segunda-feira, abril 05, 2004

Se Eu Pudesse



"Se eu pudesse trincar a terra toda
E sentir-lhe um paladar,
Seria o mais feliz momento...
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural...



Nem tudo é dia de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se.
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva...



O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica...
Assim é, e assim seja... "


Alberto Caeiro




Se eu pudesse


Se eu pudesse arrastava e afogava
Nos mares do mundo,
As tristezas que infestam as terras
Criadas ou aparecidas para certas
Coisa inauditas, como homens feras;
como feras que são mais certas e meigas
do que muitos homens senhores patetas
que pensam que sabedoria requer bibliotecas,

Mas persistem de olhos fechados às coisas!



Maria Petronilho



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