segunda-feira, janeiro 31, 2005

Les souvenirs

sont des fleurs éternelles

Moi. Je suis la joie de vivre

Je me souviens de tous mes printemps

Quand je vivais sur des nuages !

Quand je combattais les ombres !



Puis !…

Un certain mois d'avril arrive

E mon été débute

par l’éclat d'une fleur rouge



Qui figurait la tonalité

de tant de nos cris muets !

Une fleur couleur de sang

qui nous apportait la paix !



Maintenant je m’accomplis

dans la douceur de mon automne

Si paisible ! Si rayonnante

Que j’ai l’impression, quelques fois !

Qu’aucun hiver ténébreux

Ne m’entraîneras jamais.

- - -

Maria Petronilho

As recordações

são flores eternas

Eu sou a alegria de viver

Lembro-me de todas as primaveras

Quando vivia nas nuvens

Quando combatia as sombras.



Então...

Um certo mês de abril chegou

e o meu verão começou...

No auge rubro d’uma flor



Que simbolizava o tom

de tantos gritos calados!

Uma flor da cor do sangue

que nos conduzia à paz.



Agora. Aconchego-me

na doçura do meu outono

Tão calmo, tão radioso

Que às vezes me parece

que nenhum inverno tenebroso

entrará na minha existência






PARA NÃO FALAR DE SAUDADE


EU, QUE SOU FILHA DAS ONDAS,
GRITOS DE MARÉS,
GAIVOTAS EM VOOS RASANTES,
ESPUMAS,


A POUCO E POUCO ME ENTERRO


NOS NUS AREAIS
EM BRUMAS.


NOS MEUS OLHOS VAI MORRENDO
A LUZ QUE DELES DIZIAS...


A POUCO E POUCO ME PERCO
BUSCANDO TUAS MÃOS
SE VOLTO
TRAZENDO AS MINHAS VAZIAS.

25/2/2002

ASA DE MAR / Ala de Mar


ASA DE MAR
MINHA BARCA
ARVORADA
NA NUA CRISTA DA ONDA


LANÇADA
NUA E PLENA
MINHA ÂNSIA
MINHA MÁGOA


DE VIDA ILUMINADA


AI DO QUE SAIBA
FICAR LEVANTADO
NA BORRASCA
VIRAR A CRISTA DA ONDA


COM O SONHO ATRÁS DO OLHAR
DEIXAR
SEM PENA OU PERDA
A BRANCA PRAIA


AI PERDER-SE A VIDA
UMA VEZ ÚNICA!

*

ALA DE MAR
MARIA PETRONILHO
Versão em espanhol: ALBERTO PEYRANO

ALA DE MAR
MI BARCA
ALBORADA
EN LA DESNUDA CRESTA DE LA OLA


LANZADA
DESNUDA Y PLENA
MI ANSIA
MI PENA


DE VIDA ILUMINADA


AY DEL QUE SEPA
QUEDARSE LEVANTADO
EN LA BORRASCA
SIN ZOZOBRAR EN LA CRESTA DE LA OLA


CON EL SUEÑO ATRÁS DE LA MIRADA
DEJAR
SIN PENA O PÉRDIDA
LA BLANCA PLAYA


AY PERDERSE LA VIDA
SÓLO UNA VEZ!

NO SILÊNCIO DA CASA



acordar para quê?
para ver as estrelas
tremular sumidas?

não mais margaridas
bordando as manhãs
nem o fresco rocio

cúmplice

os pés roçando-se nus
debaixo da mesa posta

recendia a casa
de aroma a ternura

mas

as pétalas das margaridas
estão agora esfolhadas
à espera das geadas

olhar cinzas, para quê?


Lisboa, 13/1/2004


Anjo-Estrela



Faço-me ânsia! Minhas centelhas
Tomam formas Percorrem distâncias
Envolvem-te alucinadas Divago no céu,
Em demandas Os olhos acesos
De urgências. As mãos implorando
As tuas Entranho-me em teus sonhos
E sussurro aos teu ouvidos
Cânticos infinitos, pois
Nasci entre os astros
E venho tomar-te nos braços
Para cingidos subirmos
À luz onde pertencemos



Se o silêncio é de oiro



Hoje faço-me silêncio.
Excepcionalmente hoje,
que me estanquem nos lábios
as correntes das palavras
que não digo nem escuto.
Sequer o mar longínquo
me segreda murmúrios
de terno aconchego.
Tudo está calado, como se o vazio
contivesse o soído na noite.
O sol brilha, no entanto
e disfere profusamente
correntes de oiro descoberto,
mas de tão banal e gratuito
passa desapercebido.
Os homens decidiram
envenenar os rios de mercúrio
revirando nas mãos combalidas
as vísceras da terra descarnada
buscando o brilho na poeira
com que revestem a vaidade alheia,
a levantar a cabeça e aspirar fundo
o aroma das florestas refulgindo

... Portanto remeto-me ao silêncio
e busco que correntes de lágrimas
me desenxovalhem o rosto.



Lisboa, 21/9/2004
Os Poemas

Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhoso espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...



Mário Quintana



LES POÈMES




LES POÉMES SONT DES OISEAUX QUE ARRIVENT
ON NE SAIT PAS OÙ ILS SE DÉPOSENT
DAS LE LIVRE QUE TU LIS.
QUAND TU FERMES LE LIVRE ILS S’ENVOLENT
COMME D’UN PIÉGE
ILS N’ONT PAS D’ENDROIT
NI DE PORT
ILS SE NOURRISSENT POR UN INSTANT À CHAQUE PAIRE DE MAINS
ET ILS S’EN VONT
ET ALORS TU REGARDES CE VIDE DE TES MAINS
DANS LE MEIVEILLEUX ÉTONNEMENT DE SAVOIR
QUE SA NOURRITOURE ÉSTAIT DÉJÀ DANS TOI...


Mário Quintana

(Trad. Maria Petronilho)





domingo, janeiro 30, 2005

No tempo da brilhantina

Tudo o via embaçava
Só o nosso olhar brilhava
Da mais profunda tristeza
Quanta a conta acumulada
Na mercearia da esquina!
Se brilhava na cabeça
O fulgor de uma ideia
Derrubavam-nos a porta
Arrastavam-nos à força
Para a prisão e a tortura.
Por fora o que brilhava
Era a glória abestalhada
“Como vai V.ª Excelência?”,
E o tolo e o parolo
vergavam-se um ao outro
Que o povo botava um lenço
De lágrimas ensopado
Para acenar ao filho
No cais de onde o navio
O levava para a guerra.
Que guerra? Nem o sabia! Soía
Que uns terroristas nas matas,
Queriam as tais colónias
Antigas, que tresandavam.
Nos tempos da brilhantina
Eu de vestido engendrado
De outros postos de lado
Cozinhava, limpava, cozia
E depois de espancada
Com o cinturão do polícia
Ia adoçar limonada
A que vinha habituada
De Angola, a minha madrasta.
Quando enfim me recolhia
Mergulhava na leitura
Embrenhava-me na escrita
Que a muito custo passava
Até ao norte de África
Onde pela uma hora
Manuel Alegre dizia
"Aqui, Voz da Liberdade!"
E os horrores desvendava
E as mentiras mostrava
E os nossos versos lia...

Anos dourados havia,
Para a nação impostora
Retratada em cada sala
Um à esquerda, outro à direita
Com a cara inexpressiva.
No meio um Cristo pregado
Mantinha-se angustiando
Ao ver-nos sofrer tal vida!


O meu grito



Tal como um raio revela
A solerte cobardia
Que perfidamente intenta
Emaranhar a lisura
Em jogos de alvar intriga
Mas o meu grito desvenda
O pérfido estratagema
Do calculista na sombra
Que o meu grito estraçalha
Na caverna onde se acoita
A insensível luxúria

Rasgo a mudez do silêncio

E o meu grito se faz eco
E esse eco se faz canto
Alastrando no céu limpo

Verso a explícita brancura

E o meu grito desabrocha
Em flor! Borboleta que voa
Transluzindo na evidência

O claro esplendor da alma.


quinta-feira, janeiro 27, 2005

Serenata



Que sonharia a moça
Que jazia solitária
Sobre a nua alva cama?
Quem atentaria nela?

Parecia que dormia

Nem as estrelas saberiam
Nem a lua infiltrada
Pelas dobras da cortina
De nada se tem certeza
Quando se olha de fora

Dormiria a bela alva?

Uma estátua parecia
Na penumbra desmaiada
Por onde vaguearia
Ninguém nunca saberia
Só a via a madrugada

Desprezara a sua vida
Que a si mesma sobrava
Com uma adaga enterrada
Em pétalas rubras a rosa
Sobre o nu lençol da vida
Em sangue se desfolhava.



Foguetes!



As lágrimas caem do céu
e a gente olha esquecendo
que chora todos os dias

que ao menos junho
nos amorne o desepero

meu povo que sou eu
na beira abismo
mantendo a esperança
hasteada na janela

e viva a bola, a música e a sardinha
povo triste do meu fado

corrido
do barco pró autocarro
emprego tremido
sono inquieto

mas amanhã será feriado

por decreto
morremos de fome
mas olhamos o céu em pasmo
em lágrimas

fazemos ahhh como os meninos
apontando estrelas

vimos
inquietos desdormidos
contando cêntimos
os euros tão caros
tão curtos
enganosos

vivam pois os santos
que fazem o milagre
de abrir sorrisos nos rostos

ó pá olha que lindo
até o pedestal do Cristo
tem os arcos pintados de verde e vermelho

dêem-nos circo que o pão nos falta
deem à malta a ilusão da vitória

comprada
uma bandeira em todos os carros
parados à porta
que a gasolina está cara

que império manda agora
os nossos filhos para a guerra
numa colónia feita de areia

ardida
o povo entusiamado grita
portugal...! Portugal...! Portugal...!

pois pouco mais resta
que ser-se patriota!



Minha Lisboa/Lisboa Mía




É uma cidade ancorada
talvez fosse uma jangada
É uma cidade tecida
de ruelas e escadinhas
unindo as sete colinas

É um bordado de pedra
onde o coração flutua
cintila entre mar e Tejo
onde se enleia e espelha

onde terra, mar e céu
se casaram, nasci eu
e ainda que sendo dela
ergo os estendais qual vela
e adentro como asa branca
a aura de céu cor de rosa
buscando outra ventura


Lisboa, 27/1/2005



Lisboa Mía

Maria Petronilho
Versão em espanhol: Alberto Peyrano

Es una ciudad anclada
tal vez fuese una jangada
Es una ciudad tejida
en escaleras, callejas
uniendo siete colinas

Es un bordado de piedra
donde el corazón navega
brilla entre el Tajo y el mar
donde se enreda y refleja

donde tierra, cielo y mar
se casaron, nací yo
y aún siendo tan de ella
me despliego como vela
y vuelo como ala blanca
a su aura color rosa
buscando felicidad.

Desespero/Desesperación

Onde está a minha força,
o meu orgulho altaneiro?
Perante Ti sou cordeiro.
Sinto invadir-me inteiro
aquele estado de alma
de nada qu'rer tudo qu'rendo
Em vão, em vão, em vão...
Os braços Te estendo
sobre corpo e alma os fecho
vazios de todos, de tudo
triste, inertes os desço.
À porta bate o desespero:
renego o impulso e retomo
a ténue vereda da esperança
vagueio por entre o fumo
sigo trôpega o caminho,
aquele onde Te procuro
aquele aonde recuso
perder minha fé em tudo!





Desesperación

Maria Petronilho

Versão em español: Alberto Peyrano



Dónde está mi fuerza,

mi orgullo altanero?

Delante de Ti soy cordero.

Siento que me invade entero

aquel estado del alma

de nada querer... queriendo todo.

En vano, en vano, en vano...

Los brazos Te extiendo

sobre cuerpo y alma los cierro

vacíos de todos, de todo.

Triste, inertes los bajo.

A mi puerta llama la desesperación:

reniego el impulso y retomo

de la esperanza el tenue sendero

deambulo entre el humo,

torpe, en el camino

aquel donde Te procuro,

aquél donde rehúso

perder mi fe en todo!

13/4/2003
Hora da Sesta

Tudo dorme
só o olho do sol
resplandece
ardendo apaixonado
no grande leito do céu.
A libido sobreleva-se
como se folha de feto
emergindo airosa,
desenrolando-se lentamente
sem se dar mostra
da exigência contida

para o asceta
a sesta impele a ânsia
que opressa na sombra
desperta
Enfim Poeta e Mulher/
Maria Petronilho


Espero merecer morrer
num dia de intenso sol
sem ninguém se aperceber
que a minha alma se vai
presa num dos tantos raios
que ligam a terra e o céu
e que alfim me guiarão
para um espaço além dor
para um lugar só de amor
onde poderei ousar
ser poeta e mulher
sem ninguém me estranhar

num lugar onde não cabem
arrogância e poder

ao resto de mim que ficar
não importa o acontecer
não será meu sequer
será resto a fecundar
o chão donde há-de nascer
nova vida a luzir

o eu que sou há-de estar
num cosmos a acordar
sem ninguém me censurar
o ser poeta e mulher!

Lisboa, 27/1/2004



Al Fin Poeta y Mujer


Versão em espanhol: Alberto Peyrano

Espero merecer morir
un día de intenso sol
sin que nadie se dé cuenta
que mi alma ya se va
abrazada de algún rayo
que liga la tierra al cielo
y que al final me guiará
muy distante del dolor
hacia el reino del amor
donde al fin me atreveré
a ser poeta y mujer
sin que ninguno me extrañe

un lugar donde no caben
ni arrogancia ni poder

y a lo que de mí va a quedar
no importa lo que suceda
pues eso no seré yo
será un resto que fecunda
el suelo para dar más
nueva vida y nueva luz

lo que yo soy ha de estar
en el cosmos despertando
sin que nadie me censure
si soy poeta y mujer!

Lisboa, 27/1/2004


terça-feira, janeiro 18, 2005


Maria Petronilho Posted by Hello
No silêncio negro
Maria Petronilho


No silêncio negro da noite
Eles lutam
Passam calados, em fila,
Sofrendo.
No silêncio negro da noite
Eles escrevem
E as paredes brancas
Ficam reflectindo a ânsia
Dos corações subjugados.
No silêncio negro da Situação
Marchamos.

Na degradação total,
Passamos calados
Lutando na noite

* * *

En el silencio negro



En el silencio negro de la noche

Ellos luchan

Pasan callados, en fila,

Sufriendo.

En el silencio negro de la noche

Ellos escriben

Y las paredes blancas


Quedan reflejando el ansia
De los corazones subyugados.

En el silencio negro de la Situación

Marchamos.



En la degradación total,

Pasamos callados

Luchando en la noche.


* * *

Maria Petronilho

(versão em español: Alberto Peyrano)
Dentro de minha alma




Florescendo ainda
Ergue-se um ramo
De nova enxertia

Dentro de minha alma

A flor que devia
Estar pálida e nua
Se ergue renascida.

Dentro de mim soa
Um hino de esperança
Que vibra no vento

Dentro de minha alma

Reluz a fagulha
Que irrompe da sombra
E sobe e crepita

Em meu canto voa!


Lisboa, 22/3/2004






Dans Mon Âme






Fleurissant encore
Se lève une branche
De nouvelle entière

Dans mon âme

La fleur que devrais
Être pâle et nue
Se lève rentrée

Dans mon âme sonne
Un hymne d’espoir
Qui pince le vent

Dans mon âme

Reluit l’étincelle
Que pousse de l’ombre
Et monte et crépite

Dans mon chant s’en vole !


Lisboa, 23/3/2004





























ITENERÁRIOS


Difícil deslindar caminhos
difícil seguir a linha do arco Íris
no meio das nuvens negras

Difícil desatar os nós
do destino que ameaça
em laças desesperadas
afogar nossas esperanças

Difícil entrar em guerras
pela pacificação das almas
de mãos nuas, desarmadas
Da alma ante o corpo perdido


Ainda retenho o peso
Do corpo de que fui esteio
A vida ainda me enrola
Como embrulhada na onda
E a razão ainda não depara
O desopressão da mágoa
Ando ainda numa busca
Vagueio como fantasma
Que ainda não acredita
Que se encontra noutra vida
Meu pobre corpo coberto
De algas e de entulho
Putrefacto, inabitado
Jaze onde foi engolido
Já sem os esgares do medo
Mas eu, que ainda divago
Comprovo quanto é insano
E absurdo o ser humano
Eu, que a tudo pertenço
Pois sou átomo suspenso
De pavor empalideço
Subi do fundo do abismo
Fui cuspida do meu fruto
Mas preciso de mais tempo
Para ser de novo rebento
Re-habitar este solo
Aonde o alimento
É tão mal distribuído
Agora, vejo o engano
Em que me forcei sem ganho
pois nada sendo, sou tudo