segunda-feira, janeiro 31, 2005

Se o silêncio é de oiro



Hoje faço-me silêncio.
Excepcionalmente hoje,
que me estanquem nos lábios
as correntes das palavras
que não digo nem escuto.
Sequer o mar longínquo
me segreda murmúrios
de terno aconchego.
Tudo está calado, como se o vazio
contivesse o soído na noite.
O sol brilha, no entanto
e disfere profusamente
correntes de oiro descoberto,
mas de tão banal e gratuito
passa desapercebido.
Os homens decidiram
envenenar os rios de mercúrio
revirando nas mãos combalidas
as vísceras da terra descarnada
buscando o brilho na poeira
com que revestem a vaidade alheia,
a levantar a cabeça e aspirar fundo
o aroma das florestas refulgindo

... Portanto remeto-me ao silêncio
e busco que correntes de lágrimas
me desenxovalhem o rosto.



Lisboa, 21/9/2004

Sem comentários: