domingo, fevereiro 15, 2004

Natal em todo o mundo!



O fruto
trazia em si
a esperança:
mais tarde, quando crescesse....
O invólucro do fruto
era a mulher
jovem e magra
esquelética mesmo,
de ventre enorme
e faces encovadas
pela
subalimentação
seus membros
eram cabos frágeis
simplesmente
cobertos
de pele lisa
porque ela era jovem
e o fruto
viu a luz do dia
fenómeno estranho
que apenas o tocou
por escassos meses:


Leite,
a mãe não o tinha
... já nenhuma mãe o tinha!
Experimentaram dar-lhe ervas,
experimentaram dar-lhe terra,
mas foi a terra que o quiz.
Com o filho
foi-se a esperança
num grito de dor
sufocado.
E a mãe
não mais comeu ervas
e a mãe
não mais comeu terra,
foi a terra que a comeu!




Este poema foi escrito aquando das guerras e fomes do Biafra,
mas agora como então morrem milhares de cianças pela guerra e de fome,
seja

Natal, em todo o mundo!

CANÇÃO DE NATAL


É NATAL
O MUNDO ROLA
E EU ROLO
ENRODILHADA
SÓ O SONHO
ME CONSOLA
VAGAMENTE
MINHA VIDA
ÁGUA CAI
RIBEIRA
QUE VAGUEIA
AOS TOMBOS
DE PEDRA EM PEDRA
FLOR NACARADA
QUE EU ERA
QUEBRO-ME
PÉTALA A PÉTALA
SUAVEMENTE
NA TERRA
LÁGRIMA A LÁGRIMA
NESTE MAR
TANTO
QUE ME TOMA
E SE EVOLA
GOTA A GOTA
SEREI BREVE
NUVEM BRANCA

QUE IMPORTA
SE
LÁ FORA
CHAMA
RUBRA VIDA

ROLO
PÉROLA PERDIDA

DE TODOS OS COLARES
À DERIVA
MINHA SAGA
SOLITÁRIA
NO ENCONTRO
DE
MIM MESMA


QUE ME DIZES DO MEL?



Ó ABELHA DOURADA
QUE ME DIZES
DO MEL?
QUE É DE FLOR
QUE É DE AZUL
QUE É DE CÉU
DA BOCA
QUE É DE CARIINHO
MORNO VENTO
FLORES
POLÉM
POEIRA DA MANHÃ
ONDE BUSCAS
TEU NÉCTAR
PARA MIM
FRUTO
ESPERANÇA
DE FLOR
QUE SORRI
CADA ÁRVORE
É CONTIDA
NO
GÉRMEN
DA SEMENTE
PEQUENINA
AH DOURADA
ABELHA
TRÁZ-ME
A BREVE DOÇURA
DE AMAR
BREVE
A VIDA
QUE DORME
EM MIM
RECOLHIDA
ASA
QUE NO SONHO
PAIRA
DE ALGUÉM
À PROCURA

CANSADO SORRISO


SIM,
RECONHEÇO A CORAGEM
DE ATRAVESSAR
DESERTOS
OCEANOS
SEM TENDAS
SEM EQUIPAGEM
SEM NAVIOS

NÚS OS MEUS PÉS PEQUENINOS

IGNORANDO
O ROÇAGAR
DAS ESCAMAS
DAS COBRAS ENTRELAÇADAS
ESPINHEIROS
ERIÇADOS
GARRAS
TANTAS LANÇAS
APONTADAS

AO MEU PEITO NU

INERME

MINHA BOCA
NEGANDO A ÁGUA OFERECIDA
POR TANTOS RIOS SEM NOME
E EU SECA DE SEDE
SEGUIA
E EU MORTA DE FOME
NEGAVA
E EU MORTA DE FRIO
NÃO ME DEITAVA
DESCANÇANDO
AO SOL ALHEIO


PROSSIGO


COMIGO-MESMA
O DOLOROSO
CLARO CAMINHO
DA MINHA PAZ

SOLIDÃO

CANSADO SORRISO
SIM
RECONHEÇO...
THE SHOW MUST GO ON



CERVANTES:
EIS-ME
TEU OUTRO
D. QUIXOTE
MAS VOU NA LUTA
SOZINHA E NUA
NEHUM ROCINANTE ME AJUDA
NENHUM SANCHO ME ACOMPANHA

LEVO MINHA LANÇA ROMBA

NOINHOS DESABAM
NAS
GIGANTESCAS
VENTANIAS

FAÇO QUANTO POSSO
E VEJO
QUANTO NECESSITO

MAS NÃO MAIS
POSSO
QUE VER
E SOFRER
DESENCANTO

A FORÇA
À VONTADE SE NEGA

E BERRA O CONTRA REGRA:
FORA DE CENA QUEM NÃO É DE CENA!

THE SHOW MUST GO ON!

ALÉM DO MUNDO


finalmente
sinto
a
mente
liberta
a
alma
sem
mordaça
sinto-me
suspensa
a
flutuar
no
vasto
mar
sinto
o
profundo
eu
de
mim
fluindo
como se
voasse

além
do
mundo


VESTIDA DE CÉU

AQUI EU

SÓ LUZ
OS MEUS
OLHOS
SÓ BRISA
COMPENSA
SÓ ESFORÇO
SÓ CRENÇA
SÓ LUTA
SÓ ESPERANÇA
SÓ ALMA

CONTINUA

DESERTOS

A MINHA VIDA
É FEITA
DE DESERTOS

LEVO A BOCA SECA
OS LÁBIOS GRETADOS
DE TANTOS GRITOS

OIÇO AO LONGE
UM RIO

VEJO AO LONGE
A LUZ
IRISADA
DAS GOTAS DE ÁGUA
QUE

SALTITAM E BRINCAM
ENTRE BRANCOS SEIXOS

PORQUE
HÁ TANTO CAMINHO
E NUNCA MAIS CHEGO?!


QUEM
ME IMPEDE
DE CHEGAR AO OÁSIS
QUE BRILHA

RESPONDE AO APELO
ME APELA?

NO SILÊNCIO

IMENSOS
NOS DESERTOS,

MEUS OLHOS
ABERTOS

Enigmáticas

O Céu
a noite
pergunto-me
que estrelas
estarão
já extintas
cuja luz
não é
senão
ilusão
herança
de estrelas mortas
a nossos olhos
continuam
vivas
e nós
a tecer-lhes loas
séculos depois de nada
serem
que negras
ocultas
misteriosas
sugadoras
doutras
flamas
noutras esferas
desconhecidas.
ah a facada
sempre espetada
gume ao alto
erguida
dos punhos de renda
os dentes
a remoer
golpes sem fim
na mesma
ferida


o chilique da senhora
na hora na certa

cai no sofá de pele
geme e rebola

o carrasco
treme
numa facada
de pena
uma e outra vez
lhe acerta
com tanta
pena
se levanta
a cabeça
logo lha afoga
que pena

Há que dar o
status
de família bem
posta
e lá vão
de rojo
saem da porta
do palácio
de barro
com carros reluzindo
da porta da oficina
que im-porta
que
importa
e vão de
amarelo
mas o sorriso
que se lhes veja
apontada as costelas
de tanto
medo,
a faca
presente
mas escondida
e viva a pobreza
ó culta
ó podre de velha
burguesia!



ai de quem veja!

ai do que pena
ai do que se deixa
ficar no sofoco de uns spunhos de renda
com uma faca calada
sob un punhos
de renda
roxa
É O SONHO QUE NOS LEVA



Volatilizo-me


No éter etéreo
Pairo
Como orvalho
A partida
Aguardo!


Nem venham
Falar-me
De barreiras
Nem da inconveniência
De me encontrar
Dispersa
Suspensa
Em minúsculas
Gotículas
De brevidade!



Não conheço
Paredes
Fronteiras
Cadeados
Ou telhas



Pairo
Em nuvens
Que me semeiam



Indistintos
os
Pomares
Cerejeiras
Oliveiras
Laranjeiras



Não conheço
As cores
Mas os aromas



No ar vamos
Do ar somos



Tão longe
Da realidade
Crua
Tão perto
Da negra
terra!



Cessem
vãs ilusões
Aqueles
Que se acham
Correctos
Infalíveis
Seguros



Hoje
Ainda
e
Sempre
Deus queira
É
o sonho
Que nos leva!


noite de natal


SOB A ABÓBADA FRIA
DE UMA NOITE DE LUZ
FOI QUE, DA VIRGEM MARIA
NASCEU O MENINO, JESUS.

OS ANJOS CANTANDO LOUVORES
FORAM AVISAR OS PASTORES
DE QUE ALGURES EM Belém
JESUS NASCIA PRÓ NOSSO BEM

E UMA ESTRELA DIFERENTE
NASCIA NO ORIENTE
P'RA QUE OS MAGOS PELA SUA LUZ
CORRESSEM A ADORAR Jesus

É A ESSA NOITE LINDA
ESSA NOITE SEM IGUAL
QUE CHAMAMOS TERNAMENTE
A NOITE DE NATAL


PARA UM POETA TRISTE


VEM

FAZER DE MEUS BRAÇOS

TUAS ASAS

DE MEU CORPO

TUA BARCA

VAMOS ALÉM

SOBRE O MAR

PELO CÉU

QUAIS ONDAS

QUANDO FLUTUAM

EM ESPUMAS

PURAS

AÉREAS BELAS

VEM

NO SOL ALTO

QUENTE E PURO

MINHA MÃO

NA TUA MÃO

CORAÇÃO COM CORAÇÃO

NOSSOS SERES

LABAREDAS

ARDENDENDO

INFINITAS

RUBRAS

Memórias




Mãe, de ti sei aquele dia
que andavas de robe e camisa
na entrada da cozinha
... p'ra onde dava a cozinha?...
e eu era pequenina
e andava bem vestida
a brincar no chão
com a única fotografia
em que a minha mãe se ria
e parecia
uma deusa, fada... linda!
fiz-lhe um rasgão
machuquei-a,
sentindo em pressentir
que era errado o que fazia
- mas a minha mãe deixava!
Não estava triste, nem ria
- tão raramente se ria!
olhei sob a sua saia
em inconsciente certeza
não entendia o que via
mas senti que não devia
- Mas minha mãe não ralhara!
Cirandava, andava ainda,
e era uma rapariga
Que idade teria?
Que idade teria?!
Estava como que alheia

... e eu chorei toda a vida
aquela fotografia
- minha mãe, não se ralara!

Pororoca

vou navegar, agora, no Tejo,
e, depois, me aventurar no mar.
ambas as águas eu agora vejo
nas lágrimas do Teu olhar.

não posso mais voltar atrás
na minha decisão em partir.
o Amor tem vazio seu carcás,
somente Lhe resta carpir.

azíago é o Fado dos Amantes
quando a inveja usurpa o cetro.
rubis não podem ser diamantes
nem é belo o que é tetro.

as águas se me enroscam em maçaroca
mas a Tua Voz me diz que é pororoca.
.........
Moacir et Selena 2002
brilhe a vossa LUZ!

PS: no sul do Brasil, Tejo diz-se Têjo.
.......

Bergantim


quero ir também
não serás tu, rio
aquele o que me detém!
preciso do outro lá longe
que vejo além
provei-o
e sabe às lagrimas
de minha mãe

quero fugir, querio ir daqui
num barco qualquer
talvez num bergantim
e se me ofogar
em olhos nenhuns vejo
saudade maior que estas
do Tejo

tenho muito frio
eu quero partir
dizem que do mar
ao fundo
existe um jardiam
com suaves relvas
e campo tamanho
onde aves e flores
se dão
todo o ano

eis que o Natal chega
que faço eu aqui
onde estou sozinha?

quero ir para aí!

... Depois


É saber navegar
Além do precário ser
Do ignorado existir
No tempo e modo
Devir

Depois é para sonhar
Depois será construir

....Depois
É estrela longe a fulgir
Tanto se pode alcançar
Quanto se pode perder

....Depois
É preciso tentar
Redesenhar o amor

No sonho continuar

ROXOS LÍRIOS



Com que direito
enches meus olhos
de roxos lírios?

outono de meus dias
porque destróis
assim primaveras?

Porque suspendes
a minha alma
de tuas palavras?

Porque semeias
tantas papoilas
em minhas cearas?

Porque me cantas
e se me encantas
tão só me deixas?

Porque vieste
e me tomaste
se me não querias?

Onde o carinho
que só desejo
e prometias'

Vai esta Maria
tão desamparada
que nem sabe ao certo
por onde caminha



sente-se tão cega


de cansada chega
a vasta clareira
ponto de partida
nó de encruzilhada


como achar a vereda
roda à toa em busca
dos pontos cardeais

Desorientada
se queda aflita
parada e a alma
incita a partida
Nús ao Vento



Agora

Passamos às vezes

pelas veredas fechadas

em busca de outros tempos.

Pegamos nossos sorrisos

e alongamos os braços

Para tentar que eles voem

por cima dos muros negros

para os campos

além das montanhas

vermelhas e azuis

onde a aurora nasce.

As nossas vozes sussurram

como se fossemos pássaros

pressentindo

o acordar das serpentes

MEU SONHO SER


Haja o que houver
seguirei igual a mim-mesma:
Figura de proa ao vento e ao sol,
aguentarei no rosto o sal do mar
serei autêntica
única
livre como o vento
que me faz oscilar
e avançar mar dentro
que refresca minha alma
e a mantém límpida.

De outra forma
eu não seria.

Amo o brilho da manhã
o sol a bater na janela
o reflexo no espelho d'água
o ar leve, a mente leve, o riso...
Rir que nem uma criança ri!
Olhar o meu sorriso e vê-lo
doce, para além de toda a
amargura
da má-sorte, sei lá
e continuar a acreditar.

Meu sonho ser.







Dia-a-Dia



dentem-se em marasmo o barco
da esperança que amanhecia
que vai cedendo
e balança
na opaca desventura

horizonte de negrura
cresce ameaça e avança

fala-se à boca pequena

aperta-nos a garganta
a garra impune
que rouba
o pão nosso
que nos falta

Vale-nos
crer ainda
mudar este mar da vida
em verde lavra
seara
em novas ondas
de espr'ança
novos tempos
de mudança
novas marés
de ventura
Lamento




Não esqueças a minha ternura
feita poeira
chita esgarçada
no fulgor de teus dias

se bem eu seja
uma figura apagada
etérea
que vive
atrás de uma incógnita janela,

não colecciones as minhas lágrimas
no bolso da tua camisa
nada farão crescer senão a angústia
no lugar da paixão
que
de nossos corações se eleva
se em comunhão
na ideia
no carinho
na palavra alada
distante
que nos dá a ilusão de acordarmos
com a mesma aurora
de olharmos o mesmo sol,
eu dentro de mim prisioneira
e tu vogando ao sabor do que te convier
te for
talvez possível.
Onde os poemas derramados
de doçura
que me cantaste
em que me cantavas
onde apaixonadamente me enlevavas
no som da tua procura?

Não me deixes afogada no silêncio
no humilde silêncio de ser
ocasião fortuita de prazer
a poeta triste
que sendo tua
não mais que tua fugaz atenção
necessita!








Negro Mar


sobre o verde mar
que o roxo ocaso espelha
invisível à mágoa humana
a estrela vénus brilha

vénus não nota
a tristeza
desse negro mar vogando
tanta vida se perdendo
tanto óleo derramado
a lua encobriu ser rosto
chora com a terra o desgosto
inconsciência do mundo

também o meu coração
nesse mar vai à deriva
em sangue
tristeza viva
prdida sem remissão!


Ref: Maré negra após o naufrágio do Petroleiro Prestige - 5/12/2002
DESPERTAR
NO PAÍS MAIS JOVEM DO MUNDO



QUEM É QUE NÃO TEM MEMÓRIA
DA ÚLTIMA TRISTE COLÓNIA
DESTA NAÇÃO PORTUGUESA?

QUEM É QUE JÁ SE NÃO LEMBRA
DESSA NAÇÃO MASSACRADA,
ILHA NA OCEÂNIA CHAMADA



TIMOR LOROSAE?



QUEM SABE
MAS
NEM SE NÃO MEXE
NEM SENTE?


QUEM É QUE PERDEU
A MEMÓRIA
COLECTIVA
DE TANTA MORTE E TRISTEZA?


CHORA DE NOVO TREMENDO,
NAS TERRAS DO FIM DO MUNDO
AQUELE PEQUENO ESTADO


QUEM DEVIA DEFENDÊ-LO
ESTÁ LONGE,
E ESTÁ DORMINDO!



Destruição da cidade de Dili, capital de Timor Lorosae, perante a indiferença das Nações Unidas - 4/12/2002
À PORTA DE ALÉM?


PARECE MENTIRA
QUE A VIDA
TÃO CALADA
SUAVEMENTE SE ESVAIA
DE MIM,
COMO UM PUNHADO DE AREIA
QUE NA AMPULHETA
ESCORRA
... NO FIM.

AINDA ONTEM, EU RIA
AINDA ONTEM SONHAVA
TINHA PROJECTOS E COMPROMISSOS,
TINHA...
E AGORA, DESTA MACA,
PROCURO AINDA
NESTE TECTO BRANCO E ALHEIO
UMA IMAGEM QUE SEJA
DA MINHA SOMBRA.

ESTOU CALMA, TÃO CALMA!
VAGUEIO, COMO SE SUSPENSA
MINH' ALMA ME SOBREVOA,
BORBOLETA BRANCA
... POMBA QUIETA

NESTE SILÊNCIO LUNAR QUE SOA
AO TIC TAC IRREGULAR
AO PING PING INCOLOR QUE VOA
À ARIDEZ DO LUGAR;
PARECE MENTIRA
QUE EU ESTEJA
TÃO LEVE,
QUE EU ESTEJA
TÃO PERTO DA PORTA
... DE ALÉM?
SEM PENA NEM PERDA
SEM DOR E SEM MÁGOA

Chuva, vem!


Chuva, vem!
me lava
e contigo leva
esta tanta dor
insana
que no meu
peito
se abriga

Vem,
embebe- me
de frescor
que tanto ardo,
ansiosa!
Acalma em mim,
chama viva,
esta inesgotável
flama
que me consome
e devora!

Prece da Chuva


Chuva,
cai
do céu
generosa
e
engravida
a terra
nossa
com teu
infinito
esperma!

Chuva,
cai,
traz
esperança
de pão, de paz
e
bonança
frutifica
a
sementeira
perdida
tanta
boca
sequiosa!

Ó benção
do céu
vem,
E espalha
a promessa
de
pureza
que tanto falta
na
Terra!

O POETA É UM SOFREDOR
SOFRE TÃO SINCERAMENTE
QUE CALA AOS OUTROS A DOR
...QUE EM SI VIVE LATENTE!

SILÊNCIO


ESCUTO
A
VOZ
DO
SILÊNCIO
A
PUREZA
O
ESPÍRITO


ISOLADO
A
AUSÊNCIA
O
CONSCIENTE


ACORDADO
A
CIÊNCIA
O
ESTAR


COMIGO
NÃO
ESTANDO
EM
ALGUM
LUGAR
MAS
SENDO


A
MINHA
ALMA

O
MEU
MUNDO
METAMORFOSES


ENTROU VOANDO PELA JANELA

É COMO UM LENÇO COLORIDO
BI-FORCADO
NEGRO E LARANJA E BRANCO
RELUZINDO
NA LUZ DO QUARTO

E PENSAR QUE FOSTE
LAGARTA
QUE TANTO TE REPELIRAM
E AMEAÇARAM!

VIRGEM COLORIDA SUAVE
MAL O AMOR TE TOQUE
NÃO MAIS SERÁS
MAGIA VOLANTE

PASSASTE
POR TANTA METAMORFOSE
FOSTE TUDO O QUE PUDESTE
COMPLETASTE

O TEU DESTINO!
BENDITOS OS SIMPLES

HÁ MUITO SE ACENDEU
A LUA NO CÉU
LATEJA O MEU CORAÇÃO
CONTO OS ESPAÇOS
DO TEMPO.
MAS NÃO EXISTEM
NÚMEROS
QUE CHEGUEM!
INCOMODA-ME
O RUÍDO DAS ESTRELAS
EXPLODINDO
NO UNIVERSO
QUE NÃO CONHEÇO.

SE BEM TODOS OS ANJOS
ME RONDEM
PAREÇO TER-ME PERDIDO

SEI QUANTO SONHO!
O RESTO
É ESTE AMOR PURO,IMENSO
A NATUREZA
AS CRIANÇAS E AS FLORES E OS BICHOS
AH, BENDITOS OS SIMPLES, BENDITOS!
QUE SOMENTE


VIVEM E CRESCEM
IGNORANDO
LICENÇA OU DOCUMENTO
AINDA ESPERO O AMOR


NUM RELÂMPAGO DE TEMPO
AINDA ME PERMITO O SONHO
DO AMOR!
DA DÁDIVA HONESTA E PURA,
DE ALGUÉM SE ME DAR
COMO EU ME DOU.

AINDA ME É PERMITIDO
SONHAR
ENQUANTO ESTE RELÂMPAGO ILUMINAR
A SECRETA E AZUL SEDA DO CÉU
E EU FLUTUAR NO VAZIO

AINDA ESPERO
O AMOR
COMO QUANDO MENINA,
COM ESTE SORRISO SECRETO
E O OLHAR EMBEBIDO DE LUZ!

ROSA VIVA
(IN MEMORIAM)


AI, ESMAGASTE A ROSA QUE EU FUI
COM A TUA PATA IMUNDA!
AI, SUFOCASTE-ME UM DIA
QUANDO INDA MAL DESCOBRIA
COMO HAVIA DE EXISTIR!
IMPEDISTE-ME DE SER
A MENINA E A MULHER
AI TANTO ME REPRIMISTE!

PARA QUÊ? O QUE LUCRASTE?

SOMENTE A CICATRIZ VIVA
QUE PULSA EM MINHA AGONIA
QUISESTE MEU FIM, NÃO VENCESTE!


LABIRINTO


NESTE
LABIRINTO
CEGO
ONDE
CAIO
ME
LEVANTO
SIGO
MEU
MAPA
DE
SONHO
NESTE
LABIRINTO
IMENSO
ONDE
NASÇO
QUANDO
ANDO
ONDE
ME
PERCO
E
AVANÇO

HEI-DE
SEGUIR
LUTANDO

HEI-DE
PARAR
MORRENDO!
AUTO-RETRATO


CARA
QUE
ME
OLHA
NO
ESPELHO

OLHOS
DOIS
GRANDES
LAGOS
CASTANHOS
OCUPANDO
TODO
O
ROSTO
BOCA
PEQUENA
SORRINDO
BOCA
QUE
VIVE
BEIJANDO
E
NENHUNS
BEIJOS
SENTINDO
E
O
RESTO
DO
ROSTO
SE
VAI
FENECENDO
VAI


AMOR
TRANSPARECENDO

SÓ SEI


APETECE
ME
FUGIR
SUMIR
E
OBLITERAR
MINHA
PRÓPRIA
LUZ
E
AR

SER

ESTAR

SEGUIR
MAS
NÃO
SEI!


SEI
ME
DAR
E
FICAR
CONTINUAR
POR
AMOR!
POR AMOR


EM
NOME
DOS
ESQUECIDOS
ERGO
A
VOZ

EM
NOME
DOS
HUMILDES
ME
APRESENTO

EM
NOME
DOS
INSUBMISSOS
ME
SUBMETO

EM
NOME
DOS
HUMILHADOS
ME
EXALTO

POR
AQUELES
ME
QUE
NEGARAM
ME
DOU

E

VIVO
POR
QUE
AMO
DESUMANA IRONIA


QUEM TERÁ ASSASSINADO
JESUS
GHANDI
LUTHER KING?

QUEM OS TERÁ
CONDENADO
À MORTE
SE
A VIDA
DEFENDIAM?

E DEFNENDO-A, MORRERAM

INTRÉPIDOS,
ATRAVESSARAM
O DESERTO
DO TEMPO
ERGUENDO
SUAS VOZES
QUAIS
BANDEIRAS

BRANCAS TÃO BRANCAS
DA PAZ

E EM RUBRO SANGUE

OS MATARAM!
AQUI E AGORA

TRAZ-NOS
A
ARAGEM
AS
CORES
DAS
ESTAÇÕES
SEM
CALENDÁRIO
SEM
LIVRO
DE
PONTO
RELÓGIO
SEM
CONTA
SEM
NOITE
E
SEM
MANHÃ

NECESSÁRIA
VAI
CORRENDO
E
EU
VOU
NESTA
RODA
DE
VIVER
AQUI
E
AGORA!
EM TEMPO


URGIA
O
TEMPO
BERRAVA
O
CANSAÇO
NOS
BRAÇOS
PESAVA
BRAMIA
A
AGONIA
FUGIA
A
LUZ
DE
MEUS
OLHOS
ENCERRAVA
ENFIM
OS
LÁBIOS
E
O
ALÍVIO
NÃO
CHEGAVA!

...


COITADA
DA
POBRE
POETA
SE
EM
TEMPO
NÃO
ACORDARA!
A TERRA, A LUA, AS ESTRELAS


O LUAR
É UMA AVE
QUE NÃO POISA
É UMA SOMBRA LUMINOSA
QUE PAIRA
ENCANTA
E PASSA!

ESTRELAS
SÃO OLHOS NO CÉU
ENCANTO
MEU
NO VAZIO
BRILHAM
REBILHAM
SONHO!

A TERRA
NÃO É RIQUEZA
É SÓ
A NOSSA
TAREFA

NOSSO DEVER E CERTEZA

PRIMAVERA

GRAÇAS A DEUS!
O SOL SORRIU!
CHEGA DOS CÉUS
LAVADOS
A MORNA BRISA

HÁ CALOR
AZUL
DOÇURA
GRAÇAS A DEUS!

FINALMENTE
HOJE CHEGOU
AO MEU CANTINHO
ENCANTANDO
CANTANDO,
A
PRIMAVERA!
MAS SÓ VOU


ARAME FARPADO
E DO OUTRO LADO,
O SOL
ENTREABRINDO UM SORRISO!
OLHO ALÉM
COM PREJUÍZO
PORQUANTO TEMO MAS QUERO!
MEDITO
E ESCREVO E LEIO
CALO O CHORO
SECO O PRANTO
SE SOFRO!

MAS NÃO DESISTO
BRILHA O SOL
DO OUTRO LADO!
MAS HÁ TANTO ACERADO
NO MURO DO MEU RECANTO!

FICO INQUIETA
PENSANDO
QUAL SERÁ O MEU DESTINO
ONDE SERÁ O CAMINHO
O MEU CAMINHO SECRETO
PORQUE SERÁ QUE ME ENLEIO
MAS NÃO VOU,
PORQUE NÃO QUERO!

SEREI TRINCHEIRA NO FOGO
VIVO COM MEU PENSAMENTO
SE CAIO, MAIS ME LEVANTO

MAS SÓ VOU POR ONDE EU QUERO!

MAS EU SEMPRE DISSE: NÃO!

BATERAM-ME
QUANTO PUDERAM
C'O AS UNHAS ARRANQUEI
MEU PÃO
O SUOR LAMBEU-ME A TESTA,

MAS EU SEMPRE DISSE :NÃO!

DISSERAM-ME: TU NÃO ÉS
DESPREZARAM-ME E ENTÃO
CHOREI LÁGRIMAS DE SANGUE

MAS EU SEMPRE DISSE : NÃO!

CUSPIRAM-ME. RENEGARAM
O AMOR DO MEU CORAÇÃO
COM ÓDIO ME CONSOLARAM,

MAS EU DISSE SEMPRE: NÃO!

QUISERAM
CERCEAR MEU SONHO
BANIRAM-ME SEM PERDÃO

MAS QUEBRAR-ME, NÃO PUDERAM

PORQUE EU SEMPRE DISSE: NÃO!
VIVER É AGORA


TENHO OLHOS
PARA VER
TENHO MENTE
P'RA PENSAR
TENHO PERNAS
PARA ANDAR
TENHO PÉS
PARA CORRER
TENHO BRAÇOS
P'RÁ ABRAÇAR
TENHO MÃOS
PARA PEGAR
TENHO BOCA
P'RA FALAR

TENHO BOCA
P'RA BEIJAR

NÃO T'A VOU DEIXAR
CALAR
NÃO TE VOU
OBEDECER
NÃO VOU
OS OLHOS FECHAR
NÃO VOU
MEUS SONHOS CORTAR
NÃO VOU
PARAR DE ANDAR
NÃO VOU
PARAR DE CORRER

TENHO OLHOS
PARA VER
TENHO BOCA
P'RA FALAR
NADA ME FARÁ PARAR
HÁ UM MUNDO
P'RA MUDAR

VOU
CORRER
QUERER
OLHAR

NÃO VOU
A BOCA CALAR
NÃO
T'A VOU DEIXAR MORDER

HÁ UMA SORTE
A MUDAR
HÁ UMA VIDA
A VIVER
HÁ UMA VIDA
A PASSAR

E A VIDA
PASSA A CORRER!

O ESCURO E A LUZ



O CAOS
E
A PAZ

O ESCURO
E
A LUZ

O GRITO
E
O SILÊNCIO

O SABER
E A INOCÊNCIA

A ESCOLHA
E A INDEFERENÇA

O SER
E O PARECER

PREFIRO SABER
P'RA ESCOLHER
PREFIRO GRITAR
PREFIRO VER
PARA CRER
PREFIRO A LUZ
P'RA FICAR
DO DAR, DO SER, DO AMOR




E AQUI ESTOU
A PENSAR
EM QUANTO CUSTOU
CHEGAR
AONDE ESTOU
E FICAR
E VENCER
A TEMPO
DE SABOREAR

EU ACABEI DE OLHAR
A VIDA
NO SEU LUGAR
EU VIVO
A VIDA
A SONHAR
AGORA
QUERO FICAR
.

VIVI A VIDA
A CORRER
AGORA
QUERO PARAR
EM CADA ESQUINA
ONDE HOUVER
ALGO NOVO
A APRENDER

ESTOU A AMADURAR
AMADURAR
É CRESCER
NÃO QUERO
AGORA MORRER
QUERO É
VIVER!
VIVER!

A TEMPO
DE VOS MOSTRAR
NALGUNS VERSOS
SE CALHAR
O BONITO
QUE É CHEGAR
E APRENDER
A SE GOSTAR
E A VIVER

OLHO EM FRENTE
DEVAGAR
VEJO O FUTURO
A CHEGAR
O AGORA
ACONTECER

QUIS IR
E NÃO FUI
AGORA
QUERO
FICAR

QUERO LÁ SABER
DE IDADE
OS ANOS
SÓ SÃO
ENGANOS
MERAS CONTAS
DE SOMAR
E O MEU DESTINO
É SONHAR!

A AMAR
NÃO SE ENVELHECE
QUANDO O SONHO
PERMANECE
EM NÓS

E EM FLOR!
TINHA UNS VERSOS...


TINHA UNS VERSOS
AGUDOS
A BRILHAR
NOS OLHOS
A BRINCAR
NOS LÁBIOS
A DANÇAR
NOS DENTES
NÃO OS DISSE
PORÉM
QUEDEI-ME
FINGINDO A
INDIFERENÇA
DO QUE
OLHA
MAS NÃO VÊ
DO QUE
PÁRA
MAS NÃO PENSA

TINHA UNS VERSOS
EM PUNHO
NA MINHA
CABEÇA
CALEI-OS
CEIFEI-OS
COMO ÀS PAPOILAS
RUBRAS
A VOSSA
INDIFERENÇA

OLHAR POR OLHAR
QUE INTERESSA?!
USAIS UNS OLHOS
DE OPALA
E EU
SÓ SOU
TRANSPARÊNCIA!
SÓ SOU



TENHO
DE
MIM
O
QUE
SOU

DOU
DE
MIM
O
QUE
DOU
O
SER
QUE
SENDO
SE
DEU
QUE
SENDO
OLHAR
PASSOU
E
NEM
FICOU
NEM
MORREU


NÃO-MÁSCARA DO QUE EU SOU

OLHASTE-ME POR ACASO
E NEM ME RECONHECESTE
NEM UM BOM DIA DISSESTE

SABES, SOU QUEM TU VISTE
OUTRO DIA
ME ENCONTRASTE
EU-MESMA
A MULHER QUE OLHASTE
NÃO-MÁSCARA
DO QUE EU SOU!
SOU


SOU ALGUÉM
A FUGITIVA
A QUE SOUBE
DIZER
NÃO

A QUE SE ERGUEU
ALTIVA,
ALTIVO
O MEU
CORAÇÃO!

ADEUS PAI
ADEUS
VIOLÊNCIA
ADEUS
FILHA
SEGUE SÓ
ADEUS
DEPRESSÃO
DEMÊNCIA
ADEUS
AOS QUE OLHAM
COM DÓ

ESCOLHI
O MEU
CAMINHO
VOU
GUIADA
PELAS ESTRELAS
SERENO
E SEGURO
MEU PASSO
A SORRIR,
EU VOU COM ELAS!
CAVALOS DE CAUDAS CORTADAS


PORQUE
CORTARIAM
AS CAUDAS
DOS CAVALOS
CUJAS CRINAS
BALANÇAM
AO GALOPAR
NO VENTO?

DOS COTOS
PENDEM
AS FRANJAS

JÁ NÃO DANÇAM
MUTILADAS
CRUEL
MALDOSAMENTE
TRUNCADAS,
QUE LINDAS ERAM!

.. SE FOSSEM
VOANDO LIVRES
LEVANTADAS
AS PATAS
DOS CAVALOS
DO TEMPO!
DE ALEGRIA


HOJE É DIA
DE DANSAR
HOJE É DIA
DE QUEBRAR
TODAS
AS PEIAS
CADEIAS
HOJE É DIA
DE OLHAR
DE FRENTE
EM FRENTE
AO MAR

NAVEGAM
MINHAS IDÉIAS!


firme sentir


ESTOU
NO MEIO
DAS ONDAS

CHEIRA
A MORANGO
VERMELHO

SÓ VEJO
AR
AZUL E ROSA
TUDO GIRA
À MINHA
VOLTA

ERGO-ME
FIRMO
OS JOELHOS
FECHO
COM FORÇA
OS OLHOS

LEVANTO-ME
ESTENDO
OS
BRAÇOS
PARA CIMA
PARA O AR
PARA O CÉU

FIRMO-ME
ENTERRO OS PÉS
NO SOLO
E SOLTO
A ALMA
NO VENTO

TRANSFORMA-SE
EM RISO
O CHORO
MINHAS
AS CORES
DO MUNDO

E
QUEM MANDA EM MIM
SOU EU!
CHORAR É LAVAR A ALMA

NÃO REPRIMAS
A ÁGUA
DE TEUS OLHOS!

CHORAR DE EMOÇÃO
É UMA HONRA!
CHORAR
DE ALEGRIA
UMA PALMA!

CHORAR DE AMOR
SÓ FAZ BEM

CHORAR
É LAVAR A ALMA!

O DOMÍNIO DA PAZ


PROCURO
O DOMÍNIO DA PAZ.
DES-DIGO
AS PALAVRAS
MAL-DITAS
DES-FAÇO
O ÓDIO E A RAIVA
APAZIGUO AS TEMPESTADES

RE-CLAMO
O AMOR E A CALMA
RE-FAÇO
A ALMA
EM PEDAÇOS
DES PE DA ÇA DA
E PEÇO À GUERRA QUE ACABE

E PEÇO QUE A MORTE
ME A-GUARDE,
PARA SEMPRE EM PAZ,
MINHA ALMA!

OLHO, EN-FRENTO!



ABREM-SE AS ÁGUAS
QUEBRA-SE O GELO
ATRAVESSO AS SOMBRAS
MAS DO OUTRO LADO
SÓ ESTÁ O VAZIO

SOZINHA,
SIGO PELA VEREDA
SALTO A BRECHA
ATRAVESSO IMPUNE O RIO
OLHO EM FRENTE,
FIRME,
OS IMENSOS OLHOS
DO MEDO

ENFRENTO
DE PEITO NÚ,
AS LANÇAS ACERADAS
DO MUNDO!




VEM!


Vem!
Vem esconder-te
no escuro
dos meus olhos

Vem deitar-te
nas dunas
dos meus seios

Vem lamber
o sal
do meu ventre

Vem afogar-te
no aperto
dos meus braços

...Cerro os olhos
por um instante
E vejo aonde estás

Errante
a caminhar
para mim!
PELOS MARES DE GALIZA, PELOS MARES DE TODOS NÓS!


... SOA NO AR O MEU CHORO
PELOS IRMÃOS DE GALIZA
QUE NÃO PODEM IR AO MAR!
POR ESSA MÃO CRIMINOSA
QUE INSISTE EM AFOGAR
NOSSOS MARES SAL E PRANTO
NA INFAME E VÃ COBIÇA
DE GANHAR
GANHAR
GANHAR!

...PARA A TODOS NOS PERDER
PARA NOS CRUCIFICAR
COMO A JESUS NAZARENO
QUE NOS OLHA A CHORAR!

QUEM ME EMPRESTA NOVA VOZ
PARA OS CRAVOS RENOVAR?!






30/11/2002

Naufrágio do Petroleiro Prestige e consequente castástrofe ecológica.
De marcha á ré


homens
vamos
ávidos
famintos
bichos

de marcha à ré
vemos
negros
espelhos
do que fazemos

de marcha à ré
encobrimos
os ventos e mares
antes
descobertos

de marcha á ré
vemos
mas
destruímos

continuamos
de marcha á ré!

QUERIA DAR A MEUS VERSOS
O TOM MELANCÓLICO
DA CHUVA A CAIR NO SOLO.
QUERIA DAR-LHES TONS RUBROS
DE LABAREDAS EM NOITE NEGRA,
MAS NINGUÉM ENTENDERIA!
OS MEUS VERSOS
NÃO PASSAM DE CHORO CONTIDO,
DE LÁGRIMAS QUE NÃO VAZEI
SENÃO PARA DENTRO DE MIM,
OU EM LETRAS NO PAPEL.



AMIZADE * AMISTAD

María Del Mar,

No canto e no pranto
my hermana,

O meu sentimento
em tua voz ecoa!
Deixa que lance no vento
e ao mundo
minha voz com a tua,
essa voz que soa
além da ventania
que nos arrasta
No
surdo olvido
dolorido
da terra!

vá longe o teu canto
de sereia verdadeira
no mar alto
da vida
vibrante onda
de
verde-esperança
maré viva
em chama

e alto cante a alma
Desta'outra
Maria
de Portugal, trovadora.
com a poeta María
Estrella
voz
da
Argentina!


Direito e avesso


Quem é esta sereia
que se afoga na água
e em terra não caminha
quem é esta mulher
que me habita
e contra mim conspira
que é esta que se dá aos outros
mas a si se nega
quem será aquela
que em mim protesta
contra a injustiça
mas se mantém escrava?
quem me fez com esta
asa de gaivota
de ninho na areia?

Onde vou que tanto caminho
no lado escuro
da terra
olhando o lado claro
da lua?
NA ALMA QUE CANTA



A voz do poeta é um rio

que brota fino

e cristalino



Os olhos do poeta

trazem

outras águas

colorindo as margens,



sem nome. Adorno.



Só se veêm se se encontram

os rios que correm

pelas praias reviradas

das ideias



cantando como



onda que rola e se transporta

se transforma

cai limpa e clara

na alma que canta.

AS PALAVRAS DOS POETAS



como nascem

já rimadas,

ritmadas,

alinhadas,

as palavras dos poetas?



Com olhos de deuses veêm?



Como nascem já contadas,

encantadas,

embaladas,

as palavras dos poetas?



Com alma de humanos sentem?



Como olham pra tão longe

olhar doce tão doído

tão atento

tão sofrido



As palavras dos poetas!












































SÓLO en SUEÑOS







PÉTALO A PÉTALO
LA REDONDA ROSA
DURANTE EL DÍA SE CIERRA

ENTRE EL SUEÑO Y LAS ANSIAS
EL QUERER Y LAS DUDAS
PRIMAVERA INSANA
QUE EN LAS ONDAS ME ELEVA

DESMAINADA DORMÍA

Y ACORDE AL COLORIDO
POR LA VOZ DEL POETA
MÁS ,NO SOY QUIEN ERA!

DESPIERTO ANSIOSA
EL VIENTO ALETEA LA LLAMA
SUSURRA
SUSPIRA
INQUIETA

LA POESÍA

CANTAR CHORANDO



POR MAIS QUE O SOL ME AMARGURE
JAMAIS SEREI ESPADA.
POR MAIS QUE A NUVEM ME MOLHE
SEREI PARA SEMPRE POMBA.
POR MAIS ESCURO QUE O MAR ESTEJA
SEREI SEMPRE UMA ASA BRANCA
UMA CONCHINHA NA AREIA.
AINDA QUE MORRA A LUA
EU TEIMAREI EM SONHAR
QUE BRILHA NO CÉU LUA CHEIA
NA AUSÊNCIA DO LUAR

PODE A CIDADE SUBIR
PODE CADA UM QUERER
POR CIMA DO IRMÃO PASSAR!
CONTINUAREI MINHA SAGA
DE CRESCER JUNTINHO À ERVA.


TEIMANDO CUMPRIR
AI, QUANTAS VEZES EM DOR,
A OBRIGAÇÃO DE VIVER!


MAS VIVO SORRINDO SE APRENDO
MAS VIVO CANTANDO SE POSSO
DEGUSTAR O SAL E O MEL


E OLHAR...


OLHAR LONGE...
DO CANTINHO DONDE OBSERVO
UMA JANELINHA SEM NOME
DONDE VEJO COM ENCANTO
A BELEZA AO CÉU ERGUIDA
E AQUELA QUE VAI ESCONDIDA
COM VERGONHA DE APARECER.


VIVO CANTANDO SE ESCUTO
VIVO CANTANDO SE LEIO
SEM NUNCA DEIXAR DE SER
MEU CORAÇÃO O PULSAR
MEU CORAÇÃO O OLHAR
MEU CORAÇÃO O QUERER
DE MEU AMOR



VIVO E CANTO
ESTE CHORAR CONVULSIVO
EM QUE DOLORIDA CREIO


E SIGO


... MESMO SE CANTO NO PRANTO
DE TANTO MAL SE FAZER
E SEM LHE PODER VALER!
TANTA FOME E DESAMOR


AO INVERSO DE LAMENTO
REVERTO EM CANTO O MEU CHORO


INSISTO EM SEGUIR CANTANDO.







Tal Qual


Arranco
as
pétalas
dos
lírios
roxos
que

toldavam
meus
olhos

Faço
que
outras
brancas
cresçam

e

minh' alma

deixem


sem
pena
ver

dar-me
ser


tal qual


eu
sou!

LIRA ROSA


Serei sempre tua rosa
Sem espinhos e
Sem queixume


Lira rosa
Perfumada
Muito tua
Ardente
Amada

Sendo eu fogo
E tu lume


Só em Sonhos





Pétala a pétala
A redonda rosa
Do dia se fecha

Entre o sonho e a ânsia
O querer e a dúvida
Primavera insana
Que em ondas me leva

Desmaiada dormia

E acordo colorida
pela voz do poeta,
mais não sou quem era!

Desperto ansiosa
Vento alteia a chama
sussurra
Suspira
inquieta

A Poesia.

tão-só


sinto-me
tão-só
centelha

como se me diluísse
não mais ser
me contivesse
tão-só
como outrora fosse
luz divina
que pairassse
que outro ser me emprestasse
e já de si tão alheia

apenas
luz se perdesse
nada do que fui
soubesse,
do que serei
me pesasse!
jardim de mim


há um jardim, de grades entreabertas
que espera do jardineiro, seu cultor
que em serenas e mansas descobertas
vá descobrindo uma a uma todas
as pétalas e verdes ausencias
de brilho em cada flor

que o mel do amor lhes dê e vá bebendo
levando sua força em as tragando
juntando delas em si o vigor ao vigor
e todas as gotas e essências
para bem do sorriso, terno amor

jardineiro que chegue de mansinho,
acariciando uma a uma todas as pétalas
e fazendo-as vibrar em ondas,
de um céu feliz , etéreo ardor
nsses vívidos momentos sonhados
deixe seus canteiros cuidados
a vicejar alegria e paz e cor!

polém seu semeie nesses rios
reentrâncias tão só suas e sedentas
fertilize com ternura todas as carências
e vendo sua obra tranquila sinta amor

se o jardineiro tocar de mansinho
os caules tenros e fechadas folhas
que se mantêm tão quietas umas e outras intocadas
esperando seus carinhos
com ansiada dor,

nada viola do jardim que se oferece
em retribuída troca busca em procura
por frescura e sombra, o sol...
folhinhas ressecando abindo-se à chuva
buscando a vida que enquanto salva
alento novo dão a esse cultor!

O pássaro em meu peito


Quem terá soltado
o pásaro de meu peito
que canta

que canta por estar alegre
que canta
quando está triste
abre as asas e insiste
em ir no sonho
sorrindo?

e se eleva
cantando

Se exalta
e abala

Faz de seu nada
floresta
da solidão
primavera
e comunica
e
canta!

Tanto canta
que já não tem canto
onde guarde a partitura
que se partiu
por encanto!

pássaro vadio
que se evadiu
de meu peito!
e se cala diligente
se o notam
diferente!
Queria

Queria
passar do deserto
numa caravana

Queria
ir à deriva sem rota
no mar

Queria
encontar-me perdida
para me encontrar

Queria
calar a palavra
que insiste em falar

Queria
conter os soluços
no meu peito de penar

...

E pensar
Que um gesto basta
para nos consolar!

Breve

Invejo
aquele que morre
de um só tiro
no peito.
caiu,
qual sonho
desfeito
era
e mais não é
teve sorte!

seja breve
o sofrimento,
quem dera
morrer assim,
quem me ajudaria
a mim
sendo chegado
o momento?!
Não tenho medo
da morte
não tenho nada
a perder
parar de tanto
sofrer
breve fim
de
meu tormento.


No Vento


Voo
na crista
da onda
abro os braços
abraço
o vento
me acaricia
e magoa
mas
não leva
o
pensamento!

Estrada


mendigo carinho
c'os olhos e os lábios
mas tu não queres ver
e passas por mim
sem sequer olhar
minha alma faminta
de mão estendida
á beira da estrada
da vida


EL BESO


SUEÑO
SE DILUYÉNDOSE
EN EL AIRE
PERFUME DE AZUCENA
POEMA
QUE NADIE SABE CANTAR

MOMENTO EN EL TIEMPO

CARICIA
QUE SOBREPASA
Y DIGUE TAN LEVE
DEJANDO PESADA
SOLO MÍA LA
SOLEDAD


Pena de Asa


Não há rumo
para o vento
horizonte
para o sol
sorriso
que me sorria
que apague a
dor daninha
clara chama
minha vida

Nem há chuva
que a lave
Nem lava
que a devore

Carrego-a
qual formiga
mas canto
sendo cigarra
que se perde
que vagueia
no deserto
na esperança
de que se mova
a areia

Ah, a dor
funda
que se não cala
triste fado
dura sina
minha vida
pena de asa
caída
de mansa pomba!

Se


Se
eu morrer hoje
será bom.
Ao menos
dormirei
Com
os meus olhos
abertos
de deusa.
Se
eu morrer hoje
que seja
com o coração
cheio de amor
Se
eu morrer hoje
a terra
não me comerá
porque sabe
a verde
meu corpo,
meus longos cabelos
vento,

só se me quizer
... o mar!

Na Tempestade da Vida


eis-me
pequena
e
sozinha
no
vento
que
sopra
a
mil-e-um
espinhos
por
hora
na
tempestade
da
vida

Horas Amargas



na hora
em que
te abates
sobre o teu próprio
silêncio
em que
te sobra tanto
tempo
e espaço
em que
te sobra
tanto quanto
precisas
entendimento


na hora
em que
contas
pela ausência
de uma mão
sobre a tua
quantos
amigos te restam
de quantos
te prometiam
consolo
no tempo do sorriso

na hora
em que
te debruças
sobre o teu próprio
abismo
de amargura

nessa hora
saberás
a fundura
da tua
pequena grandeza!




Goa


O
sonho
distante
levou
Gama
do
Infante
a
ambição
e
o
desejo

Bojador
enfim
dobrado,
realizada
a
quimera,
ficou-nos
daquela
terra
o
tempero
como
um
beijo
que
muito
apetecera.
Nosso
povo
a
amou
selo
Luso

deixou
conquistando-a
sem
guerra.

Na
hora
da
separação
o
Ditador
disse
não.

Mas
Goa,
jóia
indiana,
não
pertence
à
Lusitânia!


o
sonho
de
ir
à
India!

Poesia Viva




A Poesia é um fio
onde está suspenso
o meu sorriso
desde sempre
e para sempre

mesmo quando
eu era areia
e o mar se afogava
no meu colo
mesmo quando
eu era rola
de olhos de espanto
mesmo quando
eu era láparo
a correr de toca em toca
e só via mato
cerrado à volta
mesmo quando
eu era o eco
dos encerrados
mortos vivos
nas prisões das borboletas
mesmo quando
foi abril
e eu desabrochei
com os cravos
mesmo no tempo
dos lírios nos meus olhos

soa dentro de mim a balada
soa dentro de mim búzio
esse som de mistério
esse som de magia
que permanece
que fica
a pairar na música viva
que compulsivamente
escrevo.

O BEIJO




SONHO
SE DILUINDO
NO AR
PERFUME DE ALFAZEMA
POEMA
QUE NEM SEI CANTAR

NUVEM QUE QUE ESVAI
MOMENTO NO TEMPO

CARÍCIA
QUE PERPASSA
E SEGUE TÃO LEVE
DEIXANDO PESADA
SÓ MINHA A
SAUDADE


















Onde acaba o horizonte?




Acredita que podes voar!
Pega na asa dos teus sonhos
e segue a luz dos teus olhos
quando os perdes no mar.

Acredita que podes voar!
És pássaro vadio, borboleta, abelha, bruxa...
Lança-te no vazio
e faz da imensidão tua estrada.

Acredita que podes voar!
Como as pétalas da flor
que seguem leves no vento,
amor, perdição, pensamento....

longe, longe, longe, longe...

Onde acaba o horizonte?







CINCO CAPÍTULOS DA HISTÓRIA DO MEU PAÍS

Além-Mar

I

Vi um jovem
de olhos tristes
partir de espingarda ao ombro
a bordo
de um grande navio
para as terras de além mar
vi um vulto rastejando


nos arredores da senzala
e ouvi estouros
e ouvi gritos
e ouvi tiros

vi um caixão regressar
a bordo
de um grande navio
vi uma mãe a chorar
uma noiva a soluçar
e ouvi um sino a dobrar!

LUTO

II

As armas ferem e matam
Da ferida o sangue escorre e pinga
e afoga as pombas brancas
que eram o escudo da gente
contra as lanças e os fuzis
E o sangue
que era da cor do amor
fica negra
crosta
de luto




ROSA NEGRA

III

A gente tropeça nas pedras
que nos mancham o caminho
Nossos olhos brilham febres
nossos joelhos rasgados
estão a narrar nossas quedas
nossos lábios secos pedem
nossas mãos gretadas doem
nossos corpos alquebrados
cantam nosso desespero
mas os nossos olhos brilham
a febre doida da esperança
No escuro erguemos a fronte
porque cremos que lá longe
brilha uma estrela nossa!


CAPA NEGRA

IV

No silêncio negro da noite
eles lutam
Passam calados, em fila, sofrendo
No silêncio negro da noite
eles escrevem
e as paredes brancas
ficam reflectindo as ânsias
dos corações subjugados

No silêncio negro da noite
marchamos
a caminho do degredo

Passamos calados
lutando na noite!


25 DE ABRIL DE 1974

V

Hoje o dia de todas as venturas
das nossas esperanças
desabrochadas

saímos de nossas casas
tão carregados de ânsias!

E percorremos as ruas
sorrindo aos soldados nas esquinas
Nos corações vivas chamas!

juntou-se o povo nas ruas!
De Portugal as bandeiras
verdes rubras ah, tão altas

de rubros cravos armados
calámos a voz das armas!

A Amália Rodrigues (aquando da sua morte)

Esta noite,
enquanto a noite dormia,
Amália deixou a vida.
Fechou pela última vez
aqueles olhos tão seus,
tão meus,
tão nossos, tão negros!
Na sua garganta
Calou-se a voz imensa,
mas não se calou Amália!
Mulher de vida sofrida
chorava quanto cantava!
Mulher de intensa vivia
e tanto amava a vida

Parou

Docemente, num instante
Deixou de ser
Cansada talvez de ser tanto
deixou-nos em denso pranto
correndo do peito aberto

sofro

não choro a morte de Amália
que Amália não morreu
amália sofreu a sina
seu fado no próprio nome

cantou
cantou
desde o nascimento à morte
Amália, do verbo Amar!

6/10/1999

"não sei que paixão, candente como um ferro sobre a birgorna ou que tristeza mansa como cândida onda que um menino colhesse entre as mãos, erguia o seu jorro naquela garganta"

Escrevi à margem, na hora da triste notícia, este trecho do poema Pranto da Filha de Jefté, de Pablo Garcia Baena



Castigo



se sofro
por cada sonho
perdido
é porque por ele
dei tudo
voo sem fim
nem fundo
minh'asa de imensidão
alcança o infinito!
É um longo olhar
um grito
será talvez perdição
mas sonhar é meu destino
vida mesquinha,
castigo,
saio dela
digo
não!

TEMOS MARÉS





DE ÁGUA E DE SAL SOMOS FEITOS
COMO AS ONDAS


CAVALGA EM NOSSO DORSO
A DOR DO VENTO


TEMOS MARÉS, COMO O MAR


AGORA NOS ERGUEMOS
E LOGO
EM BRANDAS ESPUMAS DE SONHO
NOS DESFAZEMOS


COMO AS ONDAS


EM SONHOS QUE NÃO ESQUECEMOS!

Colibri


Esmeralda
Embriagada
No concâvo
Deu uma rosa!


Quetzal


Onda
que se perdeu
do mar
liberdade
em movimento!

BUSCA DE MIM

Como cadeia sem fim me conheço
Dentro de mim me interrogo

O escuro Eu de mim
Pergunta ao meu claro Eu

De onde vim e o que sou?

O que me fez e criou?

Aonde estou e que sou?

Só sou.

Os largos caminhos estreitos
Procuro de olhos acesos

Em busca de mim
Por amor de mim

Inquieta
Pela clara certeza
O meu país

O meu país é o mar
tão feito de lonjura
de sal, de águas, de ondas
saltando de além ternura

De aves brancas, brancas, brancas
de ouro polido a luzir
e risadas a explodir
na voz pura das crianças

Meu coração, ele o fez:
Fado, má sina talvez
Mas no olhar um riso de asa,
Ou não fora português!





Tenho Medo de Sonhar



Meu sonho
esvaiu-se
no vento
voou
como um pensamento,
não sei
onde foi
parar.
Meu breve sonho
sorrindo
aos poucos
se foi
sumindo
não sei onde
o vou achar.
Meu sonho tão breve
ardeu
a tristeza
o varreu.


... tenho medo
de sonhar.



Mais um ai
eu era vida
mais amor
eu era alguém
tanto sofro nestra trilha
sem destino que caminha
p'ró nada que eu vejo além

por fome na abundância
por sozinha entre a gente
por vulgar mas diferente
mais amor e eu era alguém

sou a poeta que morre
de saudades de viver
um breve olhar p'ra me ver

no caminho torto sigo
outra sou, una comigo
... mais olhar e eu era quem!


Passe o tempo devargar




Lá fora
a chuva
de inverno
tomba doce
devagar

Lentos
meigos
os meus dedos
desvendam
os teus segredos
dão-se os meus
a revelar

Noites calmas
doces dias

Primavera
nos meus olhos
verão quente
nos teus braços

Passe o tempo
... devagar

Sorriso




Aprender a sorrir

com o temor e a confiança

com que se dão

os primeiros passos



sorrisinho tremente, incipiente

como o de quem quer

mas receia

abrir os braços.



Sorriso.

Apenas sorriso,

confiança,

credo: Eu creio!

Sorriso aberto e lindo:

Como eu amo o mundo!



Caminho certo.

Borboleta revoando

até se tornar num ponto,

até ser do infinito!



... e o sorriso abre-se em riso,

salvação

saudação

abraço!




Mulher



Princípio.

Começo eu fui

Eu sei, eu sou!



Em mim se abre

O mistério.



A mim o rio,

E eu fonte me abro.

Eu sou nascente e foz

E me dou

Sendo.



De mim a vida flui.

De mim emana o ser

Que sou

E o que não sou.



Por minhas mãos se parte o pão.



E em silêncio me desdobro,

E em amor me consumo.



Em meu ser

A flor

O fruto

O ramo e raíz.



O céu.

O mundo.





Uma tarde de sol

uma tarde
de sol
de doce sol de inverno
tão boa para passear
para namorar
divagar
à beira
na branca areia
deste mar
onde sou sua sereia
que se perdeu por amor
ai tirem-me o sol
que já me queimei naquele
doce fogo
que arde sem se ver!
que bom seria se a chuva viesse
refrescar a face
deste meu amor!


QUE O AMOR SEJA

Que o amor
seja
centelha viva
presença
tua
ainda
que
na ausência
recolher
o teu olhar
o teu saber
o teu sabor
dentro de todas as coisas
reflexo de ti ser
iluminando
o teu sorriso
o teu caminho
oásis
meu corpo
por ti regado
com tua viva essência
viva
ansia
total querer
meu ser
por ti
existir
feliz
se se
dar

Retrato

Ver
o sorriso de ontem
o olhar
que via a gente
no espelho
no retracto
instantâneo
Ver
ali novamente
sentir
em mim
sim
presente
após ter passado
tanto
conseguir
ver
dar-me
amar-me
tanto
e inteiramente!

O oito

o oito é um número
mistério
número gémeo
dois circulos
unidos
ao
centro

Deitado, é o infinito

No meio dos outros
tem um desenho
perfeito
regular
simétrico

Figuração de mulher.

Apresenta-se de pé
altivo
maiúsculo

O que tem o oito?
quatro pares de dois,
é mágico
Vê-se logo,
basta olhá-lo

Redondo sobre redondo

olhando do alto,
é um oito
aberto,

a barra do Tejo!

Pergunto
Maria Petronilho

Como falar-te
gota
de
magma
que se afoga
pirilampo

luzindo
na eterna noite
escura
lágrima
pura
à deriva
no silêncio
permanente
que insiste
ser
palavra


A Lira e o Cravo







A Lira e Cravo

Se deram as mãos

Fico nas nuvens

A vê-los passar

Vão a sorrir

Passeando na tarde

E eu tão sozinha

A olhar

De longe vejo

Um beijo escondido

De flor musical.

Tilinta

O riso

De felicidade

Que é verde o riso

De todo o que ama

Vermelho o sol

E as estrelas brincam

Vogando no azul

Cristal



Meus olhos
Meninos ainda
E sempre

Presentes
Até algum dia

Clara a centelha

Que há-de viver
Que há-de persistir

Na palavra
escrita

Cristal

Ser
Um dia

Já meus lábios cerro
Os nego ao gemido

Que
No querer
Nego

Voltar a chorar

... voltar a chorar!

Escolho Porque Sou


Tento
o
equilíbrio
olhos
no alvo
asas
no céu
consciente
coragem


caio
voo

vou
só no ar
que respiro
e sou

escolho
o
insustentável
mas
escolho
e vou
porque
existo
sou!


Muda as Lâmpadas ás Ideias



Todo o que vive de enganos
Acaba na desilusão

Dizem ser real o mundo
Porém eu acho que não

De que serve a gente ir
No que já foi

Vendo quanto
passou
sendo

velho
e
vão


porque não inventar
nova música
novos passos
nova luz
e
novos ângulos
imaginar
novos quadros
traçar nossas próprias estradas
seguir as nossas ideias
lutar por nossas quimeras
e viver por essas lutas

estender as mãos abertas
às mãos que
de tão cerradas
seguem aos outros alheias
O Momento da Espera





O momento da espera
É aquele em bordo
No meu crivo
Quantos pontos de amor
Espero tecer
Contigo





É o momento em que te tenho
Ainda mais perto
Porque nem tu sabes quanto
De ti está em mim




É o momento em que ensaio
O sorriso com que te acolho
Antes que a lágrima
Comovida
Desça dos olhos e morra
Na comissura de nossos lábios
enfim unidos




É o momento ...



Concha de mistério em mim fehada
Esperando a tua vinda libertadora
SOBRE VIVER



sobrevivi vendo
resistindo com mansidão
a questão não está na violência
mas na permanente
observação
e na sutileza
costumo imaginar-me
como uma gazela na savana
espertas orelhas alertas
faro e olhos despertos
se a perseguem
da meia dúzia
de valentes saltos
para que o perseguidor
desista
a seguir deita-se
na grama
camuflada
sem folego nem,
para mais um salto...

REPENTE


AI
DIZ-ME SE AÍ ESTÁS
DIZ-ME QUE AÍ ESTÁS
DIZ-ME QUE ME TENS!
QUE IMPORTA
QUEM ESTEJA
QUEM VEJA
QUEM VENHA
QUE ROLE
O MUNDO
DIZ-ME QUE SOU TUA
SÓ TUA E TU MEU
AMOR
URGÊNCIA
TANG~ENCIA
MAR
SER
LUZ
BRILHANTE
MEU
A´GUA DA MINHA SEDE
FRUTO MEU DE MORDER
DE ENGOLIR
DE-TER
DE-TER
DE-MO-RA-DA-MEN-TE
NAMORANDO
AI DIZ-ME
SOLTO SOLTA-ME
VOA COMIGO
NAUFRAGUEMOS
AMBOS IMERSOS
NESTE MAR DE AMOR!

Paraíso da Poesia

Do céu um encanto
Como se o céu fosse
este mesmo mundo
Onde se vivesse
num doce carinho
aonde reinasse
amor e respeito
que nos protegesse
e amando-nos tanto
sempre nos unisse.
Sem Solidão na Sombra


Beijos na porta
que se abre
te reconhece
te chama
Vem, é tua a casa
Senta-te à mesa
Vem
Adormece
no meu colo
sem voz velo
por teu sono
no meu regaço
descança!

DIZ-ME, ALADO EMBAIXADOR!




DE PLENAS ASAS ABERTAS,
TENTO DESVENDAR O FIO
DO LABIRINTO DA VIDA
QUE CORRO E PROCURO AINDA


LABIRINTO TORTUOSO,
DE VOLUTAS DE BÚZIO
ONDE NÃO SOA O MAR,
MAS O CHORO E O RISO.


O GRITO DE ANGÚSTIA NO PEITO.
A ESPERANÇA DESESPERADA
DE VER E DE IR MAIS ALÉM...
PORQUÊ? PARA QUÊ?
- NÃO SEI!


É UMA ÂNSIA QUE TRANBORDA
DE MIM, ULTRA CONSCIÊNCIA.
ETERNA VONTADE DE SABER.
ETERNO PERGUNTAR-ME.
QUERER DESCOBRIR.
SEDE IMENSA.


ONDE ACABARÁ A ESPIRAL
DO MEU PENAR, CONSTANTE DOR
QUE SORRI NOS MEUS LÁBIOS
E CHORA NOS MEUS OLHOS?


- DIZ-ME, ALADO EMBAIXADOR,
QUE SOBRE O LABIRINTO
DA MINHA VIDA
PLANAS?


"Querido amigo Silveira"



Aprender, que maravilha!

No teu olhar escondida

Sem "passagem proibida"

Ver acontecer a vida

A permanente aventura

Que percorrem de mãos dadas

A Natureza e a Ciência....


Correr mundo, peregrina:

No teu olhar e palavra

Ir onde jamais iria

Clandestina passageira

Pena na beira da asa

De ti, ave migradora!


Portanto, muito obrigada!


(INTRODUÇÃO AO LIVRO "cONTOS iNCONTIDOS" DE RAYMUNDO SILVEIRA
Canção de Navegar


Porque me terá deixado
ao partir, o meu amado,
em tristeza sem sentido?!
Tendo as saudades matado
porque é que terá ficado
solto no ar este pranto?
Meu amor vê as marés,
tem sete dores meu cais,
vem navegar-me outra vez!

CHORAM AS MARIAS

Eu hoje queria
qualquer nome, não Maria!
Um nome que não doesse
ser mulher que não se desse
nem por tanto amor sofresse!

Mas sendo Maria aceito
o soluço onde me deito
o mar se abrindo em meu peito

Os olhos doridos não fecho
nem o meu nome renego!


flor de lótus

fluto




na

busca sabedoria
possível
possível


com todas
as minhas pétalas
abertas em concha
como flor de lótus
no lago quieta
mas vibrante
flutente
solta
vida
!

quarta-feira, fevereiro 04, 2004

"Maria"



De alma perfumada

Cercada de anjos invisíveis

O toque suave de

sua presença

Sopra no meu coração.

Sua palavras são

sopro Divino

É colo de Deus.



Seus olhos são

estrelas sorrindo

Em meio a escuridão

São estrelas que

acendes aqui na Terra

Mostrando que o amor

é possível.

Seus olhos...

Ah!! Seus olhos

trazem paz.



Seu sorriso tímido

é como flor a

desabrochar.

É água cristalina

É o azul do céu

Mostrando que a

bondade vem de dentro

e que o carinho

que nos une

é de puro sentimento



Suas poesias nos

transporta para

um tempo além

onde a vida fica

com a cara que ela tem,

mas que desaprendemos

de ver.



Maria, Maria querida

no instante

em que rimas

Deus está juntinho

de você

Você tem alma

de riacho de águas claras,

rolando noite e dia.



Para você com carinho

Nelim Monti

Mulher de Corpo e Alma



Para que solte a fêmea
que me habita e que procura
contigo em ti primavera,
Não me queiras nua
toma-me absoluta tua
imteira solta, inquieta
pensadora, criança
que ri e que chora, que ama
mulher de corpo e alma

Dói-me a alma


No limbo
em que navego
porque te escolho
minha sina?

murmura
me ensina
o caminho
da ausência
de ti em mim!

(alma branca
que divaga,
que vai no sonho
inquieta)

confiada

sofrendo
porque sim!

E choro e rio
... que é de mim?!

Ó alma
imensa
que me tocas,
asa de borboleta
ansiosa
por tua flor,
minha dádiva

murmura
me ensina
o caminha
da tua ausência!

Pássaro
que vieste manso
trazendo e levando
primavera!

O BEIJO


SONHO
SE DULUINDO
NO AR
PERFUME DE ALFAZEMA
POEMA
QUE NEM SEI CANTAR

NUVEM QUE QUE ESVAI
MOMENTO NO TEMPO

CARÍCIA
QUE PERPASSA
E SEGUE TÃO LEVE
DEIXANDO PESADA
SÓ MINHA A
SAUDADE

SORRIR... É VIVER.?





Com um sorrizinho nos olhos
fico.
Se tu me sorris,
com um sorrizinho
respondo
merci!
Com um sorriso me rio
Se de mim te ris,
que por última fico
logo, a rir continuo!
Bem basta o amuo
do que amanhece
já demais sisudo
e vai para o trabalho
automático
no contrabalanço
do autocarro
superlotado.
Eu cá, sorrio!
... e se me julgam parva,
paciência!

Corro o risco,
por gosto!











poetrix - A NOITE

parece que não fim
se o parceiro
é ruim

A noite morre calada
se só meu desejo
fala!

Hoje a poesia em dó maior entrou no meu dia!

dói-me
mas
me eleva
é preciso olhar e ver
de fora
para entender
o que vive
ou morre
se esconde
por dentro
do dó
maior!

Mergulhada em sonho
por teus olhos vendo:
a caixinha de música
está aberta
e na minha
fantasia
dança lenta
a bailarina...
tutu cor-dr rosa
num espelhinho
liso
e roda
e roda
e roda
nesta fantasia
que a ti me leva
e na minha alma
tão irmã da tua
gira roda e dansa
sem fim a
balarina!

DE SENSAÇÕES

NO MEIO DAS ONDAS
(CHEIRA A MORANGO VERMELHO)
SÓ VEJO AR
AZUL E ROSA
TUDO GIRA Á MINHA VOLTA.
ERGO-ME.
FIRMO OS JOELHOS
E FECHO COM FORÇA OS OLHOS.
LEVANTO-ME
ESTENDO OS BRAÇOS
PARA CIMA
PARA LÁ
PARA O CÉU.
FIRMO-ME.
ENTERRO OS PÉS NO SOLO
TRANSFORMA-SE O CHORO EM RISO:
MINHAS AS CORES DO MUNDO,
E QUEM MANDA EM MIM
SOU EU!

TRAVESSIA


ABREM-SE AS ÁGUAS
QUEBRA-SE O GELO
ATRAVESSO AS SOMBRAS

MAS DO OUTRO LADO
SÓ ESTÁ O VAZIO

SOZINHA
SIGO PELA VEREDA
ATRAVESSO IMPUNE
O RIO
OLHLO DE FRENTE,
FIXO,
OS IMENSOS OLHOS
DO MEDO
ENFRENTO DE PEITO NU
AS LANÇAS ACERADAS
DO MUNDO!

Flores no vento



O mundo
é um novo já velho
a morte,
o nosso destino
a nossa única certeza
no fim do nosso caminho

De que servirá o medo?
Tememos o nascimento?
Nercer é começar segindo
da morte
o passo primeiro.

O sofrimento dói muito
e é humano temê-lo
a vida, cada momento
não traz em si sofrimento?

Cubram-nos na morte
o rosto
deêm-nos o esquecimento
vivamos
com dignidade
com carinho
sem tormento

somos hoje e seremos
flores
a tremer no vento!

amadurar é crescer



estou aqui a pensar
quanto me custou chegar
aonde estou
e vencer.
a tempo de saborear

eu acabei de olhar
a vida
no seu lugar
vivi a vida a sonhar
agora quero ficar.

vivi a vida a correr
agora quero parar
em cada esquina onde houver
algo novo a aprender.

estou a amadurar
amadurar é crescer.
agora não quero correr
agora não quero morrer
quero é viver
viver!

ter tempo de vos mostrar
em versos, como calhar,
como é bonito chegar
se gostamos de viver.

olho em frente devagar
vejo o futuro chegar
o agora acontecer
agora quero é viver

quero lá saber dos anos!
anos são meros enganos,
meras contas de somar

e o meu destino é sonhar!

amando não se envelhece
quando o sonho permanece
permanece em nós a flor
do dar, do ser, do amor!
Um lento lânguido e ledo
sentimento foi chegando
não era tarde nem cedo
já só dei por mim amando
e nem mais em mim pensava
mas nele e imaginava
quantos beijos lhe daria
ai meu Deus se o apanhara!
Eram tão lindos meus dias
seguia a sorrrir airosa

feliz

por dentro
azulinha
e por fora
cor de rosa!
Salvo Meu Sonho



Arame farpado
e do outro lado
o sol,
aberto num sorriso!
Com prejuízo
porque o temo
e ao mesmo tempo
o quero.

Medito
e leio e escrevo
e calo o choro
sofro,

mas não desisto
o sol brilha
do outro lado
dos picos
do arame farpado
que fere
por fora e por dentro.

Quieta,
sigo pisando
o meu próprio
caminho
e não
pelo trilho imposto

cerco
de arame farpado
que me enreda
o destino.

Desvio-me
do fogo solto
como se fora
um soldado
aqui caio
lá me levanto,

mas sigo
na rota do vento.
A salvo,
meu sonho!

Ao alto!



eu dei meu amor
a quem me negou!
se tão só eu era
(e eu era só)
no frio




s
o
u








Este poema de dor
é a paga do amor
que te dei
e agradeceste
como se a alma doesse
e cada um a chorar
do outro se condoesse
por amor nada dissesse
ficasse em si
a chorar
se te dei
tudo o que sou
que garra te magoou
no lar quente
do meu peito
onde o pobre coração
coloquei na tua mão
e nela se viu desfeito?
quem é que te enganou
onde a mentira que sou
que vês tu que não conheço
onde veneno encontraste
nesta boca que beijaste
e tudo por ti deixou
a rosa que desejaste
no momento que a colheste
e por ti se coloriu
das rubras cores da paixão
que vive no coração
que por ti
quase morreu?

A menina a sua mãe









Mãe porque é que partiste
nessa manhã-noite-negra?

E porque é que me deixaste?
Era leve e pequenina
porque é que não que não me agarraste
e me levaste contigo?

E lembras-te, ao outro dia
das tantas flores que levaste?

Eram lírios, eram rosas
e açucenas, grinaldas
tão lindas! Mas tu dormias!

Como o Barrocal estava triste!
Até o chão percebeu
que tu nunca mais voltavas

Nesse tempo em que eu era
a tua menina pequena
te guardava e me guardavas

Estrada

mendigo carinho
c'os olhos e os lábios
mas tu não queres ver
e passas por mim
sem sequer olhar
minha alma faminta
de mão estendida
á beira da estrada
da vida

Pergunto


Como falar-te
gota
de
magma
que se afoga
pirilampo

luzindo
na eterna noite
escura
lágrima
pura
à deriva
no silêncio
permanente
que insiste
ser
palavra


Nús ao Vento



Agora

Passamos às vezes

pelas veredas fechadas

em busca de outros tempos.

Pegamos nossos sorrisos

e alongamos os braços

Para tentar que eles voem

por cima dos muros negros

para os campos

além das montanhas

vermelhas e azuis

onde a aurora nasce.

As nossas vozes sussurram

como se fossemos pássaros

pressentindo

o acordar das serpentes
Lá longe uma estrela


A gente tropeça nas pedras
Que nos mancham o caminho.
Nossos olhos brilham febres...
Nossos joelhos rasgados
Estão a narrar nossas quedas.
Nossos lábios secos pedem,
Nossas mãos gretadas doem.
Nossos corpos alquebrados
Cantam nosso desespero
Mas os nossos olhos brilham
A febre doida da Esperança.
No escuro erguemos a fronte
Porque cremos que lá longe
Brilha uma estrela nossa.

Cachopa da Beira-Rio

Cachopa da beira rio
dei meu coração ao mar
sou filha da foz do Tejo
passo a vida a navegar
meu coração um veleiro
com velas de ir e voltar
peregrenino companheiro
está partido e a chorar
de si só guardo metade
onde a outra irei buscar?
num paraíso distante
Vera Cruz, hei-de chegar!
cachopa da beira rio
com saudades de abalar
e encontrar essa metade
que tanto choro a cantar
meu fado é esta tristeza
quando te irei encontrar?

só perto do meu olhar!

A Amália Rodrigues

Esta noite,
enquanto a noite dormia,
Amália deixou a vida.
Fechou pela última vez
aqueles olhos tão seus,
tão meus,
tão nossos, tão negros!
Na sua garganta
Calou-se a voz imensa,
mas não se calou Amália!
Mulher de vida sofrida
chorava quanto cantava!
Mulher de intensa vivia
e tanto amava a vida

Parou

Docemente, num instante
Deixou de ser
Cansada talvez de ser tanto
deixou-nos em denso pranto
correndo do peito aberto

sofro

não choro a morte de Amália
que Amália não morreu
amália sofreu a sina
seu fado no próprio nome

cantou
cantou
desde o nascimento à morte
Amália, do verbo Amar!

6/10/1999

"não sei que paixão, candente como um ferro sobre a birgorna ou que tristeza mansa como cândida onda que um menino colhesse entre as mãos, erguia o seu jorro naquela garganta"

Escrevi à margem, na hora da triste notícia, este trecho do poema Pranto da Filha de Jefté, de Pablo Garcia Baena

Com todo o meu amor,



Lisboa - Portugal

Debruço-me de mim
e caio

condenada porquê?
Que fiz?
Já não tenho nada
do que fui
mais nada quero

senão
por uma vez
descançar

que semente
germinaria
na crestada
terra
de mim
que ficou?

aqui a poeta
inventa
numerosas formas
de auto
extermínio

LÁGRIMA





lágrima


escondo
o
encanto,
desvio
calada
o
pranto,
desdigo
a
cor
do riso.


fonte
tremente,
vela
no rosto
à
deriva.
rio
fluindo,
desvendo
a
raiz
de mim,
roxo lírio.


levo
o
desfeito
mar
magoado
e
exponho
o
querer
sonhado


se
em minha fonte
surgira
a
esperança
o
brilho
claro
que fora


a
ventura
o
arco íris
a
opala
o
claro resplendor
da
aurora.





CONSCIÊNCIA DE MIM


Os objectos,
todos os objectos,
são meros brinquedos
para me distrair
da alma,
para me abster de senti-la
a toda a hora
esforçada
a doer.

Porque dói tanto a alma?

E brinco com as coisas
que os outros acham sérias
tolas
meras coisas efémeras
praserezinhos
guloseimas emocionais.

Para mitigar a dor que mais que mais dói,

eu brinco de administrar a casa
de cuidar da roupa
de enfeitar paredes
de jardinar os móveis
de dispersar jóias
e que se lixem as coisas!

Eu quero é matar a dor


da alma. A alma lhe chamo
porque não sei
que nome tenho!

Olham e acham que não penso
que não meço
que disperdiço...
Lérias!

Quadros, roupas, casas, fazendas,
são coisas.
E as coisas são objectos.
E os objectos brinquedos.

Não consigo envelhecer
e nunca no vida tive
brinquedos a sério,
como os outros.
Mas muitos, muitíssimos
brinquedos inventados.

Há os seres, claro,
mas esses...
são dos meus olhos os lagos
espelhos
onde espalho
meus brancos diamantes
do incntível amor.

Rebentaria de mim
se não pudesse acarinhar algo que
me reconhece
e me afirma diáriamente
que estou viva.

A única brincadeira
que brinco a sério
é escrever
para me libertar de mim.
Mas se o não calo mais,
como calei,
vejo no olhar dos outros
que é feio
falar-se disso
mostrar-se isso
como dantes
não se falava de sexo
nem de como nascemos
e nos era obstinadamente exposto
como morremos!

era uma dúvida

que bailava no espaço em branco

como bola de sabão no vento

como bola de sabão não tinha peso,

não tinha dimensão,

nem espaço



... nem devia durar tanto



mas há corações

tão desequilibrados

que até uma bola de sabão

os faz tremer, duvidar, coitados!



há corações tão solitários

(solidários)

e tão ignorantes

na sua solidão!



que viajaram aos trancos

por tantos caminhos adversos

parece que rolam em vão,

crentes

caem na vida

vão continuar

solitários

a rolar

vão continuar

carregados de dúvida

de amor, de apelo

se bem saibam de antemão

que todo o apelo é vago, vazio, doloroso

porque quando apelam

lhes respondem, os outros, os que se amam

não!



coração em sangue-vivo

sempre à disposição!


Imagina um Jardim











Dentro de mim
Desabrocha
Uma-flor-de-amor
Oferecendo
Suas pétalas
Orvalhadas
No ignoto
Infinito
Pleno
De ausências
É tal a beleza
Que me alimenta
Como á orquídea
Que sobrevive
Lançando
No nada
Suas raízes
Suspensas!

O circulo do ar

me rodeia



só o ar

me abraça



nem sequer há sol

nem sequer há lua



só o ar

me rodeia



como quero rir

vou só, no ar!



mas o ar

é circular

ora me leva

ora me trás

ora me deixa

suspensa

e vaga



bolha

transparente

irisada

suspensa

no nada



filhos do universo


o luar
é uma sombra
que não pousa
é uma poalha luminosa
que paira
que encanta
e passa

as estrelas
são os olhos do céu
anjos da gurda
gurdando
o vasio
brilham
rebrilham
sonhando

a nós
pertece-nos a terra
não para esventrá-la
violentar sua beleza
mas para amá-la
reparti-la
mantê-la
além de nós

tenho um coração que ama
tenho um cérebro que pensa

assim como eu
sois vós

porque é que
todo o mundo
vê a desvairada
injustiça da vida
e se cala
porque é que
tanto se reclama
mas não se faz nada
porque é que
se continua o caminho
por esta precária
desastrada estrada?!


Maria Petronilho
2/11/2002


vida que me sobra


Cumpri demais do que pude
acendi
apaguei fogos
lutei
queimando os braços
ganhei p'lo que fiz e faço
a paga do desamparo

suportei todas as dores
e ignorei os prazeres
...
os loucos e os pobres
deixam-se ficar
especados á porta
na esperança desesperada
de uma esmola
...
enfim,
o nada me valha!

não mais necessária,
poeira ignorada
na estrada que se pisa,
basto-me a mim mesma
em fome,
ignorância

do nada retiro a força
para caminhar ainda

que me resta?!
a loucura da escrita
inqualificada?

ser mulher ser
me supera,
paixão ignorada!

perdem-se os olhares
alheios ao que
no a dia a dia passa


que faço na terra
com o resto da vida
que me sobra?

não acredito
na ditosa vida
de martirizada
masoquista

já que sofri toda a vida
que lute e que morra
por uma causa
justa!
canto baixinho

NA GRUTA DA SOLIDÃO
EU CANTO BAIXINHO.
ESTALACTITES DE SAL
ME CAEM DOS OLHOS
MAS EU ESTOU CANTANDO
BAIXINHO
ECOA O SILÊNCIO
NO IMENSO NADA
QUE ME CIRCUNDA.
BATAM-ME OS DENTES DE FRIO.
MAS ESTOU CANTANDO BAIXINHO


TEMO QUE ACORDEM
AQUELES QUE NÃO CANTAM
E VENHAM ZURRANDO
FAZER-ME COMPANHIA!
Decerto te lembras
do verde no azul...
e quando passavas
as inquietas folhas
agitavam brisas
levavam poemas
tantas fantasias!

... e ele suspirava,
tu é que o não vias
tinha tantos sonhos

no cais de meus dias
implorando ao vento
por asas e velas!

Tinha tantas e belas
incontidas esperanças
ao vento lançadas!

tinha tantas rosas
coloridas, tantas,
mas tão espinhosas!

cantava diários
colares de lágimas
e eram tão sentidas!

tinha portas fechadas
e as chaves perdidas...

Contigo o tempo







Como um raio de luz


Se detém o tempo
Ou então esvoaça

Pairando, tremendo
num lago tranquilo

Brilha minha alma
quando estou contigo











Saudades do sol, da brisa

Em que se brinda a saúde

a saudade, o bem estar

numa esplanada serena

a escrever à beira-mar...

É por isso que as letras

vão caindo uma a uma

na fímbria do meu regaço

e se desfazem em espuma!

terça-feira, fevereiro 03, 2004

O POETA



O POETA
TEM A ALMA NUA
LANÇA-A EM VERSOS
NO VENTO
RECLAMAM-NA
COMO SUA
DE VIDRO É
O SEU PENSAMENTO
PERTENCE A TODOS
E NO ENTANTO
O POETA
VIVE CANTANDO
O AMOR
NA SOLIDÃO!

Dentes de ouro









eu sou tu és

ao invés

de

ele tem tu tens



sorriem
caveiras
vivas
costelas
barrigas
inchadas
crianças
sem

pão
carinho
futuro
esperança
de vida
digna

brilha
decrépita
a
figura
da
suma
indecência
camuflada
que
arrota
abundância

e viva
o consumo


que presta
o ouro
na miséria
que
nos toca?!
Estar e Ser


de onde vêm
as palavras
que lanço no ar
e te digo?
de onde vem
a ternura
que tirar do mal
consigo?
de onde vem
a coragem
de traçar
o meu destino?
de onde vem
a esperança
que ilumina
o meu caminho?
de onde vem
esta força
que me guia
e partilho?


de onde vêm?
para onde vão?
onde fico?


Castigo



se sofro
por cada sonho
perdido
é porque por ele
dei tudo
voo sem fim
nem fundo
minh'asa de imensidão
alcança o infinito!
É um longo olhar
um grito
será talvez perdição
mas sonhar é meu destino
vida mesquinha,
castigo,
saio dela
digo
não!
sem outra ventura


Entender
ouvir o não dito
perceber e aceitar
o oculto
humilhar-se e engrandecer
se dar e se confiar
abrir todo o coração
aos que só mostram janelas
chaves de segredo
que ora abrem ora não
corações de labirintos
a dizer-nos que o não são.

ver mais altos os contos
que as contas.
esconder o altruísmo
carecer e dizer não
fechar os olhos
deixar-se ver
e parecer cego.

Ser rosa
que no vento se desfolha
semente
perdida na terra
dura de pedra

a florir ternura
sem outra ventura que esta
ser tida por louca
a poeta!

a tarde













esconde-se o sol
minhas pálpebras
ansiosoas de luz
procuram
esconder de ti
o orvalho

as últimas rosas
renascidas na manhã
que me deste

Mas ai a brisa
que me mostraste
indiferente
levas

num instante
cai a noite

nas tuas costas
douradas





Hei-de Cantar!


Quero que a canção
permaneça
em meu coração
em meu verso
em meu tormento
minha desolação.
Quero que a canção
não estanque
seja para sempre
artéria a brilhar
escarlate
até que meu ser se esgote

Hei-de cantar!
ai, vou cantar!
Digam que não posso
nem devo,
deixai-os dizer!
desobedecendo fui e irei!
Hei-de continuar
cantando!!!!


O ECO
O RESSOAR DISTANTE
ME CHEGA DE LONGE.


O NÃO-ESTAR
ESTANDO
O NÃO-SER
SENDO


EM VÃO GRITO
EM VÃO MORRO
EM VÃO FICO
NUM MUNDO TÃO ERMO
QUE EU-SÓ HABITO.


DIZEM SIM
NEGANDO
DIZEM O DITO
POR NÃO DITO


NÃO JOGO!
NÃO ACREDITO
NO AMAR-FEITO.


TENHO AS MÃOS
ATADAS
CONTRA O PEITO


DE OLHOS RASOS
VERMELHAS BRASAS
A LUZIR NO ROSTO.


O CARRASCO CHEGA
E EU À ESPERA:


DE PÉ!
NO MEU POSTO!

MÃOS-DADAS



A
TEU OLHAR
QUE VAI
MERGULHADO
NESSA LUZ
AR SOL
RISO
E
CHORO

O
CULTO
NO ETÉREO
BRILHO



VAGO SILÊNCIO
O SILÊNCIO
HABITO
NADA SOA
SÓ MEU
CALADO
GRITO



O AZUL
NOS OLHOS LEVO
TÃO LONGE


ONDE

O INFINITO!



LANÇO MINH' ALMA
NUM ESFORÇO
DE
IMENSO TUDO
EXPONHO
ME



NA
LONGA
ESTRADA
POR ONDE
DESAGUA
A
VAGA SINUOSA



O POSSÍVEL
TUDO
SEM ROSTO


O SER
NINGUÉM
O
DETENHA
CORRE CORRE
VEIA
NA VIDA
AUTOMÁTICA



QUEM VERÁ
A MÃO ESTENDIDA
CARECIDA
DE TERNURA
MAS TÃO SÓ
QUE
NADA LEVA
TÃO SÓ
ALMA
ABERTA
SEDE
DESAFIADA



EM
ROSÁRIOS
MOINHOS
DESEJOS
DE
TERNURA?