sábado, setembro 10, 2005
A SAUDADE É UM PORTO DE PARTIDA
A saudade é uma vela
translúcida, vibrante, acesa
representando uma estrela
tanto arde e não se queima!
não é de terra nem de água
mas é transparente, voa!
É ponte que nos mantém
unidos além donde somos
sempiternos viageiros
Saudade é flor de arco íris
luze no céu e revemos
o ser amado presente.
No imo das nossas almas
.. saudade é uma dor doce
não um barco mas um porto
donde se parte e se chega
prevendo que nos abriga
Almada, 14/11/2004
quinta-feira, setembro 01, 2005
INJUSTIÇA
Quando o homem rico
faz mal
todos acodem a descupá-lo
porque têm medo dele.
Quando o homem rico
erra
Todos dizem não errou
e sorriem
e o caso passa.
Mas se o homem pobre
faz mal
todos, todos o acusam
para agradar ao homem rico.
Mas se o homem pobre
erra
é preso, torturado, morto
e os outros, indiferentes,
encolhem os ombros e dizem
"era um pobre diabo"
e a vida continua.
porque tem de ser assim?
Quando acabará a diferença?
Homem pobre, porque esperas?
Sacode de ti esse jugo!
Tens direitos como o rico
luta por eles, por ti!
Maria Petronilho
quarta-feira, julho 13, 2005
Luar Adentro
Porque varar madrugadas
De olhos abertos no escuro
Sabendo quanto me sonhas
E os teus sonhos pressentindo
Distintos doces murmúrios
Ao descortinar da sombra
Purpurina que fascina
Vão se emanando os dias
Nós amplas rosas abertas
Velando o zimbório de estrelas
Fúlgidas breves eternas
Esvoaçando desatadas
Meditando que as cadeias
São meras ilusões apenas,
A vida corre e nós nelas!
Lisboa, 12/9/2004
Porque varar madrugadas
De olhos abertos no escuro
Sabendo quanto me sonhas
E os teus sonhos pressentindo
Distintos doces murmúrios
Ao descortinar da sombra
Purpurina que fascina
Vão se emanando os dias
Nós amplas rosas abertas
Velando o zimbório de estrelas
Fúlgidas breves eternas
Esvoaçando desatadas
Meditando que as cadeias
São meras ilusões apenas,
A vida corre e nós nelas!
Lisboa, 12/9/2004
DA OCIDENTAL TERRA LUSITANA
ARDE O POUCO QUE INDA RESTA
DA NOSSA TERRA BENDITA
NINGUÉM ESTRANHA, NINGUÉM GRITA
ALÉM DA NOSSA DESDITA
TUDO VARRE A LABAREDA
NESTA TERRA RESSEQUIDA
SÓ A CINZA COBRE A TERRA
POVO AMADO, QUE SOU EU
INDAGO PARA COMIGO
QUEM FOI QUE TE CONDENOU
A TÃO INFAME CASTIGO?
FOME... SEDE... DESEMPREGO
ATÉ O CHÃO SE CONDOE
AO VER A GENTE SOFRENDO
ARROSTANDO O DESALENTO
MAS PERSISTINDO LUTANDO
HERÓIS DO MAR SEM NAVIO!
DE LA OCCIDENTAL TIERRA LUSITANA
ARDE LO POCO QUE AÚN RESTA
DE NUESTRA TIERRA BENDITA
A NADIE EXTRAÑA, NADIE GRITA.
MÁS ALLÁ DE NUESTRA DESDICHA
SE EXTINGUE LA LLAMARADA
DE ESTA TIERRA YA RESECA
CUBIERTA POR LA CENIZA.
PUEBLO AMADO, QUE SOY YO,
INDAGO PARA CONMIGO
¿QUIÉN FUE QUE TE CONDENÓ
A TAN INFAME CASTIGO?
HAMBRE... SED... EL DESEMPLEO
HASTA EL SUELO SE CONMUEVE
AL VER LA GENTE SUFRIENDO
AFRONTANDO EL DESALIENTO
Y EN LA LUCHA PERSISTIENDO
HÉROES DEL MAR SIN NAVÍO!
8/7/2005
Maria Petronilho
Versão em castelhano: Alberto Peyrano
ARDE O POUCO QUE INDA RESTA
DA NOSSA TERRA BENDITA
NINGUÉM ESTRANHA, NINGUÉM GRITA
ALÉM DA NOSSA DESDITA
TUDO VARRE A LABAREDA
NESTA TERRA RESSEQUIDA
SÓ A CINZA COBRE A TERRA
POVO AMADO, QUE SOU EU
INDAGO PARA COMIGO
QUEM FOI QUE TE CONDENOU
A TÃO INFAME CASTIGO?
FOME... SEDE... DESEMPREGO
ATÉ O CHÃO SE CONDOE
AO VER A GENTE SOFRENDO
ARROSTANDO O DESALENTO
MAS PERSISTINDO LUTANDO
HERÓIS DO MAR SEM NAVIO!
DE LA OCCIDENTAL TIERRA LUSITANA
ARDE LO POCO QUE AÚN RESTA
DE NUESTRA TIERRA BENDITA
A NADIE EXTRAÑA, NADIE GRITA.
MÁS ALLÁ DE NUESTRA DESDICHA
SE EXTINGUE LA LLAMARADA
DE ESTA TIERRA YA RESECA
CUBIERTA POR LA CENIZA.
PUEBLO AMADO, QUE SOY YO,
INDAGO PARA CONMIGO
¿QUIÉN FUE QUE TE CONDENÓ
A TAN INFAME CASTIGO?
HAMBRE... SED... EL DESEMPLEO
HASTA EL SUELO SE CONMUEVE
AL VER LA GENTE SUFRIENDO
AFRONTANDO EL DESALIENTO
Y EN LA LUCHA PERSISTIENDO
HÉROES DEL MAR SIN NAVÍO!
8/7/2005
Maria Petronilho
Versão em castelhano: Alberto Peyrano
terça-feira, julho 12, 2005
Lilases e rosas
Noite de perfumes misturados,
que permanecem jungidos
na alquimia dos corpos,
saciados mas não exaustos
pois a cercania basta
para estimular a chama
noite recamada de brilhos
diademas de luz,
propícios berços etéreos
aonde nos embalamos
abraçados e enfim lassos
enleamos nossos braços
cerramos os olhos risonhos
resvalam dos nossos sorrisos
indícios do amor que nos demos
ternamente nos deitamos
na doce teia de sonhos
enredados por Morfeu
Amanhecerão enlaçados os lilases viçosos e as rosas molhadas de ondas ansiosas
11/7/2005
Noite de perfumes misturados,
que permanecem jungidos
na alquimia dos corpos,
saciados mas não exaustos
pois a cercania basta
para estimular a chama
noite recamada de brilhos
diademas de luz,
propícios berços etéreos
aonde nos embalamos
abraçados e enfim lassos
enleamos nossos braços
cerramos os olhos risonhos
resvalam dos nossos sorrisos
indícios do amor que nos demos
ternamente nos deitamos
na doce teia de sonhos
enredados por Morfeu
Amanhecerão enlaçados os lilases viçosos e as rosas molhadas de ondas ansiosas
11/7/2005
Jacek Yerka
Choro de Alerta... !
Rebrilham intensas chamas
Incêndios devoram florestas
ardem casas e aldeias
desarvoram as pessoas
ateadas as fogueiras
são lançadassobre as copas
semeaduras e matas
nas sedentas serras reacendem as chamas
atabafadas
gentes animais e plantas
perecem incineradas
baldadaslágrimas
suores cansaços tantas dores escusadas
crepitam choros aflitos
o fumo afoga os gritos
não chegam suor e prantos
para debelar fogos postos
ardem as nossas florestas
consomem-se as nossas esperanças
com tanto amor semeadas
lutamos ao extremo exaustos
enquanto de longe outros
se riem dos nossos esforços
e refastelados se esbaldam
nas piscinas
LLANTO DE ALERTA...!
Brillan las intensas llamas
El fuego devora el bosque
Arden Las casas y aldeas.
Envuelta en llamas, la gente.
Sobre las copas de los árboles
Las hogueras son lanzadas arden los campos, los bosques,
Hasta en las sierras sedientas se avivan
Las llamas enloquecidas
Gente, animales y plantas
Perecen incinerados
frustraciones lágrimas sudores cansancios
tantos dolores
sin sentido crepitan llantos
aflicciones
el humo ahoga los gritos
no llegan sudor y llantos a dominar ese fuego
Arden enteros los bosques
Consumiendo la esperanza
Con la que fueron sembrados
Luchamos hasta el extremo
exhaustos
mientras a lo lejos, otros,
se ríen de nuestro esfuerzo
y suntuosamente se alivian en sus piscinas.
Versão libre em espanhol Alberto Peyrano (Argentina)
3/3/2003
segunda-feira, junho 27, 2005
Quisera ser alquimista
Gustav Klimt_Primavesi
nas asas de borboleta
no fulgor do pirilampo
no ardil dos peixes
brincando
de esconde esconde
nos seixos
nos irisados reflexos
de cada gota de chuva
se chovera, ... buscaria
em cada grão da seara
e na laranja madura
e em cada bago de uva
moscatel, doce, dourada
como gotinha de mel
milagre vivo de abelha
ao volitar numa valsa
de flor ao sol animada
pelo renovo guiada
Ah, bendita formosura
presente na natureza!
Ah, brilhante natureza
presente na mente sana
que não se afunda na lama
mas enaltece a pureza!
Maria Petronilho,
26/6/2005
Gustav Klimt_Primavesi
nas asas de borboleta
no fulgor do pirilampo
no ardil dos peixes
brincando
de esconde esconde
nos seixos
nos irisados reflexos
de cada gota de chuva
se chovera, ... buscaria
em cada grão da seara
e na laranja madura
e em cada bago de uva
moscatel, doce, dourada
como gotinha de mel
milagre vivo de abelha
ao volitar numa valsa
de flor ao sol animada
pelo renovo guiada
Ah, bendita formosura
presente na natureza!
Ah, brilhante natureza
presente na mente sana
que não se afunda na lama
mas enaltece a pureza!
Maria Petronilho,
26/6/2005
segunda-feira, junho 13, 2005
Rhinocerontic Gooseflesh - Salvador Dalí, 1956
EU E O MAR À TARDINHA
Na minh' alma o mar canta
mas no meu sorriso chora
a minha mente divaga...
que saudades de lonjura!
Onde acharei a ventura
que o meu coração demanda?
Mar, faz de mim caravela
e que o vento me erga ainda
me leve p'ra onde a ira
não se aprove e aconteça
ó sol indo,chama acesa
que em rubro e ouro se deita
guia-me para a doçura
da paz, do amor, da esperança
que minha alma tanto busca!
Maria Petronilho,
2/4/2004
* * *
EL MAR Y YO AL ATARDECER
En mi alma canta el mar
pero en mi sonrisa llora
mientras mi mente divaga
deseando la lejanía!
Dónde hallaré la aventura
que me pide el corazón?¡
Mar, haz de mí una carabela
y que el viento me levante
y me lleve donde seasuceda lo que suceda!
El sol poniente,llama encendida,
se adormece en rojo y oro,
y guíame a la dulzura
de paz, de amor, de esperanza
que tanto busca mi alma.
Versão livre em espanhol: Alberto Peyrano
EU E O MAR À TARDINHA
Na minh' alma o mar canta
mas no meu sorriso chora
a minha mente divaga...
que saudades de lonjura!
Onde acharei a ventura
que o meu coração demanda?
Mar, faz de mim caravela
e que o vento me erga ainda
me leve p'ra onde a ira
não se aprove e aconteça
ó sol indo,chama acesa
que em rubro e ouro se deita
guia-me para a doçura
da paz, do amor, da esperança
que minha alma tanto busca!
Maria Petronilho,
2/4/2004
* * *
EL MAR Y YO AL ATARDECER
En mi alma canta el mar
pero en mi sonrisa llora
mientras mi mente divaga
deseando la lejanía!
Dónde hallaré la aventura
que me pide el corazón?¡
Mar, haz de mí una carabela
y que el viento me levante
y me lleve donde seasuceda lo que suceda!
El sol poniente,llama encendida,
se adormece en rojo y oro,
y guíame a la dulzura
de paz, de amor, de esperanza
que tanto busca mi alma.
Versão livre em espanhol: Alberto Peyrano
domingo, junho 12, 2005
Joseph Kleisch, 1885-1931
APESAR DE TUDO
Nada, nada se esquece!
A dor viva permanece.
Não se cura o sofrimento
Desnaturado, nascido
De quem era esperado
Amor, defesa e abrigo
Na minha alma
Céu aberto
Existe uma nuvem roxa
Que entretanto me afoga
Pois só desamor tragou
Minhas asas converteram
A sombria cor das penas
Mas remordem cerceadas
As minhas sãs esperanças
Para sempre decepadas.
Fui salva pelas quimeras
Que entesourei nas estrelas
Em meio ao feroz tormento
Não guardo ódio cá dentro
A quem de infame alvedrio
Tanto e sempre me feriu
Tento deslembrar mas... não!
Maria Petronilho,
21/5/1997
APESAR DE TUDO
Nada, nada se esquece!
A dor viva permanece.
Não se cura o sofrimento
Desnaturado, nascido
De quem era esperado
Amor, defesa e abrigo
Na minha alma
Céu aberto
Existe uma nuvem roxa
Que entretanto me afoga
Pois só desamor tragou
Minhas asas converteram
A sombria cor das penas
Mas remordem cerceadas
As minhas sãs esperanças
Para sempre decepadas.
Fui salva pelas quimeras
Que entesourei nas estrelas
Em meio ao feroz tormento
Não guardo ódio cá dentro
A quem de infame alvedrio
Tanto e sempre me feriu
Tento deslembrar mas... não!
Maria Petronilho,
21/5/1997
Titinha
Encantada primavera!
Meio ano!
Até o tempo
enlevado
em braços
doces te aninha
flor pujante de alegria
encantada primavera
que desabrochas tão linda
O tempo te leve sempre
pela estrada mais bonita!
De encanto os pais e tios
trocam entre si sorrisos
como é belo o transluzir
de teus olhos
flor de amor!
Haja muita alegria para sempre,desde sempre,Titinha,amada sobrinha!
Beijos da tia
Maria Petronilho,
16/5/2005
Encantada primavera!
Meio ano!
Até o tempo
enlevado
em braços
doces te aninha
flor pujante de alegria
encantada primavera
que desabrochas tão linda
O tempo te leve sempre
pela estrada mais bonita!
De encanto os pais e tios
trocam entre si sorrisos
como é belo o transluzir
de teus olhos
flor de amor!
Haja muita alegria para sempre,desde sempre,Titinha,amada sobrinha!
Beijos da tia
Maria Petronilho,
16/5/2005
SophieAnderson - peek_a_boo
OS MENINOS
São os meninos
Que trazem os sonhos
A brilhar nos olhos
Que nada os impeça
De fazer de amor sua estrada.
Tecendo um futuro risonho
Que queira Deus aconteça.
Deixem soltos os meninos,
Ágeis, leves passarinhos,
Que num adejo de asa
Saem depressa do ninho
Viver é o seu destino
E o mundo, a sua casa.
Maria Petronilho
7/5/2005
OS MENINOS
São os meninos
Que trazem os sonhos
A brilhar nos olhos
Que nada os impeça
De fazer de amor sua estrada.
Tecendo um futuro risonho
Que queira Deus aconteça.
Deixem soltos os meninos,
Ágeis, leves passarinhos,
Que num adejo de asa
Saem depressa do ninho
Viver é o seu destino
E o mundo, a sua casa.
Maria Petronilho
7/5/2005
O Tempo corre sem tino
Eu queria o poder de segurar no colo
As fulvas grinaldas do tempo
Que aos poucos se vão desfolhando
Queria dissipar o alor que prendo
Mas me leva consigo, quase me arrastando.
Eu queria tantos mais minutos em todas as horas!
Eu queria que o sol sobrepusesse as sombras
Eu queria viver, viver todo o tempo
De olhos despertos, folgando ao relento!
Eu queria abolir o tic tac desvelado
Sempre atento, reclamando...
Queria mais tempo, já que Deus mo deu
Para me enlaçar no vosso carinho
E a vocês no meu!
Maria Petronilho,
12/5/2005
Eu queria o poder de segurar no colo
As fulvas grinaldas do tempo
Que aos poucos se vão desfolhando
Queria dissipar o alor que prendo
Mas me leva consigo, quase me arrastando.
Eu queria tantos mais minutos em todas as horas!
Eu queria que o sol sobrepusesse as sombras
Eu queria viver, viver todo o tempo
De olhos despertos, folgando ao relento!
Eu queria abolir o tic tac desvelado
Sempre atento, reclamando...
Queria mais tempo, já que Deus mo deu
Para me enlaçar no vosso carinho
E a vocês no meu!
Maria Petronilho,
12/5/2005
SEM APELO NEM AGRAVO
Walter Crane - Summer
No meu solitário refúgio
se bem que iluminado
pela tua memória
pela tua ausência
deixo pousar a cabeça
no colo da desesperança
Suspendo o ar que inspiro
não me traga o desvario
num átomo do teu cheiro
Represo os passos
entrecerro os dedos
não ousem eles soltar o ímpeto
de te alcançar
de pedir ou de aceitar
de com os teus se enlear.
Afinco-me remoendo
o absurdo não-querer querendo
deixo o meu sangue ferver
deixo o meu sangue secar
deixo-me evaporar
se
etérea celebrar
a aura em teu redor
Maria Petronilho,
30/5/2005
Walter Crane - Summer
No meu solitário refúgio
se bem que iluminado
pela tua memória
pela tua ausência
deixo pousar a cabeça
no colo da desesperança
Suspendo o ar que inspiro
não me traga o desvario
num átomo do teu cheiro
Represo os passos
entrecerro os dedos
não ousem eles soltar o ímpeto
de te alcançar
de pedir ou de aceitar
de com os teus se enlear.
Afinco-me remoendo
o absurdo não-querer querendo
deixo o meu sangue ferver
deixo o meu sangue secar
deixo-me evaporar
se
etérea celebrar
a aura em teu redor
Maria Petronilho,
30/5/2005
DIANTE DE TI
John William Watherhouse, 1909
Estremeço
no espelho de água
me mostro
nua perante teu rosto
vê-me teu olhar por dentro
tremendo
revivo o momento
em que te sei e te sinto
tremendo
avassala-me o desejo
não escondo
sou eu a água do espelho
diante de ti revelado
tão louca que não aguento
resistir-te e por isso
assopro a água do espelho
omito-me
tremeluzindo
Maria Petronilho
John William Watherhouse, 1909
Estremeço
no espelho de água
me mostro
nua perante teu rosto
vê-me teu olhar por dentro
tremendo
revivo o momento
em que te sei e te sinto
tremendo
avassala-me o desejo
não escondo
sou eu a água do espelho
diante de ti revelado
tão louca que não aguento
resistir-te e por isso
assopro a água do espelho
omito-me
tremeluzindo
Maria Petronilho
DEIXA-ME DIZER-TE
Georgia O'Keffee - Ligth Iris
Deixa-me dizer-te
como é bom partilhar contigo
o pão e o sal
a palavra sagrada
que te sai da alma
e nos mostra as cores do conhecimento
tão diáfanas que, se divagamos,
nos perdemos nelas
como aves implumes e cegas
A tua asa incansável
chega como flor estendida
mostrando brandamente e de novo
os sítios onde é assisado aninhar o coração.
Firmemente dizes que ninguém se apoquente
pois uma era de glória e amor está chegando
Os dragões de escamas e garras fugiram uivando
e agora caminhamos por vias estelares
que ainda não enxergamos
Os teus olhos brilham como diamantes
enquanto a tua palavra serena
pacifica a alma e enxota a inquietação.
Deixa-me, só por esta vez, e em nome de tantos
agradecer-te o suave carinho
com que nos revelas caminhos de luz!
Com verdade e amizade,
Maria Petronilho,
29/5/2005
(ao meu amigo Poeta Manuel de Sousa, Starwalker)
Georgia O'Keffee - Ligth Iris
Deixa-me dizer-te
como é bom partilhar contigo
o pão e o sal
a palavra sagrada
que te sai da alma
e nos mostra as cores do conhecimento
tão diáfanas que, se divagamos,
nos perdemos nelas
como aves implumes e cegas
A tua asa incansável
chega como flor estendida
mostrando brandamente e de novo
os sítios onde é assisado aninhar o coração.
Firmemente dizes que ninguém se apoquente
pois uma era de glória e amor está chegando
Os dragões de escamas e garras fugiram uivando
e agora caminhamos por vias estelares
que ainda não enxergamos
Os teus olhos brilham como diamantes
enquanto a tua palavra serena
pacifica a alma e enxota a inquietação.
Deixa-me, só por esta vez, e em nome de tantos
agradecer-te o suave carinho
com que nos revelas caminhos de luz!
Com verdade e amizade,
Maria Petronilho,
29/5/2005
(ao meu amigo Poeta Manuel de Sousa, Starwalker)
PRECLARA NUDEZ
John William Waterhouse, 1890
Olhaste-me tão docemente
que me senti mergulhar
no lago do teu olhar
Fui átomo feliz de ti
noutra dimensão me achei
as chaves do amor busquei
Vaguei como peixe áureo
no teu límpido esplendor
De repente escureceu
e o teu olhar se cerrou
e a manhã me cegou
na lágrima que desceu
Perdi-me em ti... não sou eu
mas Eva que desobedeceu
além do permitido ousou
adentrar, o teu olhar cobiçou.
E se agora estiolo
na fria aridez do solo
em celso orgulho evoco
ter vencido o preconceito
ter ousado o inaudito...
Em júbilo me sublimo!
Maria Petronilho,
28/5/2005
John William Waterhouse, 1890
Olhaste-me tão docemente
que me senti mergulhar
no lago do teu olhar
Fui átomo feliz de ti
noutra dimensão me achei
as chaves do amor busquei
Vaguei como peixe áureo
no teu límpido esplendor
De repente escureceu
e o teu olhar se cerrou
e a manhã me cegou
na lágrima que desceu
Perdi-me em ti... não sou eu
mas Eva que desobedeceu
além do permitido ousou
adentrar, o teu olhar cobiçou.
E se agora estiolo
na fria aridez do solo
em celso orgulho evoco
ter vencido o preconceito
ter ousado o inaudito...
Em júbilo me sublimo!
Maria Petronilho,
28/5/2005
Um dia de Primavera
Lotus - Lee Kui Zhang
Ergue-se o sol como flor
no campo azul porcelana
e refulge em minha alma
a tangível harmonia
gentil, consumada e pura!
Espelhando o céu, flui o rio.
As flores, ainda promessa,
abrem-se à luz qual bandeira
de paz, de amor e esperança.
Um periquito pequeno
delicadamente cuida
do seu amigo Caturro
com tanto esmero e ternura
que me quedo em mudo espanto!
Ah, o amor! É um segredo
no vento vai delirando...
brilha em cada recanto:
A vida fulge de encanto!
Mas o humano no engodo
sufoca o tesouro alado
no íntimo cofre cerrado!
Maria Petronilho,
26/5/2004
Lotus - Lee Kui Zhang
Ergue-se o sol como flor
no campo azul porcelana
e refulge em minha alma
a tangível harmonia
gentil, consumada e pura!
Espelhando o céu, flui o rio.
As flores, ainda promessa,
abrem-se à luz qual bandeira
de paz, de amor e esperança.
Um periquito pequeno
delicadamente cuida
do seu amigo Caturro
com tanto esmero e ternura
que me quedo em mudo espanto!
Ah, o amor! É um segredo
no vento vai delirando...
brilha em cada recanto:
A vida fulge de encanto!
Mas o humano no engodo
sufoca o tesouro alado
no íntimo cofre cerrado!
Maria Petronilho,
26/5/2004
A escutar o grilo e o mar
Milly Possoz (1888-1967)
Chamarás desditoso ao grilo
por ser negro?
Quem canta às estrelas?
Quem na noite soa
E nos embala?
Quem trila que trila
Sem parar?
Ah, a saudade de estar
Numa janela qualquer
Numa aldeia junto ao mar
Quieta
No silêncio suspensa
Sobre o penhasco
Escutando
O grilo e o mar
Companheiros do meu choro
Vozes brandas murmurando
É cantar!
É cantar!
É cantar!
Maria Petronilho,
Odeceixe, 1981
Milly Possoz (1888-1967)
Chamarás desditoso ao grilo
por ser negro?
Quem canta às estrelas?
Quem na noite soa
E nos embala?
Quem trila que trila
Sem parar?
Ah, a saudade de estar
Numa janela qualquer
Numa aldeia junto ao mar
Quieta
No silêncio suspensa
Sobre o penhasco
Escutando
O grilo e o mar
Companheiros do meu choro
Vozes brandas murmurando
É cantar!
É cantar!
É cantar!
Maria Petronilho,
Odeceixe, 1981
O BEIJO DAS BORBOLETAS
Marc Chagall - Le Bouquet Ardent
LEVANTO AS MÃOS PARA O CÉU
ARCOS ÍRIS CONFIADOS RECAMAM OS MEUS DEDOS
DE BEIJOS
DELICIOSAMENTE ENFEITAM DE MIMOS
MEUS GESTOS AFLITOS
OH ALIANÇA COMOVENTE
JARDIM EFÉMERO ESCUDANDO-ME
DIÁFANO VÉU ONDULANDO
EM BRILHO SERENIDADE E ALÍVIO
SOBREVIVO CORAÇÃO!
Maria Petronilho,
Lisboa, 10/9/2004
Marc Chagall - Le Bouquet Ardent
LEVANTO AS MÃOS PARA O CÉU
ARCOS ÍRIS CONFIADOS RECAMAM OS MEUS DEDOS
DE BEIJOS
DELICIOSAMENTE ENFEITAM DE MIMOS
MEUS GESTOS AFLITOS
OH ALIANÇA COMOVENTE
JARDIM EFÉMERO ESCUDANDO-ME
DIÁFANO VÉU ONDULANDO
EM BRILHO SERENIDADE E ALÍVIO
SOBREVIVO CORAÇÃO!
Maria Petronilho,
Lisboa, 10/9/2004
SE TE ESCUTO
Adolphe William Bouguereau, 1891
SIGO AS ROTAS DO UNIVERSO
A TUA BOCA VAI DIZENDO
HISTÓRIAS LINDAS E BRINCANDO
SEM QUE RIAS
ENCANTADA, ESQUEÇO O MUNDO.
OS TEUS DEDOS SOSSEGADOS
SUBLINHAM DE VEZ DE EM QUANDO
OS GESTOS, TECENDO UM CASULO
ONDE NÃO CABEM SOLIDÃO NEM MÁGOA ALGUMA
MAS, SABES QUE A SAUDADE É UMA ANDORINHA AZUL
E CONSTRUIU NINHO NO BEIRAL DO MEU PEITO?
Maria Petronilho,
9/6/2005
Adolphe William Bouguereau, 1891
SIGO AS ROTAS DO UNIVERSO
A TUA BOCA VAI DIZENDO
HISTÓRIAS LINDAS E BRINCANDO
SEM QUE RIAS
ENCANTADA, ESQUEÇO O MUNDO.
OS TEUS DEDOS SOSSEGADOS
SUBLINHAM DE VEZ DE EM QUANDO
OS GESTOS, TECENDO UM CASULO
ONDE NÃO CABEM SOLIDÃO NEM MÁGOA ALGUMA
MAS, SABES QUE A SAUDADE É UMA ANDORINHA AZUL
E CONSTRUIU NINHO NO BEIRAL DO MEU PEITO?
Maria Petronilho,
9/6/2005
sábado, junho 11, 2005
ALBERTO PEYRANO: DIA DE PORTUGAL (Com versão de Maria Petronilho)
10 de junio: Dia de Portugal
Desde mi humilde Pluma brotó este Fado Menor
Vaya con mi sincero homenaje al pueblo lusófono
con todo mi amor por la Lengua de Camõens y su gente.
Alberto Peyrano
Fado Menor
Nostalgias de um tempo eterno
envolto em auras de ausência
meu barco navega quieto
pelas águas deste fado
e busca que a teus beijos
o levem as brancas velas.
Fado de meu coração ferido,
fado de canções antigas
que se adornaram de flores
de teu jardim tresnoitado.
fado que hoje me tem preso
nas cordas de cem guitarras
que te pedem esta noite
não deixes de escutar minha esperança.
O barco segue seu rumo
até um porto de vento.
Capitão de velhos mares,
vai navegando até um faro
em fado menor, minha alma.
Alberto Peyrano
Versão: Maria Petronilho
* * *
Fado Menor
Nostalgias de un tiempo eterno
envuelto en olas de ausencia,
mi barco navega quieto
por las aguas de este fado
y busca que hasta tus besos
Lo lleven sus velas blancas.
Fado de mi corazón herido,
fado de antiguas cantigas
que se adornaron con flores
de tu jardin trasnochado.
Fado que hoy me tiene preso
en cuerdas de cien guitarras,
que te piden esta noche
no desoigas mi esperanza.
El barco sigue su rumbo
hacia un puerto que es de viento.
Capitãn de viejos mares,
va navegando hacia un faro,
en fado menor, mi alma.
Alberto Peyrano
10 de junio: Dia de Portugal
Desde mi humilde Pluma brotó este Fado Menor
Vaya con mi sincero homenaje al pueblo lusófono
con todo mi amor por la Lengua de Camõens y su gente.
Alberto Peyrano
Fado Menor
Nostalgias de um tempo eterno
envolto em auras de ausência
meu barco navega quieto
pelas águas deste fado
e busca que a teus beijos
o levem as brancas velas.
Fado de meu coração ferido,
fado de canções antigas
que se adornaram de flores
de teu jardim tresnoitado.
fado que hoje me tem preso
nas cordas de cem guitarras
que te pedem esta noite
não deixes de escutar minha esperança.
O barco segue seu rumo
até um porto de vento.
Capitão de velhos mares,
vai navegando até um faro
em fado menor, minha alma.
Alberto Peyrano
Versão: Maria Petronilho
* * *
Fado Menor
Nostalgias de un tiempo eterno
envuelto en olas de ausencia,
mi barco navega quieto
por las aguas de este fado
y busca que hasta tus besos
Lo lleven sus velas blancas.
Fado de mi corazón herido,
fado de antiguas cantigas
que se adornaron con flores
de tu jardin trasnochado.
Fado que hoy me tiene preso
en cuerdas de cien guitarras,
que te piden esta noche
no desoigas mi esperanza.
El barco sigue su rumbo
hacia un puerto que es de viento.
Capitãn de viejos mares,
va navegando hacia un faro,
en fado menor, mi alma.
Alberto Peyrano
Mudo Encanto
MUDO ENCANTO ONDE ME QUEDO
POR TIMIDEZ MAS SEM MEDO
E VOU SORRINDO NO ENCANTO:
DO BEM E MAL NÃO ME ESPANTO.
DISSERAM-ME QUE O CONFORTO
DO POETA, ESSE SER TORTO,
QUE VIVE CANTANDO O SOFRER
E PASSA À VIDA AO MORRER
É CONTUDO CRER NA SINA
E QUE É TÃO LINDO SER MENINA
MAS MINHA INFÃNCIA ERA FRIA
TANTO E SÓ EU SABIA
MAS A NINGUÉM SOLTEI UM AI
POR NÃO TER TIDO MÃE E PAI.
FUI ATRAVESSANDO AS MÁGOAS.
MEU TEJO TEM TANTAS ÁGUAS
E NELAS DISSOLVI EM SAL
TODO DÓ DE QUEM ME FEZ MAL.
TRISTE O FADO DA MENINA
QUE PERDE A MÃE PEQUENINA!
VOU SOZINHA AO MEU NORTE
E DEUS NOS DÊ MELHOR SORTE!
MARIA PETRONILHO
27/12/2002
MUDO ENCANTO ONDE ME QUEDO
POR TIMIDEZ MAS SEM MEDO
E VOU SORRINDO NO ENCANTO:
DO BEM E MAL NÃO ME ESPANTO.
DISSERAM-ME QUE O CONFORTO
DO POETA, ESSE SER TORTO,
QUE VIVE CANTANDO O SOFRER
E PASSA À VIDA AO MORRER
É CONTUDO CRER NA SINA
E QUE É TÃO LINDO SER MENINA
MAS MINHA INFÃNCIA ERA FRIA
TANTO E SÓ EU SABIA
MAS A NINGUÉM SOLTEI UM AI
POR NÃO TER TIDO MÃE E PAI.
FUI ATRAVESSANDO AS MÁGOAS.
MEU TEJO TEM TANTAS ÁGUAS
E NELAS DISSOLVI EM SAL
TODO DÓ DE QUEM ME FEZ MAL.
TRISTE O FADO DA MENINA
QUE PERDE A MÃE PEQUENINA!
VOU SOZINHA AO MEU NORTE
E DEUS NOS DÊ MELHOR SORTE!
MARIA PETRONILHO
27/12/2002
quarta-feira, maio 11, 2005
Quem foi que me concebeu?
De quem fez o embrião
Que a luz divida tocou,
Pergunto-me: o que sei eu?
Que ele era bonito e mau
E ela um anjo do céu.
E os nomes que me nomeiam
Quem foi que os encarnou?
Como falavam e riam
Se riam... e como choravam,
se é que choravam, não sei!
Então como me criei?
Como um seixo que resiste
Derivando na corrente!
Maria Petronilho, 1997
De quem fez o embrião
Que a luz divida tocou,
Pergunto-me: o que sei eu?
Que ele era bonito e mau
E ela um anjo do céu.
E os nomes que me nomeiam
Quem foi que os encarnou?
Como falavam e riam
Se riam... e como choravam,
se é que choravam, não sei!
Então como me criei?
Como um seixo que resiste
Derivando na corrente!
Maria Petronilho, 1997
segunda-feira, maio 09, 2005
Não contemos as estrelas!
Os amigos são estrelas,
sempre presentes no céu.
Os amigos são flores,
sempre presentes no campo,
mesmo quando o vento
derruba as pétalas
e o gelo encerra as sementes.
Deixa que as noites e os dias se sucedam
Deixa que rodem as estações.
Os teus amigos estarão sempre lá,
apesar do tempo que faça,
impassíveis ao tempo que avança
com a ternura e a confiança
com que Deus cria as flores
e acende as estrelas no céu!
4/5/2005
Os amigos são estrelas,
sempre presentes no céu.
Os amigos são flores,
sempre presentes no campo,
mesmo quando o vento
derruba as pétalas
e o gelo encerra as sementes.
Deixa que as noites e os dias se sucedam
Deixa que rodem as estações.
Os teus amigos estarão sempre lá,
apesar do tempo que faça,
impassíveis ao tempo que avança
com a ternura e a confiança
com que Deus cria as flores
e acende as estrelas no céu!
4/5/2005
Que inquietação é esta?
(português/inglês, Maria Petronilho)
Dentro de mim
Uma ausência
Clama alto
Chora e grita
Por que implora?
Envolve-me
Sempre e ainda
A paz que foi construída
Por minhas mãos
Persistência
Mas em mim grita
A ausência!
Uma ausência
Que não tinha
Que de surpresa
Me apanha
E de súbito
Aguilhoa
Que inquietação é esta
Que transforma
A minha calma
Que mói fundo
A minha alma.
* * *
Which uneasiness is this?
Inside me
Some absence
Calls lowdly
Cries and howls
What does invokes?
Enfolds me
Ever and yet
The pace I make
With my fitting hands
Persistence
Cries inside me
Un absence!
Some absence
I had not
And surprising
Catches me
And sudden
Stings me
Which uneasiness is this?
It transforms
My calm
Crushing deep
My being.
(português/inglês, Maria Petronilho)
Dentro de mim
Uma ausência
Clama alto
Chora e grita
Por que implora?
Envolve-me
Sempre e ainda
A paz que foi construída
Por minhas mãos
Persistência
Mas em mim grita
A ausência!
Uma ausência
Que não tinha
Que de surpresa
Me apanha
E de súbito
Aguilhoa
Que inquietação é esta
Que transforma
A minha calma
Que mói fundo
A minha alma.
* * *
Which uneasiness is this?
Inside me
Some absence
Calls lowdly
Cries and howls
What does invokes?
Enfolds me
Ever and yet
The pace I make
With my fitting hands
Persistence
Cries inside me
Un absence!
Some absence
I had not
And surprising
Catches me
And sudden
Stings me
Which uneasiness is this?
It transforms
My calm
Crushing deep
My being.
PARA MINHA MÃE (OLHANDO O SEU RETRATO)
Mãe,
De onde te veio esse sorriso
Na precaridade e no sofrimento?
Com que olhares me criavas?
Que de mim esperarias?
De onde a força que levavas
Na vida-breve, tormento?
Como pudeste prosseguir sabendo
Que nada além de maior dor te esperava,
Que nunca me criarias, como dizias,
e eu sabia que sabias?
Tanto lias... mas porque bordavas
E como Penélope tecias infinitas rendas
Por um Ulisses que não merecia as prendas
Dessas mãos imaculadas
Tão finas, de unhas cuidadas,
Mãos de menina que eras,
Que menina findarias?
Olhando o teu olhar estremeço
De orgulho e se me vejo no espelho
No meu olhar vejo o nosso
Mãe coragem, atravesso
As altas chamas do mundo
E como tu vou cantando
O Fado que, nos calhando,
Na nossa voz reconheço,
E de coragem recobro
Do pouco de ti que lembro
Vamos, na vida e na morte, sorrindo!
Para minha mãe, Alice de Jesus Gouveia Petronilho, 1932-1958
11/2/2003
Mãe,
De onde te veio esse sorriso
Na precaridade e no sofrimento?
Com que olhares me criavas?
Que de mim esperarias?
De onde a força que levavas
Na vida-breve, tormento?
Como pudeste prosseguir sabendo
Que nada além de maior dor te esperava,
Que nunca me criarias, como dizias,
e eu sabia que sabias?
Tanto lias... mas porque bordavas
E como Penélope tecias infinitas rendas
Por um Ulisses que não merecia as prendas
Dessas mãos imaculadas
Tão finas, de unhas cuidadas,
Mãos de menina que eras,
Que menina findarias?
Olhando o teu olhar estremeço
De orgulho e se me vejo no espelho
No meu olhar vejo o nosso
Mãe coragem, atravesso
As altas chamas do mundo
E como tu vou cantando
O Fado que, nos calhando,
Na nossa voz reconheço,
E de coragem recobro
Do pouco de ti que lembro
Vamos, na vida e na morte, sorrindo!
Para minha mãe, Alice de Jesus Gouveia Petronilho, 1932-1958
11/2/2003
Os meninos
São os meninos
Que trazem os sonhos
A brilhar nos olhos
Que nada os impeça
De fazer de amor sua estrada.
Tecendo um futuro risonho
Que queira Deus aconteça.
Deixem soltos os meninos,
Ágeis, leves passarinhos,
Que num adejo de asa
Saem depressa dos ninhos
P'ra viver os seus destinos
No mundo, a sua casa.
7/5/2005
São os meninos
Que trazem os sonhos
A brilhar nos olhos
Que nada os impeça
De fazer de amor sua estrada.
Tecendo um futuro risonho
Que queira Deus aconteça.
Deixem soltos os meninos,
Ágeis, leves passarinhos,
Que num adejo de asa
Saem depressa dos ninhos
P'ra viver os seus destinos
No mundo, a sua casa.
7/5/2005
Desígnio
Hoje
é um dia que não é.
É um dia
em que não quero ser.
Quero por ele passar
como por uma estrada
de esquecimento.
Quero apagar as pegadas.
Quero que assente a poeira.
Passarei por ele inteira
pois alto esteio me escora:
Meu desígnio esplende aurora
que a este fadário inflama
Do carvão ressalta a chama!
8/5/2005
Hoje
é um dia que não é.
É um dia
em que não quero ser.
Quero por ele passar
como por uma estrada
de esquecimento.
Quero apagar as pegadas.
Quero que assente a poeira.
Passarei por ele inteira
pois alto esteio me escora:
Meu desígnio esplende aurora
que a este fadário inflama
Do carvão ressalta a chama!
8/5/2005
Faz noite negra, mas eu canto!
A canção dos jovens, a canção dos pobres,
a canção da esperança da gente do meu país.
Faz noite negra.
A lua brilha tão pequena!
Pequenas são as estrelas ao seu redor...
mas se toda essa luz se juntasse - que fulgor!
E luz é vida.
E para viver é preciso despertar.
A ao despertar esvai-se a noite.
Foi comido por si mesmo o negro pesadelo,
o susto desanuviou-se.
Sumiu-se em nada à luz do dia.
Dia em que a luz brilhe em todos os olhos
e em todos os sorrisos.
Dia de suspiros de alívio...
Esse o dia que espero.
Venha breve e venha prenhe de paz e de amor,
como o sol a pino.
Fujam daqui as manchas bolorentas do destino negro.
Bolor nas horas de todos os dias; na angústia.
Começa-se e segue-se sofrendo
sem que uma réstia de alvorada,
de ternura, ao menos luz no fim da jornada d
esigual da nossa vida.
Uns têm tudo; outros "têm" nada;
uns na soberba; outros na penúria;
uns os algozes; outros os servos;
uns arrotando e tantos outros mais de barriga vazia.
Acabem-se os lagos de pranto
em que afogamos o silêncio da vida.
Acabe-se o cada-qual-consigo
– nunca nada se conseguindo
... Enquanto se não entenda
que é NOSSA a mesmo causa,
como é NOSSA a mesma justiça
e que há que lutar de mão-dada!
A canção dos jovens, a canção dos pobres,
a canção da esperança da gente do meu país.
Faz noite negra.
A lua brilha tão pequena!
Pequenas são as estrelas ao seu redor...
mas se toda essa luz se juntasse - que fulgor!
E luz é vida.
E para viver é preciso despertar.
A ao despertar esvai-se a noite.
Foi comido por si mesmo o negro pesadelo,
o susto desanuviou-se.
Sumiu-se em nada à luz do dia.
Dia em que a luz brilhe em todos os olhos
e em todos os sorrisos.
Dia de suspiros de alívio...
Esse o dia que espero.
Venha breve e venha prenhe de paz e de amor,
como o sol a pino.
Fujam daqui as manchas bolorentas do destino negro.
Bolor nas horas de todos os dias; na angústia.
Começa-se e segue-se sofrendo
sem que uma réstia de alvorada,
de ternura, ao menos luz no fim da jornada d
esigual da nossa vida.
Uns têm tudo; outros "têm" nada;
uns na soberba; outros na penúria;
uns os algozes; outros os servos;
uns arrotando e tantos outros mais de barriga vazia.
Acabem-se os lagos de pranto
em que afogamos o silêncio da vida.
Acabe-se o cada-qual-consigo
– nunca nada se conseguindo
... Enquanto se não entenda
que é NOSSA a mesmo causa,
como é NOSSA a mesma justiça
e que há que lutar de mão-dada!
REVIVER
REVIVER
COMO A ÁGUA DE UM RIO
QUE SEMPRE EXISTIU
QUE SE EVAPOROU
E DEPOIS CHOVEU.
REVIVER
COMO O VERDE DA FOLHINHA
QUE VIVIA ESCONDIDA
NO BOTÃO DA PLANTA.
COMO O SOL QUE DESPONTA
E É SEMPRE OUTRO DIA.
REVIVER
COMO O MAR
QUE ORA TRAZ SUA ÁGUA
ORA A LEVA DE VOLTA.
REVIVER
COMO A RÃ DO DESERTO
QUE ESPERA ENTERRADA A CHUVA.
COMO A FLOR OCULTA
NA ENERGIA
DA SUA MÃE SEMENTE.
COMO O FILHO IMATURO
NO VENTRE DA MENINA
AO NASCER.
REVIVER
COMO A ÁGUA DE UM RIO
QUE SEMPRE EXISTIU
QUE SE EVAPOROU
E DEPOIS CHOVEU.
REVIVER
COMO O VERDE DA FOLHINHA
QUE VIVIA ESCONDIDA
NO BOTÃO DA PLANTA.
COMO O SOL QUE DESPONTA
E É SEMPRE OUTRO DIA.
REVIVER
COMO O MAR
QUE ORA TRAZ SUA ÁGUA
ORA A LEVA DE VOLTA.
REVIVER
COMO A RÃ DO DESERTO
QUE ESPERA ENTERRADA A CHUVA.
COMO A FLOR OCULTA
NA ENERGIA
DA SUA MÃE SEMENTE.
COMO O FILHO IMATURO
NO VENTRE DA MENINA
AO NASCER.
Mãe Eterna
Pomba branca,
tão breve, tão corajosa
ave linda que Deus trouxe
por um átimo à terra
astro que foste
cometa
e atrás de ti deixaste
no esmo frágil centelha
em soledade ferida
ah, mãe como eu aspirava
cobrir-te de rosas brancas
neste dia de lembranças!
mas relembro só de mágoas
as tantas flores que levavas
como se fosse este instante
como se do além pudesse
erguer-te mais que lembrar-te
ouvir-te e ter-te presente
beijo, amada, a tua sombra
aonde o céu te mantenha
esperando a tua filha
desvalida e pequena
desde que te foste embora
uma densa nuvem negra
abafou sua vida
7/5/2005
Pomba branca,
tão breve, tão corajosa
ave linda que Deus trouxe
por um átimo à terra
astro que foste
cometa
e atrás de ti deixaste
no esmo frágil centelha
em soledade ferida
ah, mãe como eu aspirava
cobrir-te de rosas brancas
neste dia de lembranças!
mas relembro só de mágoas
as tantas flores que levavas
como se fosse este instante
como se do além pudesse
erguer-te mais que lembrar-te
ouvir-te e ter-te presente
beijo, amada, a tua sombra
aonde o céu te mantenha
esperando a tua filha
desvalida e pequena
desde que te foste embora
uma densa nuvem negra
abafou sua vida
7/5/2005
sábado, abril 30, 2005
Victima de la mentira
Poema de Alberto Peyrano
Vaga el hombre
con su alma
persiguiendo
sus fantasmas...
No permiten su emoción...
No le aceptan su verdad...
¡No le dan su libertad...!
¡No lo aman...!
Siente el hombre
la tristeza
de estar solo
sin hermanos...
¡Es la víctima infeliz!
¡La mentira lo nutrió!
En el mundo, sin amor,
vaga y llora...
Cuando yo dejé mi hogar
seguí un sueño de quimeras
pero, al mirar hacia atrás,
a mis padres no encontré
ni a mi tierna primavera...
¡Soy un esclavo y robot
del engaño y la mentira...!
Me aparté de mi verdad
por buscar una ilusión...
¡Y gané la soledad!
* * *
Vítima da Mentira
Vagueia o homem
com a sua alma
perseguindo
os seus fantasmas...
Não permitem a sua emoção...
Não aceitam a sua verdade...
Não lhe dão a liberdade...!
Não o amam...!
Sente o homem
a tristeza
de estar só
sem irmãos...
É a vítima infeliz!
A mentira alimentou-o.
No mundo, sem amor,
vagueia e chora...
Quando deixei o meu lar
segui um sonho de quimeras
mas, ao olhar para trás,
não encontrei os meus pais
nem a minha terna primavera...
Sou um escravo e um robot
do engano e da mentira...!
Separei-me da minha verdade
por buscar uma ilusão...
E ganhei a solidão!
* * *
Victime du mensonge
Divague l’homme
Avec som âme
Pourchassant
Ses fantômes...
Ne lui permettrent son emotion…
Ne lui acceptent sa verité...
Ne lui donnent sa liberté... !
Ne l’aiment pas... !
Éprouve l’homme
La tristesse
D’être seul
Sans frères....
C’est la victime malheureux !
La mensange l’a nourit
Sur le monde, sans amour
Il divague et pleure….
Quand j’ai laissé mon foyer
Je purssuivais un rêve de quiméres !
Mais, en regardant en arriére
Je n’ai pas retrouvé mes parents
Ni mon tendre printemps...
Je suis un esclave et un robot
De l’artifice, du mensonge... !
Je me suis séparé de ma verité
Pour chercher une ilusion…
Et je n’ai arrivé qu’a l'isolement…
* * *
Victim of the Lie
Follow the man
With his soul
persecuting
his visions
don’t allow his emotions
Don’t accept his truth...
Don’t give him his freedom…!
Don‘t love him
Regrets the man
the sadness
of being alone
without brothers....
Is the unhappy victim!
The lie nurished him
On tthe world, without love,
Drifts and weeps...
When I left my home
I followed a dream of chimera
But, looking behind,
I did’t find neither my parents
Nor my tender springtimes...
I’m a slave and a robot
Of the cheating and of the insincerity...!
I disjointed myself of my truth
Searching for an illusion…
An I find out the isolation!
(versões para português, francês e inglês, Maria Petronilho)
Poema de Alberto Peyrano
Vaga el hombre
con su alma
persiguiendo
sus fantasmas...
No permiten su emoción...
No le aceptan su verdad...
¡No le dan su libertad...!
¡No lo aman...!
Siente el hombre
la tristeza
de estar solo
sin hermanos...
¡Es la víctima infeliz!
¡La mentira lo nutrió!
En el mundo, sin amor,
vaga y llora...
Cuando yo dejé mi hogar
seguí un sueño de quimeras
pero, al mirar hacia atrás,
a mis padres no encontré
ni a mi tierna primavera...
¡Soy un esclavo y robot
del engaño y la mentira...!
Me aparté de mi verdad
por buscar una ilusión...
¡Y gané la soledad!
* * *
Vítima da Mentira
Vagueia o homem
com a sua alma
perseguindo
os seus fantasmas...
Não permitem a sua emoção...
Não aceitam a sua verdade...
Não lhe dão a liberdade...!
Não o amam...!
Sente o homem
a tristeza
de estar só
sem irmãos...
É a vítima infeliz!
A mentira alimentou-o.
No mundo, sem amor,
vagueia e chora...
Quando deixei o meu lar
segui um sonho de quimeras
mas, ao olhar para trás,
não encontrei os meus pais
nem a minha terna primavera...
Sou um escravo e um robot
do engano e da mentira...!
Separei-me da minha verdade
por buscar uma ilusão...
E ganhei a solidão!
* * *
Victime du mensonge
Divague l’homme
Avec som âme
Pourchassant
Ses fantômes...
Ne lui permettrent son emotion…
Ne lui acceptent sa verité...
Ne lui donnent sa liberté... !
Ne l’aiment pas... !
Éprouve l’homme
La tristesse
D’être seul
Sans frères....
C’est la victime malheureux !
La mensange l’a nourit
Sur le monde, sans amour
Il divague et pleure….
Quand j’ai laissé mon foyer
Je purssuivais un rêve de quiméres !
Mais, en regardant en arriére
Je n’ai pas retrouvé mes parents
Ni mon tendre printemps...
Je suis un esclave et un robot
De l’artifice, du mensonge... !
Je me suis séparé de ma verité
Pour chercher une ilusion…
Et je n’ai arrivé qu’a l'isolement…
* * *
Victim of the Lie
Follow the man
With his soul
persecuting
his visions
don’t allow his emotions
Don’t accept his truth...
Don’t give him his freedom…!
Don‘t love him
Regrets the man
the sadness
of being alone
without brothers....
Is the unhappy victim!
The lie nurished him
On tthe world, without love,
Drifts and weeps...
When I left my home
I followed a dream of chimera
But, looking behind,
I did’t find neither my parents
Nor my tender springtimes...
I’m a slave and a robot
Of the cheating and of the insincerity...!
I disjointed myself of my truth
Searching for an illusion…
An I find out the isolation!
(versões para português, francês e inglês, Maria Petronilho)
quinta-feira, fevereiro 17, 2005
Canção do amor e da ira calada
Que a melancolia
não me leve a sombra
de árvore viva
em alma de primavera
Que não oiça
a maré alta que soa...
Quero ficar quieta
a sonhá-la, da duna...
Que a duna do meu peito
permaneça adormecida
que não a toque a chama
nem a ventania
Que os meus olhos ousem
uma vez na vida
olhar o sol de frente
e depois fique cega
E cega, deixarei passar sem ver
toda a lonjura onde não fui nem irei
todo o ouro, todo o azul.
E, ainda que não vendo,
vereis vós dos meus tormentos
fazerem-se vulcões meus olhos
que foram ensombrados lagos
Deixai-me ficar quieta
no meu terraço florido
com meus pássaros cantando
Levai o vosso sossego
do meu ser angustiado
Que o sol me seque o pranto
e o ar o leve escondido...
Que a melancolia
não me leve a sombra
de árvore viva
em alma de primavera
Que não oiça
a maré alta que soa...
Quero ficar quieta
a sonhá-la, da duna...
Que a duna do meu peito
permaneça adormecida
que não a toque a chama
nem a ventania
Que os meus olhos ousem
uma vez na vida
olhar o sol de frente
e depois fique cega
E cega, deixarei passar sem ver
toda a lonjura onde não fui nem irei
todo o ouro, todo o azul.
E, ainda que não vendo,
vereis vós dos meus tormentos
fazerem-se vulcões meus olhos
que foram ensombrados lagos
Deixai-me ficar quieta
no meu terraço florido
com meus pássaros cantando
Levai o vosso sossego
do meu ser angustiado
Que o sol me seque o pranto
e o ar o leve escondido...
Horas Amargas
na hora
em que
te abates
sobre o teu próprio
silêncio
em que
te sobra tanto
tempo
e espaço
em que
te sobra
tanto quanto
precisas
entendimento
na hora
em que
contas
pela ausência
de uma mão
sobre a tua
quantos
amigos te restam
de quantos
te prometiam
consolo
no tempo do sorriso
na hora
em que
te debruças
sobre o teu próprio
abismo
de amargura
nessa hora
saberás
a fundura
da tua
pequena grandeza!
13/11/2002
na hora
em que
te abates
sobre o teu próprio
silêncio
em que
te sobra tanto
tempo
e espaço
em que
te sobra
tanto quanto
precisas
entendimento
na hora
em que
contas
pela ausência
de uma mão
sobre a tua
quantos
amigos te restam
de quantos
te prometiam
consolo
no tempo do sorriso
na hora
em que
te debruças
sobre o teu próprio
abismo
de amargura
nessa hora
saberás
a fundura
da tua
pequena grandeza!
13/11/2002
Diz que é meu engano a desdita!
Nos meus olhos desertos
da tua presença
e
foscos de tanta tristeza
na
eterna lua-nova
cerrada e ansiosa
...
separa
o mordente sal
da água
diz apenas uma palavra
sopra uma vez que seja
que estás comigo ainda
que é meu engano a desdita
de jazer abandonada
e faz crescer a esperança
e faze de lua-cheia
o colo que te aninhava
e
anseia
reflorir em esplendorosa
e infinita aliança
o meu destino
de areia!
Lisboa, 14/10/2004
Nos meus olhos desertos
da tua presença
e
foscos de tanta tristeza
na
eterna lua-nova
cerrada e ansiosa
...
separa
o mordente sal
da água
diz apenas uma palavra
sopra uma vez que seja
que estás comigo ainda
que é meu engano a desdita
de jazer abandonada
e faz crescer a esperança
e faze de lua-cheia
o colo que te aninhava
e
anseia
reflorir em esplendorosa
e infinita aliança
o meu destino
de areia!
Lisboa, 14/10/2004
As mãos tremendo
De repente,
As mãos encontram-se
Tremendo sozinhas
No meio da noite
Quase podendo tocar-te
Tremendo
Por desejar-te
Mas tu estás tão ausente
Se bem estejas tão presente!
E o espaço se faz imenso
Volteia no ar minha chama
No teu encalço
... Mas não te alcanço!
Escuta o coração lancinante
Dizer-te secretamente
Vem, meigo e doce
Fazer-me vibrar
Fremente
Corda de violino nos teus braços;
Sê o arco que me faz gemer
De prazer
E gritar delirante
As palmas das minhas mãos
Dão por si tão de repente
Vazias de ti,
Tremendo
Antecipando o instante....
5/3/2004
De repente,
As mãos encontram-se
Tremendo sozinhas
No meio da noite
Quase podendo tocar-te
Tremendo
Por desejar-te
Mas tu estás tão ausente
Se bem estejas tão presente!
E o espaço se faz imenso
Volteia no ar minha chama
No teu encalço
... Mas não te alcanço!
Escuta o coração lancinante
Dizer-te secretamente
Vem, meigo e doce
Fazer-me vibrar
Fremente
Corda de violino nos teus braços;
Sê o arco que me faz gemer
De prazer
E gritar delirante
As palmas das minhas mãos
Dão por si tão de repente
Vazias de ti,
Tremendo
Antecipando o instante....
5/3/2004
Gostavas de ser diferente?
Se tu fosses diferente
Do Homem que és agora
Verias, crendo sómente,
Já que atento e consciente,
Que quando a alma acorda
Da dor, eterna cadeia,
O nosso olhar se alteia
Vendo mais à nossa volta
Tanta coisa ora alheia:
Que adormecida paira!
Que tudo o que se cria
Não morre mas se transforma!
Que onde estiver Deus cuida
Atento, da sua obra!
Que é dentro do sofrimento
Que a consciência acorda!
Que o amor que se semeia
Há-de reflorir ainda!
Se tu fosses diferente
Quem sabe alguém veria
Que é na palavra fluente
Do que ousa pensar diferente
Que a mudança principia!
Lisboa, 22/6/2002
Se tu fosses diferente
Do Homem que és agora
Verias, crendo sómente,
Já que atento e consciente,
Que quando a alma acorda
Da dor, eterna cadeia,
O nosso olhar se alteia
Vendo mais à nossa volta
Tanta coisa ora alheia:
Que adormecida paira!
Que tudo o que se cria
Não morre mas se transforma!
Que onde estiver Deus cuida
Atento, da sua obra!
Que é dentro do sofrimento
Que a consciência acorda!
Que o amor que se semeia
Há-de reflorir ainda!
Se tu fosses diferente
Quem sabe alguém veria
Que é na palavra fluente
Do que ousa pensar diferente
Que a mudança principia!
Lisboa, 22/6/2002
Tu sabes lá...
O que é ser-se
uma mulher solitária!
Ter tanta coisa a dizer
e ninguém para escutar!
O corpo e a alma a tremer
e ninguém nos encontrar!
Andar às cegas na luz
e ver bem na escuridão!
Até um olhar se agradece,
até nos enleva um sorriso!
Não é a solidão que dói,
que a solidão não existe!
É bom falar com si mesma,
a solidão não é triste!
É um vazio qualquer,
uma cadeira a sobrar,
uma ânsia de pedir
com vergonha de aceitar!
O que é ser-se
uma mulher solitária!
Ter tanta coisa a dizer
e ninguém para escutar!
O corpo e a alma a tremer
e ninguém nos encontrar!
Andar às cegas na luz
e ver bem na escuridão!
Até um olhar se agradece,
até nos enleva um sorriso!
Não é a solidão que dói,
que a solidão não existe!
É bom falar com si mesma,
a solidão não é triste!
É um vazio qualquer,
uma cadeira a sobrar,
uma ânsia de pedir
com vergonha de aceitar!
Que o vento me levante
Docemente
me eleve
acima de toda a pena
na sua diáfana
asa
proteja
da dor salgada
entranhe
no azul profundo
leve
as cinzas magoadas
na busca
de nuvens brancas
onde
repouse a fronte
a alma repare
adormeça e acorde
sossegue
de onde volte
renascida
para
cantar a ternura
e
saudar a primavera
a
luz que a todos afaga
espargindo
amor na terra
Lisboa, 31/4/2004
Docemente
me eleve
acima de toda a pena
na sua diáfana
asa
proteja
da dor salgada
entranhe
no azul profundo
leve
as cinzas magoadas
na busca
de nuvens brancas
onde
repouse a fronte
a alma repare
adormeça e acorde
sossegue
de onde volte
renascida
para
cantar a ternura
e
saudar a primavera
a
luz que a todos afaga
espargindo
amor na terra
Lisboa, 31/4/2004
Sonhadora
Não, não sei como falar-te
Desta alma sonhadora
Que olhando o céu desenha
Uma paisagem colorida
Entre as nuvens imagina
Um mundo que se desdobra
Paralelo a este outro
Donde minha alma se evola
Sou a eterna criança
Brincando à beira da praia
Vou desenhando na areia
Versos que o mar de repente
Desfaz e refaz em espuma
Mas sorrio, não me importo
Fico na margem tranquila
Vendo a areia que rola
E o meu sonho recomeça
Erguendo castelos de espera
Em minha alma, sonhadora.
Lisboa, 5/12/2003
Não, não sei como falar-te
Desta alma sonhadora
Que olhando o céu desenha
Uma paisagem colorida
Entre as nuvens imagina
Um mundo que se desdobra
Paralelo a este outro
Donde minha alma se evola
Sou a eterna criança
Brincando à beira da praia
Vou desenhando na areia
Versos que o mar de repente
Desfaz e refaz em espuma
Mas sorrio, não me importo
Fico na margem tranquila
Vendo a areia que rola
E o meu sonho recomeça
Erguendo castelos de espera
Em minha alma, sonhadora.
Lisboa, 5/12/2003
quarta-feira, fevereiro 02, 2005
Nada demora na vida
A brancura da poesia
Esvoaça ao rés da espuma
Beija a praia gota a gota
Como se dedos de céu
Detendo do mar a fúria
Estremece longe a safira
Ergue-se em alta montanha
Que logo decai desfeita
Nada demora na vida
Por muito alto que suba
Por muita força que tenha
Recorda o mar à poeta
A brancura da poesia
Esvoaça ao rés da espuma
Beija a praia gota a gota
Como se dedos de céu
Detendo do mar a fúria
Estremece longe a safira
Ergue-se em alta montanha
Que logo decai desfeita
Nada demora na vida
Por muito alto que suba
Por muita força que tenha
Recorda o mar à poeta
terça-feira, fevereiro 01, 2005
segunda-feira, janeiro 31, 2005
Les souvenirs
sont des fleurs éternelles
Moi. Je suis la joie de vivre
Je me souviens de tous mes printemps
Quand je vivais sur des nuages !
Quand je combattais les ombres !
Puis !…
Un certain mois d'avril arrive
E mon été débute
par l’éclat d'une fleur rouge
Qui figurait la tonalité
de tant de nos cris muets !
Une fleur couleur de sang
qui nous apportait la paix !
Maintenant je m’accomplis
dans la douceur de mon automne
Si paisible ! Si rayonnante
Que j’ai l’impression, quelques fois !
Qu’aucun hiver ténébreux
Ne m’entraîneras jamais.
- - -
Maria Petronilho
As recordações
são flores eternas
Eu sou a alegria de viver
Lembro-me de todas as primaveras
Quando vivia nas nuvens
Quando combatia as sombras.
Então...
Um certo mês de abril chegou
e o meu verão começou...
No auge rubro d’uma flor
Que simbolizava o tom
de tantos gritos calados!
Uma flor da cor do sangue
que nos conduzia à paz.
Agora. Aconchego-me
na doçura do meu outono
Tão calmo, tão radioso
Que às vezes me parece
que nenhum inverno tenebroso
entrará na minha existência
sont des fleurs éternelles
Moi. Je suis la joie de vivre
Je me souviens de tous mes printemps
Quand je vivais sur des nuages !
Quand je combattais les ombres !
Puis !…
Un certain mois d'avril arrive
E mon été débute
par l’éclat d'une fleur rouge
Qui figurait la tonalité
de tant de nos cris muets !
Une fleur couleur de sang
qui nous apportait la paix !
Maintenant je m’accomplis
dans la douceur de mon automne
Si paisible ! Si rayonnante
Que j’ai l’impression, quelques fois !
Qu’aucun hiver ténébreux
Ne m’entraîneras jamais.
- - -
Maria Petronilho
As recordações
são flores eternas
Eu sou a alegria de viver
Lembro-me de todas as primaveras
Quando vivia nas nuvens
Quando combatia as sombras.
Então...
Um certo mês de abril chegou
e o meu verão começou...
No auge rubro d’uma flor
Que simbolizava o tom
de tantos gritos calados!
Uma flor da cor do sangue
que nos conduzia à paz.
Agora. Aconchego-me
na doçura do meu outono
Tão calmo, tão radioso
Que às vezes me parece
que nenhum inverno tenebroso
entrará na minha existência
PARA NÃO FALAR DE SAUDADE
EU, QUE SOU FILHA DAS ONDAS,
GRITOS DE MARÉS,
GAIVOTAS EM VOOS RASANTES,
ESPUMAS,
A POUCO E POUCO ME ENTERRO
NOS NUS AREAIS
EM BRUMAS.
NOS MEUS OLHOS VAI MORRENDO
A LUZ QUE DELES DIZIAS...
A POUCO E POUCO ME PERCO
BUSCANDO TUAS MÃOS
SE VOLTO
TRAZENDO AS MINHAS VAZIAS.
25/2/2002
EU, QUE SOU FILHA DAS ONDAS,
GRITOS DE MARÉS,
GAIVOTAS EM VOOS RASANTES,
ESPUMAS,
A POUCO E POUCO ME ENTERRO
NOS NUS AREAIS
EM BRUMAS.
NOS MEUS OLHOS VAI MORRENDO
A LUZ QUE DELES DIZIAS...
A POUCO E POUCO ME PERCO
BUSCANDO TUAS MÃOS
SE VOLTO
TRAZENDO AS MINHAS VAZIAS.
25/2/2002
ASA DE MAR / Ala de Mar
ASA DE MAR
MINHA BARCA
ARVORADA
NA NUA CRISTA DA ONDA
LANÇADA
NUA E PLENA
MINHA ÂNSIA
MINHA MÁGOA
DE VIDA ILUMINADA
AI DO QUE SAIBA
FICAR LEVANTADO
NA BORRASCA
VIRAR A CRISTA DA ONDA
COM O SONHO ATRÁS DO OLHAR
DEIXAR
SEM PENA OU PERDA
A BRANCA PRAIA
AI PERDER-SE A VIDA
UMA VEZ ÚNICA!
*
ALA DE MAR
MARIA PETRONILHO
Versão em espanhol: ALBERTO PEYRANO
ALA DE MAR
MI BARCA
ALBORADA
EN LA DESNUDA CRESTA DE LA OLA
LANZADA
DESNUDA Y PLENA
MI ANSIA
MI PENA
DE VIDA ILUMINADA
AY DEL QUE SEPA
QUEDARSE LEVANTADO
EN LA BORRASCA
SIN ZOZOBRAR EN LA CRESTA DE LA OLA
CON EL SUEÑO ATRÁS DE LA MIRADA
DEJAR
SIN PENA O PÉRDIDA
LA BLANCA PLAYA
AY PERDERSE LA VIDA
SÓLO UNA VEZ!
ASA DE MAR
MINHA BARCA
ARVORADA
NA NUA CRISTA DA ONDA
LANÇADA
NUA E PLENA
MINHA ÂNSIA
MINHA MÁGOA
DE VIDA ILUMINADA
AI DO QUE SAIBA
FICAR LEVANTADO
NA BORRASCA
VIRAR A CRISTA DA ONDA
COM O SONHO ATRÁS DO OLHAR
DEIXAR
SEM PENA OU PERDA
A BRANCA PRAIA
AI PERDER-SE A VIDA
UMA VEZ ÚNICA!
*
ALA DE MAR
MARIA PETRONILHO
Versão em espanhol: ALBERTO PEYRANO
ALA DE MAR
MI BARCA
ALBORADA
EN LA DESNUDA CRESTA DE LA OLA
LANZADA
DESNUDA Y PLENA
MI ANSIA
MI PENA
DE VIDA ILUMINADA
AY DEL QUE SEPA
QUEDARSE LEVANTADO
EN LA BORRASCA
SIN ZOZOBRAR EN LA CRESTA DE LA OLA
CON EL SUEÑO ATRÁS DE LA MIRADA
DEJAR
SIN PENA O PÉRDIDA
LA BLANCA PLAYA
AY PERDERSE LA VIDA
SÓLO UNA VEZ!
NO SILÊNCIO DA CASA
acordar para quê?
para ver as estrelas
tremular sumidas?
não mais margaridas
bordando as manhãs
nem o fresco rocio
cúmplice
os pés roçando-se nus
debaixo da mesa posta
recendia a casa
de aroma a ternura
mas
as pétalas das margaridas
estão agora esfolhadas
à espera das geadas
olhar cinzas, para quê?
Lisboa, 13/1/2004
acordar para quê?
para ver as estrelas
tremular sumidas?
não mais margaridas
bordando as manhãs
nem o fresco rocio
cúmplice
os pés roçando-se nus
debaixo da mesa posta
recendia a casa
de aroma a ternura
mas
as pétalas das margaridas
estão agora esfolhadas
à espera das geadas
olhar cinzas, para quê?
Lisboa, 13/1/2004
Anjo-Estrela
Faço-me ânsia! Minhas centelhas
Tomam formas Percorrem distâncias
Envolvem-te alucinadas Divago no céu,
Em demandas Os olhos acesos
De urgências. As mãos implorando
As tuas Entranho-me em teus sonhos
E sussurro aos teu ouvidos
Cânticos infinitos, pois
Nasci entre os astros
E venho tomar-te nos braços
Para cingidos subirmos
À luz onde pertencemos
Faço-me ânsia! Minhas centelhas
Tomam formas Percorrem distâncias
Envolvem-te alucinadas Divago no céu,
Em demandas Os olhos acesos
De urgências. As mãos implorando
As tuas Entranho-me em teus sonhos
E sussurro aos teu ouvidos
Cânticos infinitos, pois
Nasci entre os astros
E venho tomar-te nos braços
Para cingidos subirmos
À luz onde pertencemos
Se o silêncio é de oiro
Hoje faço-me silêncio.
Excepcionalmente hoje,
que me estanquem nos lábios
as correntes das palavras
que não digo nem escuto.
Sequer o mar longínquo
me segreda murmúrios
de terno aconchego.
Tudo está calado, como se o vazio
contivesse o soído na noite.
O sol brilha, no entanto
e disfere profusamente
correntes de oiro descoberto,
mas de tão banal e gratuito
passa desapercebido.
Os homens decidiram
envenenar os rios de mercúrio
revirando nas mãos combalidas
as vísceras da terra descarnada
buscando o brilho na poeira
com que revestem a vaidade alheia,
a levantar a cabeça e aspirar fundo
o aroma das florestas refulgindo
... Portanto remeto-me ao silêncio
e busco que correntes de lágrimas
me desenxovalhem o rosto.
Lisboa, 21/9/2004
Hoje faço-me silêncio.
Excepcionalmente hoje,
que me estanquem nos lábios
as correntes das palavras
que não digo nem escuto.
Sequer o mar longínquo
me segreda murmúrios
de terno aconchego.
Tudo está calado, como se o vazio
contivesse o soído na noite.
O sol brilha, no entanto
e disfere profusamente
correntes de oiro descoberto,
mas de tão banal e gratuito
passa desapercebido.
Os homens decidiram
envenenar os rios de mercúrio
revirando nas mãos combalidas
as vísceras da terra descarnada
buscando o brilho na poeira
com que revestem a vaidade alheia,
a levantar a cabeça e aspirar fundo
o aroma das florestas refulgindo
... Portanto remeto-me ao silêncio
e busco que correntes de lágrimas
me desenxovalhem o rosto.
Lisboa, 21/9/2004
Os Poemas
Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhoso espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...
Mário Quintana
LES POÈMES
LES POÉMES SONT DES OISEAUX QUE ARRIVENT
ON NE SAIT PAS OÙ ILS SE DÉPOSENT
DAS LE LIVRE QUE TU LIS.
QUAND TU FERMES LE LIVRE ILS S’ENVOLENT
COMME D’UN PIÉGE
ILS N’ONT PAS D’ENDROIT
NI DE PORT
ILS SE NOURRISSENT POR UN INSTANT À CHAQUE PAIRE DE MAINS
ET ILS S’EN VONT
ET ALORS TU REGARDES CE VIDE DE TES MAINS
DANS LE MEIVEILLEUX ÉTONNEMENT DE SAVOIR
QUE SA NOURRITOURE ÉSTAIT DÉJÀ DANS TOI...
Mário Quintana
(Trad. Maria Petronilho)
Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhoso espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...
Mário Quintana
LES POÈMES
LES POÉMES SONT DES OISEAUX QUE ARRIVENT
ON NE SAIT PAS OÙ ILS SE DÉPOSENT
DAS LE LIVRE QUE TU LIS.
QUAND TU FERMES LE LIVRE ILS S’ENVOLENT
COMME D’UN PIÉGE
ILS N’ONT PAS D’ENDROIT
NI DE PORT
ILS SE NOURRISSENT POR UN INSTANT À CHAQUE PAIRE DE MAINS
ET ILS S’EN VONT
ET ALORS TU REGARDES CE VIDE DE TES MAINS
DANS LE MEIVEILLEUX ÉTONNEMENT DE SAVOIR
QUE SA NOURRITOURE ÉSTAIT DÉJÀ DANS TOI...
Mário Quintana
(Trad. Maria Petronilho)
domingo, janeiro 30, 2005
No tempo da brilhantina
Tudo o via embaçava
Só o nosso olhar brilhava
Da mais profunda tristeza
Quanta a conta acumulada
Na mercearia da esquina!
Se brilhava na cabeça
O fulgor de uma ideia
Derrubavam-nos a porta
Arrastavam-nos à força
Para a prisão e a tortura.
Por fora o que brilhava
Era a glória abestalhada
“Como vai V.ª Excelência?”,
E o tolo e o parolo
vergavam-se um ao outro
Que o povo botava um lenço
De lágrimas ensopado
Para acenar ao filho
No cais de onde o navio
O levava para a guerra.
Que guerra? Nem o sabia! Soía
Que uns terroristas nas matas,
Queriam as tais colónias
Antigas, que tresandavam.
Nos tempos da brilhantina
Eu de vestido engendrado
De outros postos de lado
Cozinhava, limpava, cozia
E depois de espancada
Com o cinturão do polícia
Ia adoçar limonada
A que vinha habituada
De Angola, a minha madrasta.
Quando enfim me recolhia
Mergulhava na leitura
Embrenhava-me na escrita
Que a muito custo passava
Até ao norte de África
Onde pela uma hora
Manuel Alegre dizia
"Aqui, Voz da Liberdade!"
E os horrores desvendava
E as mentiras mostrava
E os nossos versos lia...
Anos dourados havia,
Para a nação impostora
Retratada em cada sala
Um à esquerda, outro à direita
Com a cara inexpressiva.
No meio um Cristo pregado
Mantinha-se angustiando
Ao ver-nos sofrer tal vida!
Tudo o via embaçava
Só o nosso olhar brilhava
Da mais profunda tristeza
Quanta a conta acumulada
Na mercearia da esquina!
Se brilhava na cabeça
O fulgor de uma ideia
Derrubavam-nos a porta
Arrastavam-nos à força
Para a prisão e a tortura.
Por fora o que brilhava
Era a glória abestalhada
“Como vai V.ª Excelência?”,
E o tolo e o parolo
vergavam-se um ao outro
Que o povo botava um lenço
De lágrimas ensopado
Para acenar ao filho
No cais de onde o navio
O levava para a guerra.
Que guerra? Nem o sabia! Soía
Que uns terroristas nas matas,
Queriam as tais colónias
Antigas, que tresandavam.
Nos tempos da brilhantina
Eu de vestido engendrado
De outros postos de lado
Cozinhava, limpava, cozia
E depois de espancada
Com o cinturão do polícia
Ia adoçar limonada
A que vinha habituada
De Angola, a minha madrasta.
Quando enfim me recolhia
Mergulhava na leitura
Embrenhava-me na escrita
Que a muito custo passava
Até ao norte de África
Onde pela uma hora
Manuel Alegre dizia
"Aqui, Voz da Liberdade!"
E os horrores desvendava
E as mentiras mostrava
E os nossos versos lia...
Anos dourados havia,
Para a nação impostora
Retratada em cada sala
Um à esquerda, outro à direita
Com a cara inexpressiva.
No meio um Cristo pregado
Mantinha-se angustiando
Ao ver-nos sofrer tal vida!
O meu grito
Tal como um raio revela
A solerte cobardia
Que perfidamente intenta
Emaranhar a lisura
Em jogos de alvar intriga
Mas o meu grito desvenda
O pérfido estratagema
Do calculista na sombra
Que o meu grito estraçalha
Na caverna onde se acoita
A insensível luxúria
Rasgo a mudez do silêncio
E o meu grito se faz eco
E esse eco se faz canto
Alastrando no céu limpo
Verso a explícita brancura
E o meu grito desabrocha
Em flor! Borboleta que voa
Transluzindo na evidência
O claro esplendor da alma.
Tal como um raio revela
A solerte cobardia
Que perfidamente intenta
Emaranhar a lisura
Em jogos de alvar intriga
Mas o meu grito desvenda
O pérfido estratagema
Do calculista na sombra
Que o meu grito estraçalha
Na caverna onde se acoita
A insensível luxúria
Rasgo a mudez do silêncio
E o meu grito se faz eco
E esse eco se faz canto
Alastrando no céu limpo
Verso a explícita brancura
E o meu grito desabrocha
Em flor! Borboleta que voa
Transluzindo na evidência
O claro esplendor da alma.
quinta-feira, janeiro 27, 2005
Serenata
Que sonharia a moça
Que jazia solitária
Sobre a nua alva cama?
Quem atentaria nela?
Parecia que dormia
Nem as estrelas saberiam
Nem a lua infiltrada
Pelas dobras da cortina
De nada se tem certeza
Quando se olha de fora
Dormiria a bela alva?
Uma estátua parecia
Na penumbra desmaiada
Por onde vaguearia
Ninguém nunca saberia
Só a via a madrugada
Desprezara a sua vida
Que a si mesma sobrava
Com uma adaga enterrada
Em pétalas rubras a rosa
Sobre o nu lençol da vida
Em sangue se desfolhava.
Que sonharia a moça
Que jazia solitária
Sobre a nua alva cama?
Quem atentaria nela?
Parecia que dormia
Nem as estrelas saberiam
Nem a lua infiltrada
Pelas dobras da cortina
De nada se tem certeza
Quando se olha de fora
Dormiria a bela alva?
Uma estátua parecia
Na penumbra desmaiada
Por onde vaguearia
Ninguém nunca saberia
Só a via a madrugada
Desprezara a sua vida
Que a si mesma sobrava
Com uma adaga enterrada
Em pétalas rubras a rosa
Sobre o nu lençol da vida
Em sangue se desfolhava.
Foguetes!
As lágrimas caem do céu
e a gente olha esquecendo
que chora todos os dias
que ao menos junho
nos amorne o desepero
meu povo que sou eu
na beira abismo
mantendo a esperança
hasteada na janela
e viva a bola, a música e a sardinha
povo triste do meu fado
corrido
do barco pró autocarro
emprego tremido
sono inquieto
mas amanhã será feriado
por decreto
morremos de fome
mas olhamos o céu em pasmo
em lágrimas
fazemos ahhh como os meninos
apontando estrelas
vimos
inquietos desdormidos
contando cêntimos
os euros tão caros
tão curtos
enganosos
vivam pois os santos
que fazem o milagre
de abrir sorrisos nos rostos
ó pá olha que lindo
até o pedestal do Cristo
tem os arcos pintados de verde e vermelho
dêem-nos circo que o pão nos falta
deem à malta a ilusão da vitória
comprada
uma bandeira em todos os carros
parados à porta
que a gasolina está cara
que império manda agora
os nossos filhos para a guerra
numa colónia feita de areia
ardida
o povo entusiamado grita
portugal...! Portugal...! Portugal...!
pois pouco mais resta
que ser-se patriota!
As lágrimas caem do céu
e a gente olha esquecendo
que chora todos os dias
que ao menos junho
nos amorne o desepero
meu povo que sou eu
na beira abismo
mantendo a esperança
hasteada na janela
e viva a bola, a música e a sardinha
povo triste do meu fado
corrido
do barco pró autocarro
emprego tremido
sono inquieto
mas amanhã será feriado
por decreto
morremos de fome
mas olhamos o céu em pasmo
em lágrimas
fazemos ahhh como os meninos
apontando estrelas
vimos
inquietos desdormidos
contando cêntimos
os euros tão caros
tão curtos
enganosos
vivam pois os santos
que fazem o milagre
de abrir sorrisos nos rostos
ó pá olha que lindo
até o pedestal do Cristo
tem os arcos pintados de verde e vermelho
dêem-nos circo que o pão nos falta
deem à malta a ilusão da vitória
comprada
uma bandeira em todos os carros
parados à porta
que a gasolina está cara
que império manda agora
os nossos filhos para a guerra
numa colónia feita de areia
ardida
o povo entusiamado grita
portugal...! Portugal...! Portugal...!
pois pouco mais resta
que ser-se patriota!
Minha Lisboa/Lisboa Mía
É uma cidade ancorada
talvez fosse uma jangada
É uma cidade tecida
de ruelas e escadinhas
unindo as sete colinas
É um bordado de pedra
onde o coração flutua
cintila entre mar e Tejo
onde se enleia e espelha
onde terra, mar e céu
se casaram, nasci eu
e ainda que sendo dela
ergo os estendais qual vela
e adentro como asa branca
a aura de céu cor de rosa
buscando outra ventura
Lisboa, 27/1/2005
Lisboa Mía
Maria Petronilho
Versão em espanhol: Alberto Peyrano
Es una ciudad anclada
tal vez fuese una jangada
Es una ciudad tejida
en escaleras, callejas
uniendo siete colinas
Es un bordado de piedra
donde el corazón navega
brilla entre el Tajo y el mar
donde se enreda y refleja
donde tierra, cielo y mar
se casaron, nací yo
y aún siendo tan de ella
me despliego como vela
y vuelo como ala blanca
a su aura color rosa
buscando felicidad.
É uma cidade ancorada
talvez fosse uma jangada
É uma cidade tecida
de ruelas e escadinhas
unindo as sete colinas
É um bordado de pedra
onde o coração flutua
cintila entre mar e Tejo
onde se enleia e espelha
onde terra, mar e céu
se casaram, nasci eu
e ainda que sendo dela
ergo os estendais qual vela
e adentro como asa branca
a aura de céu cor de rosa
buscando outra ventura
Lisboa, 27/1/2005
Lisboa Mía
Maria Petronilho
Versão em espanhol: Alberto Peyrano
Es una ciudad anclada
tal vez fuese una jangada
Es una ciudad tejida
en escaleras, callejas
uniendo siete colinas
Es un bordado de piedra
donde el corazón navega
brilla entre el Tajo y el mar
donde se enreda y refleja
donde tierra, cielo y mar
se casaron, nací yo
y aún siendo tan de ella
me despliego como vela
y vuelo como ala blanca
a su aura color rosa
buscando felicidad.
Desespero/Desesperación
Onde está a minha força,
o meu orgulho altaneiro?
Perante Ti sou cordeiro.
Sinto invadir-me inteiro
aquele estado de alma
de nada qu'rer tudo qu'rendo
Em vão, em vão, em vão...
Os braços Te estendo
sobre corpo e alma os fecho
vazios de todos, de tudo
triste, inertes os desço.
À porta bate o desespero:
renego o impulso e retomo
a ténue vereda da esperança
vagueio por entre o fumo
sigo trôpega o caminho,
aquele onde Te procuro
aquele aonde recuso
perder minha fé em tudo!
Desesperación
Maria Petronilho
Versão em español: Alberto Peyrano
Dónde está mi fuerza,
mi orgullo altanero?
Delante de Ti soy cordero.
Siento que me invade entero
aquel estado del alma
de nada querer... queriendo todo.
En vano, en vano, en vano...
Los brazos Te extiendo
sobre cuerpo y alma los cierro
vacíos de todos, de todo.
Triste, inertes los bajo.
A mi puerta llama la desesperación:
reniego el impulso y retomo
de la esperanza el tenue sendero
deambulo entre el humo,
torpe, en el camino
aquel donde Te procuro,
aquél donde rehúso
perder mi fe en todo!
13/4/2003
Onde está a minha força,
o meu orgulho altaneiro?
Perante Ti sou cordeiro.
Sinto invadir-me inteiro
aquele estado de alma
de nada qu'rer tudo qu'rendo
Em vão, em vão, em vão...
Os braços Te estendo
sobre corpo e alma os fecho
vazios de todos, de tudo
triste, inertes os desço.
À porta bate o desespero:
renego o impulso e retomo
a ténue vereda da esperança
vagueio por entre o fumo
sigo trôpega o caminho,
aquele onde Te procuro
aquele aonde recuso
perder minha fé em tudo!
Desesperación
Maria Petronilho
Versão em español: Alberto Peyrano
Dónde está mi fuerza,
mi orgullo altanero?
Delante de Ti soy cordero.
Siento que me invade entero
aquel estado del alma
de nada querer... queriendo todo.
En vano, en vano, en vano...
Los brazos Te extiendo
sobre cuerpo y alma los cierro
vacíos de todos, de todo.
Triste, inertes los bajo.
A mi puerta llama la desesperación:
reniego el impulso y retomo
de la esperanza el tenue sendero
deambulo entre el humo,
torpe, en el camino
aquel donde Te procuro,
aquél donde rehúso
perder mi fe en todo!
13/4/2003
Enfim Poeta e Mulher/
Maria Petronilho
Espero merecer morrer
num dia de intenso sol
sem ninguém se aperceber
que a minha alma se vai
presa num dos tantos raios
que ligam a terra e o céu
e que alfim me guiarão
para um espaço além dor
para um lugar só de amor
onde poderei ousar
ser poeta e mulher
sem ninguém me estranhar
num lugar onde não cabem
arrogância e poder
ao resto de mim que ficar
não importa o acontecer
não será meu sequer
será resto a fecundar
o chão donde há-de nascer
nova vida a luzir
o eu que sou há-de estar
num cosmos a acordar
sem ninguém me censurar
o ser poeta e mulher!
Lisboa, 27/1/2004
Al Fin Poeta y Mujer
Versão em espanhol: Alberto Peyrano
Espero merecer morir
un día de intenso sol
sin que nadie se dé cuenta
que mi alma ya se va
abrazada de algún rayo
que liga la tierra al cielo
y que al final me guiará
muy distante del dolor
hacia el reino del amor
donde al fin me atreveré
a ser poeta y mujer
sin que ninguno me extrañe
un lugar donde no caben
ni arrogancia ni poder
y a lo que de mí va a quedar
no importa lo que suceda
pues eso no seré yo
será un resto que fecunda
el suelo para dar más
nueva vida y nueva luz
lo que yo soy ha de estar
en el cosmos despertando
sin que nadie me censure
si soy poeta y mujer!
Lisboa, 27/1/2004
Maria Petronilho
Espero merecer morrer
num dia de intenso sol
sem ninguém se aperceber
que a minha alma se vai
presa num dos tantos raios
que ligam a terra e o céu
e que alfim me guiarão
para um espaço além dor
para um lugar só de amor
onde poderei ousar
ser poeta e mulher
sem ninguém me estranhar
num lugar onde não cabem
arrogância e poder
ao resto de mim que ficar
não importa o acontecer
não será meu sequer
será resto a fecundar
o chão donde há-de nascer
nova vida a luzir
o eu que sou há-de estar
num cosmos a acordar
sem ninguém me censurar
o ser poeta e mulher!
Lisboa, 27/1/2004
Al Fin Poeta y Mujer
Versão em espanhol: Alberto Peyrano
Espero merecer morir
un día de intenso sol
sin que nadie se dé cuenta
que mi alma ya se va
abrazada de algún rayo
que liga la tierra al cielo
y que al final me guiará
muy distante del dolor
hacia el reino del amor
donde al fin me atreveré
a ser poeta y mujer
sin que ninguno me extrañe
un lugar donde no caben
ni arrogancia ni poder
y a lo que de mí va a quedar
no importa lo que suceda
pues eso no seré yo
será un resto que fecunda
el suelo para dar más
nueva vida y nueva luz
lo que yo soy ha de estar
en el cosmos despertando
sin que nadie me censure
si soy poeta y mujer!
Lisboa, 27/1/2004
terça-feira, janeiro 18, 2005
No silêncio negro
Maria Petronilho
No silêncio negro da noite
Eles lutam
Passam calados, em fila,
Sofrendo.
No silêncio negro da noite
Eles escrevem
E as paredes brancas
Ficam reflectindo a ânsia
Dos corações subjugados.
No silêncio negro da Situação
Marchamos.
Na degradação total,
Passamos calados
Lutando na noite
* * *
En el silencio negro
En el silencio negro de la noche
Ellos luchan
Pasan callados, en fila,
Sufriendo.
En el silencio negro de la noche
Ellos escriben
Y las paredes blancas
Quedan reflejando el ansia
De los corazones subyugados.
En el silencio negro de la Situación
Marchamos.
En la degradación total,
Pasamos callados
Luchando en la noche.
* * *
Maria Petronilho
(versão em español: Alberto Peyrano)
Maria Petronilho
No silêncio negro da noite
Eles lutam
Passam calados, em fila,
Sofrendo.
No silêncio negro da noite
Eles escrevem
E as paredes brancas
Ficam reflectindo a ânsia
Dos corações subjugados.
No silêncio negro da Situação
Marchamos.
Na degradação total,
Passamos calados
Lutando na noite
* * *
En el silencio negro
En el silencio negro de la noche
Ellos luchan
Pasan callados, en fila,
Sufriendo.
En el silencio negro de la noche
Ellos escriben
Y las paredes blancas
Quedan reflejando el ansia
De los corazones subyugados.
En el silencio negro de la Situación
Marchamos.
En la degradación total,
Pasamos callados
Luchando en la noche.
* * *
Maria Petronilho
(versão em español: Alberto Peyrano)
Dentro de minha alma
Florescendo ainda
Ergue-se um ramo
De nova enxertia
Dentro de minha alma
A flor que devia
Estar pálida e nua
Se ergue renascida.
Dentro de mim soa
Um hino de esperança
Que vibra no vento
Dentro de minha alma
Reluz a fagulha
Que irrompe da sombra
E sobe e crepita
Em meu canto voa!
Lisboa, 22/3/2004
Dans Mon Âme
Fleurissant encore
Se lève une branche
De nouvelle entière
Dans mon âme
La fleur que devrais
Être pâle et nue
Se lève rentrée
Dans mon âme sonne
Un hymne d’espoir
Qui pince le vent
Dans mon âme
Reluit l’étincelle
Que pousse de l’ombre
Et monte et crépite
Dans mon chant s’en vole !
Lisboa, 23/3/2004
Florescendo ainda
Ergue-se um ramo
De nova enxertia
Dentro de minha alma
A flor que devia
Estar pálida e nua
Se ergue renascida.
Dentro de mim soa
Um hino de esperança
Que vibra no vento
Dentro de minha alma
Reluz a fagulha
Que irrompe da sombra
E sobe e crepita
Em meu canto voa!
Lisboa, 22/3/2004
Dans Mon Âme
Fleurissant encore
Se lève une branche
De nouvelle entière
Dans mon âme
La fleur que devrais
Être pâle et nue
Se lève rentrée
Dans mon âme sonne
Un hymne d’espoir
Qui pince le vent
Dans mon âme
Reluit l’étincelle
Que pousse de l’ombre
Et monte et crépite
Dans mon chant s’en vole !
Lisboa, 23/3/2004
Da alma ante o corpo perdido
Ainda retenho o peso
Do corpo de que fui esteio
A vida ainda me enrola
Como embrulhada na onda
E a razão ainda não depara
O desopressão da mágoa
Ando ainda numa busca
Vagueio como fantasma
Que ainda não acredita
Que se encontra noutra vida
Meu pobre corpo coberto
De algas e de entulho
Putrefacto, inabitado
Jaze onde foi engolido
Já sem os esgares do medo
Mas eu, que ainda divago
Comprovo quanto é insano
E absurdo o ser humano
Eu, que a tudo pertenço
Pois sou átomo suspenso
De pavor empalideço
Subi do fundo do abismo
Fui cuspida do meu fruto
Mas preciso de mais tempo
Para ser de novo rebento
Re-habitar este solo
Aonde o alimento
É tão mal distribuído
Agora, vejo o engano
Em que me forcei sem ganho
pois nada sendo, sou tudo
Ainda retenho o peso
Do corpo de que fui esteio
A vida ainda me enrola
Como embrulhada na onda
E a razão ainda não depara
O desopressão da mágoa
Ando ainda numa busca
Vagueio como fantasma
Que ainda não acredita
Que se encontra noutra vida
Meu pobre corpo coberto
De algas e de entulho
Putrefacto, inabitado
Jaze onde foi engolido
Já sem os esgares do medo
Mas eu, que ainda divago
Comprovo quanto é insano
E absurdo o ser humano
Eu, que a tudo pertenço
Pois sou átomo suspenso
De pavor empalideço
Subi do fundo do abismo
Fui cuspida do meu fruto
Mas preciso de mais tempo
Para ser de novo rebento
Re-habitar este solo
Aonde o alimento
É tão mal distribuído
Agora, vejo o engano
Em que me forcei sem ganho
pois nada sendo, sou tudo
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