quarta-feira, fevereiro 04, 2004

A Amália Rodrigues

Esta noite,
enquanto a noite dormia,
Amália deixou a vida.
Fechou pela última vez
aqueles olhos tão seus,
tão meus,
tão nossos, tão negros!
Na sua garganta
Calou-se a voz imensa,
mas não se calou Amália!
Mulher de vida sofrida
chorava quanto cantava!
Mulher de intensa vivia
e tanto amava a vida

Parou

Docemente, num instante
Deixou de ser
Cansada talvez de ser tanto
deixou-nos em denso pranto
correndo do peito aberto

sofro

não choro a morte de Amália
que Amália não morreu
amália sofreu a sina
seu fado no próprio nome

cantou
cantou
desde o nascimento à morte
Amália, do verbo Amar!

6/10/1999

"não sei que paixão, candente como um ferro sobre a birgorna ou que tristeza mansa como cândida onda que um menino colhesse entre as mãos, erguia o seu jorro naquela garganta"

Escrevi à margem, na hora da triste notícia, este trecho do poema Pranto da Filha de Jefté, de Pablo Garcia Baena

Com todo o meu amor,



Lisboa - Portugal

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