terça-feira, janeiro 27, 2004

Das Idades




A velhice é um rompimento

Do compromisso

Entre a alma e o corpo,

Divórcio adiado.



Às vezes adormeço quieta

Na juventude tão certa...

De noite algo de transcendente acontece:

Acordo nas garras de mil anos

Que me carregam os ossos.



Enquanto os olhos lentamente despertam,

Peço encarecida aos nervos

Que me reconheçam

Me ressuscitem

Me sustenham e reunam



Geralmente me sinto menina pequena,

Como pareço.

Passo assim as largas horas brincando.

Esquecida de quanto sou breve,



Procuro

Ir aprendendo à revelia dos mestres,

Das primaveras, das chuvas.



Reconheço que é raro

Medir-me e saber-me na idade que, dizem,

Tenho

Embora seja estranho;

porque de atingi-la e vivê-la,

Em coerência com a minha poesia,

É das poucas proezas de que me orgulho.

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