantasia

Que um príncipe venha ainda

Acordar-me com brandura



De cem sonos à deriva



Exulto de novo agora

Minha carne e minha alma

São instrumentos de corda

Que os teus dedos harpejam

Teus lábios fontes de beijos

Tuas carícias delírios

E dos sonhos que florimos

Emanam novos poemas

Que já não são devaneios

Mas ternos, fundos anseios

No aperto de teus braços

Nos nossos doidos segredos

Ao ouvido murmurados

Rejubila minha alma

Não mais sofre solitária

E minha ilha fulgura

De doce brilho, volúpia!





Aura em íntimo fulgor!







O poema escorre meigo

Dos dedos que se entrelaçam

Demora-se atado em beijos



Na batalha auspiciosa

Que em fúria se desata

Num candente entrelaçar!



Soltos os braços envolta

De nosso ser singular

Que se descobre plural



E duplicado se solta

Numa bem-aventurança

Aura em íntimo fulgor!





Estou Triste/ESTOY TRISTE



Estou triste
tão triste como
uma folha que cai vendo
o aproximar do chão
estou triste
não é outono
estremeço pressentindo
o tombo, a desilusão
estou triste
vou derivando
na órbita do falso mundo
que nada respeita e temo
entregar meu coração
estou triste,
tão triste vendo
nuvens negras impedindo
a chegada do verão!





*



ESTOY TRISTE



Estoy triste

tan triste como

una hoja que cae viendo

cómo el suelo se le acerca

estoy triste

no es otoño

me estremezco presintiendo

el sinsabor, la caída

estoy triste

navegando a la deriva

orbitando un falso mundo

que nada respeta y temo

entregar mi corazón

estoy triste,

tan triste viendo

nubes negras impidiendo

la llegada del verano!



María Petronilho

Versão em español: Alberto Peyrano
Manhã Negra em Madrid







Hoje o sol que deveria

Pressagiar primavera




Vendo a chispa que rodava

Em sangue se deslindava

E na dor estremecia



Cerrou os olhos no céu

E de lástima chorou



Hoje os trabalhadores

Jazem estendidos no chão

Como se fosse domingo



Na cidade ensimesmada


Corre o sangue e o ar vibra


De indignição e de pranto



A cobardia anda à solta

Após ter saído à rua

Projectado com frieza



Executado a matança



Lisboa, 11 de Março

2004
ABERTA ALMA




TENHO MINHA ESTA GRAÇA
DO SENTIR
Á FLOR DOS OLHOS
DA TERNURA
Á FLOR DOS LÁBIOS
DA CARÍCIA
À FLOR DOS DEDOS
QUERER AJUDAR OS OUTROS
IMENSA SEDE DE AMOR!


ASSIM SENDO A MINHA ALMA
VIVE DE PORTAS ABERTAS!
Sina e Ser




Minha sina
Ser Mulher
Etéreo suave ser
Como um insecto
Uma flor
Minha essência
Voar
E
Sorrir
Multiplicar
Em mim cultivar
Amor!

incoerência


ser dia de festejar
e a minha alma chorar
por bem fazer mal haver?

de que adianta pensar
no outro em primeiro lugar
se nunca há-de entender?

nada quero que se veja!
a minha desdita é esta!
No meio do Todo!



Intento
Um percurso
Claro.

No obscuro denso,
Busco
Trilhos no incerto.

Só este ideal seguro:
Quero
O albume diáfano.

No distante ilimitado
Escolho
O incómodo rumo.

Denego
O pseudo exacto,
Cego.

Na inocência,
Fantasio
O desmedido.

Faúlha ínfima,
Anseio
Não me perder.

Procuro
Meu Ser verdadeiro,
Eterno.
LÁGRIMA







lágrima



escondo
o
encanto,
desvio
calada
o
pranto,
desdigo
a
cor
do riso.




fonte
tremente,
vela
no rosto
à
deriva.
rio
fluindo,
desvendo
a
raiz
de mim,
roxo lírio.




levo
o
desfeito
mar
magoado
e
exponho
o
querer
sonhado




se
em minha fonte
surgira
a
esperança
o
brilho
claro
que fora



a
ventura
o
arco íris
a
opala
o
claro resplendor
da
aurora.



Sopro e semeio pombas





na terra cega de ira

voem pombas brancas contra

Os estrondos e as chamas



eu semeio pombas brancas

ao escuro céu, numa prece:





que levem a toda a terra

pão, ternura e alegria



calem os tiros e os prantos

apaguem as fogueiras de ira



sopro e semeio pombas



no céu escuro dessa guerra

p’ ra que o dia novo traga,

numa alvorada de esperança,



todas as cores da paz




Se voltasse a ser criança...



vendo minha mãe-menina
penando “por minha causa”
como sempre escutava,
pouco a pouco recuava
pouco a pouco me abafava
enquanto minha mãe linda
pouco a pouco melhorava
nos seus braços me tomava
dentro dela me imbuía
ao seu útero voltava
largava o cordão da vida
sem que ela percebesse,
do seu ventre me soltava.
poupava tanta agonia,
se eu nunca, nunca, nunca
em criança me tornara!
PELOS MARES DE GALIZA, PELOS MARES DE TODOS NÓS!


... SOA NO AR O MEU CHORO
PELOS IRMÃOS DE GALIZA
QUE NÃO PODEM IR AO MAR!
POR ESSA MÃO CRIMINOSA
QUE INSISTE EM AFOGAR
NOSSOS MARES SAL E PRANTO
NA INFAME E VÃ COBIÇA
DE GANHAR
GANHAR
GANHAR!

...PARA A TODOS NOS PERDER
PARA NOS CRUCIFICAR
COMO A JESUS NAZARENO
QUE NOS OLHA A CHORAR!

QUEM ME EMPRESTA NOVA VOZ
PARA OS CRAVOS RENOVAR?!


30/11/2002

Talvez o sol




Volte a encontrar

A essência do meu ser

Que numa noite de brumas






Em vão te entreguei

... Talvez!


Que vou perdida de mim

Na deriva de outro mar...


Talvez reúna as gotas

Em que hoje me disperso


Talvez o sol reencontre

Que sou lua minguante

Na aba do teu olhar!

Transcendem







Do germe



A



Flor



Da



Ninfa



A



Borboleta



Da



Aparência



A



Essência



E



Nós?!









Equinócio


Autora: Maria Petronilho

Versão livre em espanhol: Alberto Peyrano



Esta noite as fadas brancas

Saem dos seus abrigos

E espalham alvas poeiras

Na luz de todas as estrelas,

O sol beija de longe a terra,

Com lágrimas de despedida

O frio da sua saudade

Desce nas gotas de chuva,

Nas crespas geadas

Nas manhãs de bruma

E entrelaça uma corola de cristais

Nos cumes das montanhas mais altas.

Na noite mais longa, a solidão grita

A alma estremece na sombra

Os poetas tecem mantas de nostalgia

Reacendem-se as lareiras nas casas

E serenamente o ciclo continua

Na perpétua elipse onde gravita

A cerúlea Terra apaixonada

Em redor da sua estrela.





Lisboa, 26/10/2003


***


Equinoccio









Salen las hadas blancas,

Esta noche, de sus abrigos

Y esparcen sus albos polvos

preñados de luz de estrellas,

Con lágrimas de despedida

Desde lejos, el sol besa a la tierra.

El frío de su nostalgia

Baja en las gotas de lluvia

Hasta la ola encrespada

En las mañanas de bruma.

Y entrelaza una corola de cristales

En las cumbres de las montañas más altas.

En la noche más extensa, grita la soledad

Se estremece en la sombra el alma

Los poetas tejen mantos de nostalgia

Vuelven a arder los hogares

Y, serenamente, el ciclo continúa

En la perpetua elipse donde gravita

La cerúlea Tierra enamorada

alrededor de su estrella





Lisboa, 26/10/2003



Hei de Cantar!

Maria Petronilho
Versão em espanhol: Alberto Peyrano


Quero que a canção
permaneça
em meu coração
em meu verso
em meu tormento
minha desolação.
Quero que a canção
não estanque
seja para sempre
artéria a brilhar
escarlate
até que meu ser se esgote

Hei-de cantar!
ai, vou cantar!
Digam que não posso
nem devo,
deixai-os dizer!
desobedecendo fui e irei!
Hei-de continuar
cantando!!!!


***


He de Cantar!



Quiero que la canción

permanezca
en mi corazón,
en mi verso,
en mi tormento
y mi desolación.
Quiero que la canción
no se estanque,
que siempre sea
arteria con brillo
escarlata
hasta que se agote mi ser. .

He de cantar!

Ay, sí, voy a cantar!
Digan que no puedo

ni debo
dejarlos decir!
Desobedeciendo fui e iré!
He de continuar
cantando!!!!


Sede de Paz/Sed de Paz

Maria Petronilho/Versão em espanhol: Alberto Peyrano


É Março.
Por esta altura
Todo o chão é de erva tenra
Ora verde ora amarela
Tantas as flores surgindo
Do sono invernal que finda
Vestem-se árvores de noiva

Cruzam-se linhas de sombra
Sob os raminhos floridos
De encontro ao céu azul
Ai abrir-me nele qual asa!
Penetrá-lo e perder-me
Dentro da paz infinita

Como se o ar me tragasse
Me sugasse, me embebesse
Desaparecendo fosse
A sorrir, sempre mais alto
Donde pudesse ver tudo
Fundindo-se, meu irmão!

Sem outra diferença que não
Conter vosso coração
Batendo-me dentro do peito
E olhar melhor se estando
Já meio fora do mundo

É Março
Tudo renasce mas
Neste meio tempo treme
Em suspense, a paz do mundo

***********




Marzo.

A esta altura

Todo el suelo es tierna hierba

Ora verde ora amarillo

Tantas las flores brotando
Del sueño invernal que acaba...

Se visten, las plantas, de novia.



Crúzanse líneas de sombra

Bajo los ramos floridos

A encontrar el cielo azul

Ay, abríme en él como un ala!

Lo penetré y me perdí

En una paz infinita.



Cual si el aire me tragase

Me absorbiese, me atrapase

Desapareciendo lenta

sonriendo, siempre más alto

Donde pudiese ver todo

Fundiéndose, hermano mío!



Sin otra diferencia

Que el latir del corazón

Golpeando contra mi pecho

Se ve mucho mejor estando

Ya medio fuera del mundo



Marzo.

Todo renace, pero...

En este entretiempo tiembla

En suspenso, la paz del mundo

10 de Março de 2003
Envelhecendo







Envelheço, sim, com orgulho!

Que quererias?!

Que pedisse emprestadas horas

Às gerações vindouras,

Eu, que findo?!

Cabe-me olhar amplo,

Que já vi tanto

E resisti de sobejo.

Cabe-me ser tronco,

Que não ramo prometendo

Florir sem fruto.

Cabe-me ser esteio

Aos que no vento se arrojam.

Serenamente aguardo o sagrado limbo

De onde emergi e onde mergulharei

Atavicamente



De novo.





Se Eu Pudesse



"Se eu pudesse trincar a terra toda
E sentir-lhe um paladar,
Seria o mais feliz momento...
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural...



Nem tudo é dia de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se.
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva...



O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica...
Assim é, e assim seja... "


Alberto Caeiro




Se eu pudesse


Se eu pudesse arrastava e afogava
Nos mares do mundo,
As tristezas que infestam as terras
Criadas ou aparecidas para certas
Coisa inauditas, como homens feras;
como feras que são mais certas e meigas
do que muitos homens senhores patetas
que pensam que sabedoria requer bibliotecas,

Mas persistem de olhos fechados às coisas!



Maria Petronilho



Estrela /Étoile - Plynio Sgarbi (trad. p. francês M. Petroniho)



Estrela

Ahh ! se dos céus eu tivesse
a luz dourada do dia
a luz prateada da noite.

Mas, sendo o meu nome Ninguém
só tenho os meus sonhos.
Sonhos que estão sob seus pés.

Por que você caminha neles ?

O brilho que está iluminando
a linha do meu horizonte .
O brilho alimento
que minha alma devora.
Fico eu aqui pensando numa Estrela...

Sonho e a desejo

** * **

Étoile

Ah! Si des ciels j’aurais
La lumiére dorée du jour
La lumiére argentée de la nuit !

Mais, puis que mon nom n'est que Personne
Je n’ai que mês rêves.
Revês qui sont sous tês pieds.

Pourquoi marches tu sur eux?

L’éclat qui enlumine
La ligne de mon horizont
L’éclat que je nourris
Mais que nom âme dévore.

Et je reste ici en pensant sur une étoile…

Que je rêve et qui me brûle !


Escrito por Plynio Sgarbi às 20h23

Trad. para o Francês: Maria Petronilho




Do cálido beijo







Levito

Na brisa



Fluo no azul

Diáfano



Excedendo

O além de



Botão abrindo



Do cálido beijo

No âmago



A vida

Transluz



Imaculada



Fulgurante

Florida



Reacendo

A vida.





A Flauta Mágica










Houve um tempo em que vivia
à deriva, e só tinha
meus livros por companhia.


Escutava muito atenta
o sininho que tocava
se uma rês se tresmalhava
do rebanho que levava.


Era o tempo em que cria
ser princesa encantada
e dia a dia esperava
o princípe que me levaria...


Se uma flauta de pastora
minha mente transformava
na música em que vagueava


a minh' alma peregrina
que no encanto se evadia
para um mundo que sonhava
para um mundo que não tinha


E assim salvei minha sina
era mágica essa flauta
que tocava e eu escutava
sem saber d' onde o som vinha...
NO TEMPORAL


Toda a gente ouviu o vento.
Zunia zangado
na noite fechada
Berrava e bramia
nas janelas trancadas,
nas golas, nas pernas açoitava
todo o que o afrontava.
Pensava o vento,
dizia na sua voz zangada :
- Como te atreves, ó Nada ?!
Na noite funda, sou eu quem manda !
Na noite escura
não quero ver nada
que o meu furor não faça !

Amanheceu em chuva, chorando, o céu
O Sol ficou em casa.

...Mas os "meninos de rua",
no tempo duro e violento
tinham perdido como que uma asa:
numa rajada de medo, fora
voando, a sua casa !
Ah se eu pudesse ...
AH SI JE POUVAIS ...

Maria Thereza Neves



Ah se eu pudesse colher todas as flores do campo
AH SI JE POUVAIS RECOLLER TOUTES LES FLEURS DÊS CHAMPS

tingir me toda de branco
ME DRESSER TOUTE DE BLANC

descer todas as escadas!
BAISSER TOUS LES ESCALIERS!

Ah se eu pudesse cantar todas as músicas
AH SI JE POUVAIS CHANTER

apagar todas as tristezas
ENLEVER TOUTES LES TRITESSES

perfumar todas as rampas!
PARFUMER TOUTES LES Chantas!

Ah se eu pudesse guardar todos os meus beijos
AH SI JE POUVAIS
GARDER TOUS MES BAISERS

juntar todos meus abraços
JOINDRE TOUS MÊS ÉTREINTES

amarrar com laços
RELIER AVEC LIMPIDITÉ

escorregar nos seus braços!
RAVIR DANS TES BRAS!

Ah se eu pudesse diminuir a distancia
AH SI JE POUVAIS DIMINUER LA DISTANCE

encurtar todos os caminhos!
SOUMETTRE TOUS LES CHEMINS !

Ah se eu pudesse ...
AH SI JE POUVAIS...

... Neste Dia...
...CE JOUR LA...

Eu me daria a Você!
JE ME DONNERAIS À TOI !

(Tradução para o francês: Maria Petronilho)


Como se rosa desnuda
colhida por tua mão
no ar gélico perpassa
tremendo, meu coração!
Carta
A Jean Louis Bouchet



Querido Poeta


No planeta aonde estás
Não existem diferenças
Nem burocratas
Nem hipócritas
Nem sofrimentos
Nem pesadelos


Estrela, te volatilizaste


Das temperadas
Ternas e eternas
Amizades

Que cultivaste enquanto eras

O conforto
De quem se sentia só
Altas horas
Quando voavas


(Em figurinhas
Carinhosas e atentas
Diáfanas)

Somos voláteis
Poeiras estelares
Ansiando a paz
Entre torturas

Tu estás na Paz!

É O SONHO QUE ME LEVA!



JÁ ME VOLATILIZEI
NO ÉTER ETÉREO.

PAIRO COMO ORVALHO
PELAS ROSA CRAVOS E ERVAS

ME DISPERSO.
QUE NÃO ME FALEM
DE BARREIRAS

NEM DA INCONVENIÊNCIA
DE ME ACHAR DISPERSA
EM SUSPENSAS GOTÍCULAS
DE BREVIDADE.

NÃO CONHEÇO PAREDES
NEM TELHADOS.
PAIRO INDISTINTA

ONDE A NUVEM ME SEMEIA
LARANJEIRA, CEREJEIRA
NÃO CONHEÇO AS CORES

MAS OS AROMAS ESPALHADOS
QUE A VIDA ESPELHA.
NO AR VAMOS
DO AR SOMOS

ESTAMOS TÃO LONGE
DA REALIDADE CRUA
E AINDA TÃO PERTO
DA TERRA NEGRA!

HOJE E SEMPRE
É O SONHO QUE ME LEVA!



Rosé


Rosé, que a vida são dois dias
Já que passamos tantas
Tantas injustiças
E incertezas
Caminhemos
No lado de Luz
Para os querem luz
No lado do sim
Para os querem sim
No lado do bem
para os querem mal



Mas caminhemos
Ai vida tão alegre
Que brincas
Nas simples poças de chuva

Caminhemos no nosso caminho
À nossa maneira

Embriaguemo-nos com
Doce Rosé!


Aimer, un jour !
Plínio Sgarbi
* Trad. para o francês: Maria Petronilho




J’ái reposé au soleil des matins
Et des printemps parfumés

Et aux nuits chauds troublés
Et aux soirs d’êté oú je flânais

J’ai eté voyageur aux nuits gelés d’Hiver
Que j’ai fait ravir par le clair de lune
Aux pluvieux matins d’Outomne

Pour la paix dorée de la lune
Pour l’argenté éclat des étoiles

Dans le filet coupant du vent
Et aussi de la pluie
Donc les gouttes me blaissaint

Un Neruda comme présent
Dans l’absence, en cherchant
Je coleccione dans la memoire
Quelques larmes donc j’ai réconnu des riviéres
La douceur souriante de l’enfant à six ans
La pose ange-doctoresse de la fille maîtresse.

Mais le plus fascinant de la vie
C’est que te rencontrer était peut-être mon destin
Et, avant que mon cœur explose
Je voulais seulent que tu savais
Que maintenant je rêve !



NUVEM


Nuvem!
Irmã redonda.
Cinzenta.
Filha branca
e dourada
que desanda

tapa a lua.
Chuva.
Chora.
Dá a seiva
ao chão seco
que copula.

Mãe desfeita.
Abraço
e abrigo.
Fica comigo
nua.
DEIXEM CORRER AS ESTRELAS COMO SE FOSSEM RIOS!




DÊEM-ME OS GRITOS DAS NUVENS EM MANHÃS FRIAS
OS GEMIDOS DE ESTRELAS TORTURADAS
LOUCAS DE TÃO INTENSAS

E DEIXEM CORRER COMO UM RIO ESTES MEUS POEMAS!
Sem Asas

sem asas ainda tento
subir pelo céu adentro
ir mais além do luar
além do solo cinzento
que tanto me faz chorar

sem asas ainda voo
ao encontro do futuro
por cima das rubras chamas
ultrapasso o grande muro

aonde o desespero
nos deixa de mãos caídas
sem asas ainda tento
levantar as nossas vidas


Dentro de minha alma









Florescendo ainda
Ergue-se um ramo
De nova enxertia

Dentro de minha alma

A flor que devia
Estar pálida e nua
Se ergue renascida.

Dentro de mim soa
Um hino de esperança
Que vibra no vento

Dentro de minha alma

Reluz a fagulha
Que irrompe da sombra
E sobe e crepita

Em meu canto voa!

Comoviendo el viento
(espanhol/português)





Ahora que es noche cerrada

Y nada más que la luna

Y las estrellas, lejanas

Parecen disipadas en la distancia

Yo me percibo más y más cerca de mí,

Como se fuera una de ellas

Tal un hilo de albor

Penetrando por las ventanas

Haciendo conmover el viento

Debido a la convicción que llevo

¡Que soy eterna en el Infinito!










Comovendo o vento



Agora que é noite cerrada

E nada mais que a lua

E as estrelas, longínquas

Parecem dissipadas na distância

Percebo-me ainda mais perto de mim

Como se fosse uma delas

Tal um fiozinho de luz

Penetrando pelas janelas

Fazendo comover o vento

Da convicção que levo:

Que sou eterna no Infinito!
Prece da Chuva




Chuva,
cai
do céu
generosa
e
engravida
a terra
nossa
com teu
infinito
esperma!

Chuva,
cai,
traz
esperança
de pão, de paz
e
bonança
frutifica
a
sementeira
perdida
tanta
boca
sequiosa!

Ó benção
do céu
vem,
E espalha
a promessa
de
pureza
que tanto falta
na
Terra!



CRAVO NEGRO RUBRA ROSA



Rubra Flor
De mim em mim
Escondida
Pétalas de cravo negro
Cálice de rubra rosa

Flor de onde a vida emana
Que em si mesma pulsa vida
Quando a paixão soa
Toca seu veludo
De mistério de búzio

Corpo de brilha invertida
Por onde a seiva se infiltra
Renascendo viva viva
Grita exalta-se respira

Flor de mim que soluça solitária
Vazia de néctar de Ambrósia
Viera inunda-lá aurora
Perfuma-lá a maresia

Flor sagrada flor
Mão estendida
Fonte Pujante
Límpida ria
Delta de mim que sou feita
À imagem da mãe terra
Lua lira

Cravo negro
Rubra rosa
Meu cálice
Em flor
Orquídea.

DESUMANA IRONIA



QUEM TERÁ ASSASSINADO
JESUS
GHANDI
LUTHER KING?

QUEM OS TERÁ
CONDENADO
À MORTE
SE
A VIDA
DEFENDIAM?

E DEFNENDO-A, MORRERAM

INTRÉPIDOS,
ATRAVESSARAM
O DESERTO
DO TEMPO
ERGUENDO
SUAS VOZES
QUAIS
BANDEIRAS

BRANCAS TÃO BRANCAS
DA PAZ

E EM RUBRO SANGUE

OS MATARAM!
Tenho Medo de Sonhar



Meu sonho
esvaíu-se
no vento
voou
como um pensamento,
não sei
onde foi
parar.
Meu breve sonho
sorrindo
aos poucos
se foi
sumindo
não sei onde
o vou achar.
Meu sonho tão breve
ardeu
a tristeza
o varreu


... tenho medo
de sonhar.

COMPANHIA


Ter a tua companhia
Ao longo da minha estrada.
.... Maria afortunada!
Coincidência?! Seria,
Se crês na coincidência
... Ou então é nossa estrela
Que emite
Luz na frequência
Da minha noite, teu dia
Mistérios de astronomia?!
Como de nada sei nada
Vou contigo em alegria
E levo-te em minha alma!


agora que descobri



que me tenho só a mim
viverei sem dó sem ti

serei narcisa?! não sei
nunca no lago espreitei
tão-somente descobri
que serei feliz sem ti

antes eras a quimera

porém hoje descobri
que serei feliz sem ti

e a risonha primavera
me deixa por outro à espera

quero alguém que me mereça
que se me dê sem que eu peça
e que me tome inteira
me ame dos pés à cabeça
e eu ame na parte inversa

descoberta sedutora

serei menina, senhora?!
isso inda não sei bem
só sei o muito que amei
e o tanto que sofri
até que me descobri!







"DIAaDIA"



dentem-se em marasmo o barco
da esperança que amanhecia
que vai cedendo
e balança
na opaca desventura

horizonte de negrura
cresce ameaça e avança

fala-se à boca pequena

aperta-nos a garganta
a garra impune
que rouba
o pão nosso
que nos falta

Vale-nos
crer ainda
mudar este mar da vida
em verde lavra
ceara
em novas ondas
de esprança
novos tempos
de mudança
novas marés
de ventura

Na Solidão



Perdoai-nos, aos sós, permanecer
presentes entre vós, os escolhidos.
Desculpai nossas mazelas, que mantemos
sob o lençol dos gemidos.

Deitai preço ao ar que ainda vos roubamos
que nós, ao desistir, descontaremos
do total abandono em que nos vimos.


Depois do fim, lá vos esperaremos
de bouquet comprado à pressa,
por descargo de consciência...


Depois de desaparecermos veremos
o prazer com que pagareis os funerais
onde vos será dada uma chave de inocência

e um recibo, que não esqueça!
para que o patrão que nos devorou faça
a sublime, majestosa graça
de vos pagar de nós os últimos encargos.



... das maçadas ninguém vos daria um cêntimo,
portanto...


Abstei-vos!
Afastai-vos!
Sou só




tenho
de mim
o que
sou

dou de
mim
o que
dou
O ser
que
sendo
se deu
que
sendo olhar
passou e
nem ficou
nem morreu.



Adeus de Mim



Porque me sentirei
Tal gota explodindo
No espaço vazio
Fora e dentro
De meu peito?

Porque me sentirei cega
Sentindo centelhas
Soando metálicas
Tinindo
No compasso
Implacável das horas?


Resvalo num Adeus imenso
Diluo-me no silêncio
Em que a música embalava outrora
O ritmo candente de meus versos

Digo-me adeus
Porque de dentro de mim
Parto
Sem que nenhum porto
Sinta
No aguardo!

Escuta o Vento









Num instante

O dia rolou

E a noite nasceu



Os pássaros

Cessaram os cantos

Esconderam os olhos

Nas penas

Por causa das estrelas

Que despontam no céu.



O sol fechou os braços

E a lua estenteu-os

Os poetas entoam

Ainda mais altos

En-cantos.



E o vento amainou

Como se escutando

O MOMENTO PRECISO


É preciso estar atento
À vastidão do pequeno,
À pequenez do imenso.

É preciso entendimento.

É preciso amar a flor
Muito além da sua cor,
Perpétuo ninho de amor,

Sinal de renascimento.

É preciso apreciar
Cada coisa em seu lugar
Que chorar e espairecer

É Viver
O instante preciso!

Se!!!
Um amável lusitano
pelo braço me tomara
docemente encaminhara
dizendo-me num sussurro:
vamos à Costa, que é Maio!
É tão lindo o nosso mar
E
Abrem-se sobre dunas
as mil flores das mimosas!
Lendo-te



Lendo-te desperta o sonho
Que se solta e te encontra
Num voo imenso e lindo

As palavras vão florindo
Quais borboletas,
O espaço


Lendo-te estou contigo
Num ledo, terno momento
Num ditoso, estreito abraço!


coração rouco





Nosso coração está rouco

A angústia do nosso pranto

banha-nos a face enquanto

impotentes vemos

desaparecer quanto amamos

e a terra onde nascemos

semeada de esqueletos





e assentam-se nos tronos

com esgares de indiferença

os patronos da desgraça

que não tomam providência!





CANTAR CHORANDO



POR MAIS QUE O SOL ME AMARGURE
JAMAIS SEREI ESPADA.
POR MAIS QUE A NUVEM ME MOLHE
SEREI PARA SEMPRE POMBA.
POR MAIS ESCURO QUE O MAR ESTEJA
SEREI SEMPRE UMA ASA BRANCA
UMA CONCHINHA NA AREIA.
AINDA QUE MORRA A LUA
EU TEIMAREI EM SONHAR
QUE BRILHA NO CÉU LUA CHEIA
NA AUSÊNCIA DO LUAR

PODE A CIDADE SUBIR
PODE CADA UM QUERER
POR CIMA DO IRMÃO PASSAR!
CONTINUAREI MINHA SAGA
DE CRESCER JUNTINHO À ERVA.


TEIMANDO CUMPRIR
AI, QUANTAS VEZES EM DOR,
A OBRIGAÇÃO DE VIVER!


MAS VIVO SORRINDO SE APRENDO
MAS VIVO CANTANDO SE POSSO
DEGUSTAR O SAL E O MEL


E OLHAR...


OLHAR LONGE...
DO CANTINHO DONDE OBSERVO
UMA JANELINHA SEM NOME
DONDE VEJO COM ENCANTO
A BELEZA AO CÉU ERGUIDA
E AQUELA QUE VAI ESCONDIDA
COM VERGONHA DE APARECER.


VIVO CANTANDO SE ESCUTO
VIVO CANTANDO SE LEIO
SEM NUNCA DEIXAR DE SER
MEU CORAÇÃO O PULSAR
MEU CORAÇÃO O OLHAR
MEU CORAÇÃO O QUERER
DE MEU AMOR



VIVO E CANTO
ESTE CHORAR CONVULSIVO
EM QUE DOLORIDA CREIO


E SIGO


... MESMO SE CANTO NO PRANTO
DE TANTO MAL SE FAZER
E SEM LHE PODER VALER!
TANTA FOME E DESAMOR


AO INVERSO DE LAMENTO
REVERTO EM CANTO O MEU CHORO


INSISTO EM SEGUIR CANTANDO.


Solta de mim o Passarinho




paixão
tangente de ti
no escuro
me perco
se te não tenho
detens
o meu sorriso
suspenso
no teu silêncio
vivo na dúvida
permaneço na inverteza
calada
a voz presa
de emaranhadas
proibições
muralhas erguidas
cada vez mais altas.
É certo que o meu querer
tem asas
mas falta-me o vento
para me lançar
e sem voar
não tenho
como fabricar de nuvens
inventar de novo
este meu sorriso
moribundo

solta de mim
o passarinho
que cantava
na ventura de teu peito
nem que apenas valha
seu canto
um suave laivo
um breve sorriso
dos tantos
que entre nós voavam,
meu amado!

Ser Feliz






É demorar o momento
Fazê-lo sentimento
Inteiro



Aceitá-lo



Somos
Poeira no vento
Rebrilhando

Bailado eterno


Além de nosso
Precário
Casulo


Adejando

Além do tempo
Crescendo
Subindo


Sorrindo

Serenamente



o dia brilha
re-nasce o sol
uma criança desperta.


Alegria e Esperança


vêm iluminar
a
Razão de Ser
VOU ESTAR SÓ



Só vou andar na areia macia.
Só vou beijar a água crespa do mar.
Só vou olhar as dunas douradas pelo sol
ou, à noite, prateadas p'lo luar.

Vou estar só.

Quero estar só
se não puder estar contigo

UMA ROSA PARA CADA



Asilo no seu coração

As lágrimas de meus olhos

Salgadas de compaixão

Recolho do seu aroma

Bálsamo para os que vão



No seu coração de amor

Debalde tento olvidar

A feroz devastação



Homens, mulheres, crianças

Em instantes estropiados

Ante a nossa assombração!








Lisboa, 12 de Março de 2004


Cais



Por mais que se saiba

Quanto é breve a vida



Que somos Centelhas



Flores cujas pétalas

Tremulam no tempo



Como dizer ao coração

Que se aquiete

E às lágrimas

Que se recolham

Aos salgados ninhos?!



Como deixaremos

De sofrer saudade

Daqueles que amamos?!



Olho o Imenso

E peço O conforto

De em nós aceitarmos



O cais da depedida

E a longa distância

Dos que já não vemos


AS PONTES


Vejo o sol que amanhece no céu sereno.

A terra canta em silêncio
nas margens do rio
se pontes servirem
de passagem
entre margens

que não transpostas
a ferro e fogo
em violento desafio, pela arrogância de dizer eu venço,
eu tenho, eu mando
- eu mando! - eu posso;
de nada servirão.
Que caiam inteiras.

Para que as pontes entre os que não procuram
o encontro?

Mero engano de que rio; mero engano por que choro
com as vítimas inocentes deste jogo
jogadas como peças no desumano desvario.

No horizonte envenenado de cinzento, o sol renasce entretanto
escondido, esquecido
seu ouro vivo de sempre-eterno encanto.

Mulher Mar és



Ai se a vida girasse
Num rodopiar de valsa!
Mas vamos no romper da onda;
Sendo o ninho da vida
Nosso colo, maré calma!
Neste momento







Um pássaro
Rompe
A madrugada

Perfura o ar e o céu,
Que lhe chamam seu.

Mas o pássaro
Escuta

O longe
De onde apela
Outra voz
Ainda mais alta

Fura tempo e madrugada

E livre

O pássaro,
Passa!


Frágil força







A da flor que transluzindo

Num vigor desmesurado

Rompe no frio a clausura



Da terra que a encerra



No âmago a empurra

Profunda ânsia de altura

Aonde abraça a luz pura



Gota de orvalho na beira

Da pálpebra enternecida

Na franja da madrugada



Que traga o sol que a traga

A eleva e a transmuda

Se na precária existência



Em clara vida e ternura.

A ti, meus sonhos entrego



Na noite fria, aconchego
Meus sonhos acalentados
Na ausência de teus braços.

Embala-mos como se fosses
O ramo donde provenho
A raiz onde sustenho
Minha solidão, cansaços.

Que retumbem sons horrendos
Que relampejem os céus
De mil fulgores, que eu
Só na escuridão desvendo
Ninho e zelo, valimento...

A ti, meus sonhos entrego,
Embala-os nos teus braços!

Desespero


Onde está a minha força,
o meu orgulho altaneiro?
Perante Ti sou cordeiro.
Sinto invadir-me inteiro
aquele estado de alma
de nada qu'rer tudo qu'rendo
Em vão, em vão, em vão...
Os braços Te estendo
sobre corpo e alma os fecho
vazios de todos, de tudo
triste, inertes os desço.
À porta bate o desespero:
renego o impulso e retomo
a ténue vereda da esperança
vagueio por entre o fumo
sigo trôpega o caminho,
aquele onde Te procuro
aquele aonde recuso
perder minha fé em tudo!

Se bem que reluzas e eu estremeça


Húmida vela ansiosa à tua beira
Na beira te observo
Fazendo negaças com outras
Tremendo e fingindo que nem te vejo
Ris de luz para que eu veja quanto brincas
Embora aspires que te mostre o meu desejo
Afim de me levares nu imensurável mergulho
De tua volúpia que dança
Com a minha às escondidas
Dizes tanto que me queres
E lês no meu silêncio como num livro aberto
Mas eu sufoco o suspiro dentro do peito
E agarro o coração em fuga
Que deseja o ninho de teu peito aberto
Preciso que entendas que não basta
Lançar-me contigo
Num voo delicioso
E ficar depois esquecida no fundo
Coberta de algas de esquecimento.
Bem podes brincar e rir com as ninfas,
Fazendo-me negaças, provocando-me ciúme!
Ficarei a enterrar-me caladamente na areia
Aonde te espraias e exaltas
Enterrarei comigo o constante sofrimento
Até que percebas que tomar-me é beber-te
Dissolver-me contigo num só
Como dois braços num mesmo rio
Indelevelmente; como se águas na foz.
Conhece-me e entende-me.
Fita-me e abraça-me inteiramente
De corpo e alma, indissoluvelmente.
Que enfim nosso beijo se prolongue sem tempo.
Que cada poro da nossa pele esqueça a quem pertence.
Abrigar-te-ei em mim, profundamente
Sem reservas. Aberta, livre e ansiosa
Trocando carícia por carícia, inteiramente tua
Nossas águas serão enfim só uma
No âmago de minha ria, meu delta na tua deriva.
Então faz-te tempestade em altas ondas
E arrebata-me como um barco que naufraga
Sem remissão, sem saudade do azul do céu de outrora.
Do sol que lhe escapa para sempre
Pois mergulha feliz no abismo que apetece.
Não abafes meus gritos, que não sou de silêncios.
Sou como as gaivotas que gritam enquanto sobrevoam as águas
E não temem fazer ninhos que flutuam.
Explode dentro de mim bem fundo
Deixa que o rubor de meus mamilos erectos
Se desvaneça de encontro ao teu peito
No ritmo de nossos corações descompassados.
Escuta-me então ao dizer quanto te amo
Como louca que se repete, porque fala minha alma
Do fundo de sua nudez quase inconsciente.
Fiquemos unidos num longo abraço
Numa comunhão que pacifique os nossos sentidos exaltados
Até que um sono profundo nos tome e nos refaça
Para acordarmos felizes na ventura da entrega
Na retoma da batalha inefável, mútua conquista
Em que ambos somos conquistadores conquistados
Bem podes, entretanto, dizer que me queres, com olhares de soslaio
Enquanto brincas em negaças com as outras!
Ficarei tremendo ansiosa à tua beira
Até que entendas que entregar-me significa
Dissolver-me contigo numa fusão de infinito!

A minha irmã africana







Nasceu na livre savana

Foi apresentada à lua

E as estrelas, uma a uma,

Vieram beijar-lhe a testa.

Às costas da mãe, sacoleja

E tudo aprende e observa

Na pele parece que a brisa

Respira

Tropical

Pureza

De suas mãos em cadência

Bate o pilão na farinha

Sobre a cabeça levanta

O pote de água fresca

E o seu filho balança

Na alça meiga da anca

E se tiver fome, mama.



Quanta harmonia emana

De minha irmã africana

Casada com a natureza!


domingo, abril 04, 2004

SOBRE VIVER




sobrevivi vendo
resistindo com mansidão
a questão não está na violência
mas na permanente
observação
e na subtileza
costumo imaginar-me
como uma gazela na savana
espertas orelhas alertas
faro e olhos despertos
se a perseguem
da meia dúzia
de valentes saltos
para que o perseguidor
desista
a seguir deita-se
na grama
camuflada
sem folego nem,
para mais um salto...
... E incessantemente, se renova!...


Amante meu,
Mar preclaro
Oiço teu longo apelo
E caminho ao encontro

O Solo poroso
Apaga-me o passo

Veeeemmmmmm
Ter comigo
Escuto-te, mar, dizendo

E vou! E vens tu
Poisar a orla no meu regaço

Ah, inebriante abraço
Como se fosse
Este mútuo mergulho
O último acto de amor
Nosso há tanto tempo
Contido
Na fímbria do desejo

De me lançar nua
No teu colo....

Quanta ventura
Sentir tua espuma
Tomar-me inteira

Adentrar-me branca
Inteira tua sereia

Fundamente inebriada
No cerne aonde

A terra acaba, o mar começa

...E incessantemente se renova!