quarta-feira, maio 11, 2005
Quem foi que me concebeu?
De quem fez o embrião
Que a luz divida tocou,
Pergunto-me: o que sei eu?
Que ele era bonito e mau
E ela um anjo do céu.
E os nomes que me nomeiam
Quem foi que os encarnou?
Como falavam e riam
Se riam... e como choravam,
se é que choravam, não sei!
Então como me criei?
Como um seixo que resiste
Derivando na corrente!
Maria Petronilho, 1997
De quem fez o embrião
Que a luz divida tocou,
Pergunto-me: o que sei eu?
Que ele era bonito e mau
E ela um anjo do céu.
E os nomes que me nomeiam
Quem foi que os encarnou?
Como falavam e riam
Se riam... e como choravam,
se é que choravam, não sei!
Então como me criei?
Como um seixo que resiste
Derivando na corrente!
Maria Petronilho, 1997
segunda-feira, maio 09, 2005
Não contemos as estrelas!
Os amigos são estrelas,
sempre presentes no céu.
Os amigos são flores,
sempre presentes no campo,
mesmo quando o vento
derruba as pétalas
e o gelo encerra as sementes.
Deixa que as noites e os dias se sucedam
Deixa que rodem as estações.
Os teus amigos estarão sempre lá,
apesar do tempo que faça,
impassíveis ao tempo que avança
com a ternura e a confiança
com que Deus cria as flores
e acende as estrelas no céu!
4/5/2005
Os amigos são estrelas,
sempre presentes no céu.
Os amigos são flores,
sempre presentes no campo,
mesmo quando o vento
derruba as pétalas
e o gelo encerra as sementes.
Deixa que as noites e os dias se sucedam
Deixa que rodem as estações.
Os teus amigos estarão sempre lá,
apesar do tempo que faça,
impassíveis ao tempo que avança
com a ternura e a confiança
com que Deus cria as flores
e acende as estrelas no céu!
4/5/2005
Que inquietação é esta?
(português/inglês, Maria Petronilho)
Dentro de mim
Uma ausência
Clama alto
Chora e grita
Por que implora?
Envolve-me
Sempre e ainda
A paz que foi construída
Por minhas mãos
Persistência
Mas em mim grita
A ausência!
Uma ausência
Que não tinha
Que de surpresa
Me apanha
E de súbito
Aguilhoa
Que inquietação é esta
Que transforma
A minha calma
Que mói fundo
A minha alma.
* * *
Which uneasiness is this?
Inside me
Some absence
Calls lowdly
Cries and howls
What does invokes?
Enfolds me
Ever and yet
The pace I make
With my fitting hands
Persistence
Cries inside me
Un absence!
Some absence
I had not
And surprising
Catches me
And sudden
Stings me
Which uneasiness is this?
It transforms
My calm
Crushing deep
My being.
(português/inglês, Maria Petronilho)
Dentro de mim
Uma ausência
Clama alto
Chora e grita
Por que implora?
Envolve-me
Sempre e ainda
A paz que foi construída
Por minhas mãos
Persistência
Mas em mim grita
A ausência!
Uma ausência
Que não tinha
Que de surpresa
Me apanha
E de súbito
Aguilhoa
Que inquietação é esta
Que transforma
A minha calma
Que mói fundo
A minha alma.
* * *
Which uneasiness is this?
Inside me
Some absence
Calls lowdly
Cries and howls
What does invokes?
Enfolds me
Ever and yet
The pace I make
With my fitting hands
Persistence
Cries inside me
Un absence!
Some absence
I had not
And surprising
Catches me
And sudden
Stings me
Which uneasiness is this?
It transforms
My calm
Crushing deep
My being.
PARA MINHA MÃE (OLHANDO O SEU RETRATO)
Mãe,
De onde te veio esse sorriso
Na precaridade e no sofrimento?
Com que olhares me criavas?
Que de mim esperarias?
De onde a força que levavas
Na vida-breve, tormento?
Como pudeste prosseguir sabendo
Que nada além de maior dor te esperava,
Que nunca me criarias, como dizias,
e eu sabia que sabias?
Tanto lias... mas porque bordavas
E como Penélope tecias infinitas rendas
Por um Ulisses que não merecia as prendas
Dessas mãos imaculadas
Tão finas, de unhas cuidadas,
Mãos de menina que eras,
Que menina findarias?
Olhando o teu olhar estremeço
De orgulho e se me vejo no espelho
No meu olhar vejo o nosso
Mãe coragem, atravesso
As altas chamas do mundo
E como tu vou cantando
O Fado que, nos calhando,
Na nossa voz reconheço,
E de coragem recobro
Do pouco de ti que lembro
Vamos, na vida e na morte, sorrindo!
Para minha mãe, Alice de Jesus Gouveia Petronilho, 1932-1958
11/2/2003
Mãe,
De onde te veio esse sorriso
Na precaridade e no sofrimento?
Com que olhares me criavas?
Que de mim esperarias?
De onde a força que levavas
Na vida-breve, tormento?
Como pudeste prosseguir sabendo
Que nada além de maior dor te esperava,
Que nunca me criarias, como dizias,
e eu sabia que sabias?
Tanto lias... mas porque bordavas
E como Penélope tecias infinitas rendas
Por um Ulisses que não merecia as prendas
Dessas mãos imaculadas
Tão finas, de unhas cuidadas,
Mãos de menina que eras,
Que menina findarias?
Olhando o teu olhar estremeço
De orgulho e se me vejo no espelho
No meu olhar vejo o nosso
Mãe coragem, atravesso
As altas chamas do mundo
E como tu vou cantando
O Fado que, nos calhando,
Na nossa voz reconheço,
E de coragem recobro
Do pouco de ti que lembro
Vamos, na vida e na morte, sorrindo!
Para minha mãe, Alice de Jesus Gouveia Petronilho, 1932-1958
11/2/2003
Os meninos
São os meninos
Que trazem os sonhos
A brilhar nos olhos
Que nada os impeça
De fazer de amor sua estrada.
Tecendo um futuro risonho
Que queira Deus aconteça.
Deixem soltos os meninos,
Ágeis, leves passarinhos,
Que num adejo de asa
Saem depressa dos ninhos
P'ra viver os seus destinos
No mundo, a sua casa.
7/5/2005
São os meninos
Que trazem os sonhos
A brilhar nos olhos
Que nada os impeça
De fazer de amor sua estrada.
Tecendo um futuro risonho
Que queira Deus aconteça.
Deixem soltos os meninos,
Ágeis, leves passarinhos,
Que num adejo de asa
Saem depressa dos ninhos
P'ra viver os seus destinos
No mundo, a sua casa.
7/5/2005
Desígnio
Hoje
é um dia que não é.
É um dia
em que não quero ser.
Quero por ele passar
como por uma estrada
de esquecimento.
Quero apagar as pegadas.
Quero que assente a poeira.
Passarei por ele inteira
pois alto esteio me escora:
Meu desígnio esplende aurora
que a este fadário inflama
Do carvão ressalta a chama!
8/5/2005
Hoje
é um dia que não é.
É um dia
em que não quero ser.
Quero por ele passar
como por uma estrada
de esquecimento.
Quero apagar as pegadas.
Quero que assente a poeira.
Passarei por ele inteira
pois alto esteio me escora:
Meu desígnio esplende aurora
que a este fadário inflama
Do carvão ressalta a chama!
8/5/2005
Faz noite negra, mas eu canto!
A canção dos jovens, a canção dos pobres,
a canção da esperança da gente do meu país.
Faz noite negra.
A lua brilha tão pequena!
Pequenas são as estrelas ao seu redor...
mas se toda essa luz se juntasse - que fulgor!
E luz é vida.
E para viver é preciso despertar.
A ao despertar esvai-se a noite.
Foi comido por si mesmo o negro pesadelo,
o susto desanuviou-se.
Sumiu-se em nada à luz do dia.
Dia em que a luz brilhe em todos os olhos
e em todos os sorrisos.
Dia de suspiros de alívio...
Esse o dia que espero.
Venha breve e venha prenhe de paz e de amor,
como o sol a pino.
Fujam daqui as manchas bolorentas do destino negro.
Bolor nas horas de todos os dias; na angústia.
Começa-se e segue-se sofrendo
sem que uma réstia de alvorada,
de ternura, ao menos luz no fim da jornada d
esigual da nossa vida.
Uns têm tudo; outros "têm" nada;
uns na soberba; outros na penúria;
uns os algozes; outros os servos;
uns arrotando e tantos outros mais de barriga vazia.
Acabem-se os lagos de pranto
em que afogamos o silêncio da vida.
Acabe-se o cada-qual-consigo
– nunca nada se conseguindo
... Enquanto se não entenda
que é NOSSA a mesmo causa,
como é NOSSA a mesma justiça
e que há que lutar de mão-dada!
A canção dos jovens, a canção dos pobres,
a canção da esperança da gente do meu país.
Faz noite negra.
A lua brilha tão pequena!
Pequenas são as estrelas ao seu redor...
mas se toda essa luz se juntasse - que fulgor!
E luz é vida.
E para viver é preciso despertar.
A ao despertar esvai-se a noite.
Foi comido por si mesmo o negro pesadelo,
o susto desanuviou-se.
Sumiu-se em nada à luz do dia.
Dia em que a luz brilhe em todos os olhos
e em todos os sorrisos.
Dia de suspiros de alívio...
Esse o dia que espero.
Venha breve e venha prenhe de paz e de amor,
como o sol a pino.
Fujam daqui as manchas bolorentas do destino negro.
Bolor nas horas de todos os dias; na angústia.
Começa-se e segue-se sofrendo
sem que uma réstia de alvorada,
de ternura, ao menos luz no fim da jornada d
esigual da nossa vida.
Uns têm tudo; outros "têm" nada;
uns na soberba; outros na penúria;
uns os algozes; outros os servos;
uns arrotando e tantos outros mais de barriga vazia.
Acabem-se os lagos de pranto
em que afogamos o silêncio da vida.
Acabe-se o cada-qual-consigo
– nunca nada se conseguindo
... Enquanto se não entenda
que é NOSSA a mesmo causa,
como é NOSSA a mesma justiça
e que há que lutar de mão-dada!
REVIVER
REVIVER
COMO A ÁGUA DE UM RIO
QUE SEMPRE EXISTIU
QUE SE EVAPOROU
E DEPOIS CHOVEU.
REVIVER
COMO O VERDE DA FOLHINHA
QUE VIVIA ESCONDIDA
NO BOTÃO DA PLANTA.
COMO O SOL QUE DESPONTA
E É SEMPRE OUTRO DIA.
REVIVER
COMO O MAR
QUE ORA TRAZ SUA ÁGUA
ORA A LEVA DE VOLTA.
REVIVER
COMO A RÃ DO DESERTO
QUE ESPERA ENTERRADA A CHUVA.
COMO A FLOR OCULTA
NA ENERGIA
DA SUA MÃE SEMENTE.
COMO O FILHO IMATURO
NO VENTRE DA MENINA
AO NASCER.
REVIVER
COMO A ÁGUA DE UM RIO
QUE SEMPRE EXISTIU
QUE SE EVAPOROU
E DEPOIS CHOVEU.
REVIVER
COMO O VERDE DA FOLHINHA
QUE VIVIA ESCONDIDA
NO BOTÃO DA PLANTA.
COMO O SOL QUE DESPONTA
E É SEMPRE OUTRO DIA.
REVIVER
COMO O MAR
QUE ORA TRAZ SUA ÁGUA
ORA A LEVA DE VOLTA.
REVIVER
COMO A RÃ DO DESERTO
QUE ESPERA ENTERRADA A CHUVA.
COMO A FLOR OCULTA
NA ENERGIA
DA SUA MÃE SEMENTE.
COMO O FILHO IMATURO
NO VENTRE DA MENINA
AO NASCER.
Mãe Eterna
Pomba branca,
tão breve, tão corajosa
ave linda que Deus trouxe
por um átimo à terra
astro que foste
cometa
e atrás de ti deixaste
no esmo frágil centelha
em soledade ferida
ah, mãe como eu aspirava
cobrir-te de rosas brancas
neste dia de lembranças!
mas relembro só de mágoas
as tantas flores que levavas
como se fosse este instante
como se do além pudesse
erguer-te mais que lembrar-te
ouvir-te e ter-te presente
beijo, amada, a tua sombra
aonde o céu te mantenha
esperando a tua filha
desvalida e pequena
desde que te foste embora
uma densa nuvem negra
abafou sua vida
7/5/2005
Pomba branca,
tão breve, tão corajosa
ave linda que Deus trouxe
por um átimo à terra
astro que foste
cometa
e atrás de ti deixaste
no esmo frágil centelha
em soledade ferida
ah, mãe como eu aspirava
cobrir-te de rosas brancas
neste dia de lembranças!
mas relembro só de mágoas
as tantas flores que levavas
como se fosse este instante
como se do além pudesse
erguer-te mais que lembrar-te
ouvir-te e ter-te presente
beijo, amada, a tua sombra
aonde o céu te mantenha
esperando a tua filha
desvalida e pequena
desde que te foste embora
uma densa nuvem negra
abafou sua vida
7/5/2005
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